À luz das conversações entre o Vaticano e a Sociedade de São Pio X, recentemente houve muitos artigos na mídia católica tradicional sobre liberdade religiosa e Dignitatis Humanae (DH). Os críticos geralmente opõem a tentativa de reconciliar o DH com o catolicismo tradicional. Embora a Igreja sempre tenha sustentado que a manifestação pública de falsas religiões poderia ser tolerada em circunstâncias excepcionais, DH afirma que as pessoas devem receber um "direito civil" positivo para praticar publicamente e propagar toda e qualquer religião, dentro dos limites devidos. Daí a liberdade religiosa do Vaticano II.
Jesuíta americano Courtney Murray, um dos inspiradores da Dignitatis Humanae |
Aqui estão as frases-chave na DH tiradas do site do próprio Vaticano: "Ninguém seja forçado a agir contra a própria consciência, nem impedido de proceder segundo a mesma, em privado e em público, só ou associado com outros, dentro dos devidos limites." (1) Este direito da pessoa humana à liberdade religiosa na ordem jurídica da sociedade deve ser de tal modo reconhecido que se torne um direito civil." (2)
As consequências da doutrina da DH sobre a liberdade religiosa são tão graves que parece haver relutância dos críticos em confrontar o quadro geral - eles não querem ver a floresta, ou se recusam a reconhecê-la, mas se concentram nas árvores.
A posição do documento sobre a liberdade religiosa repudia vergonhosamente o Primeiro Mandamento do Antigo Testamento legalizando a adoração de falsos deuses. Também essencialmente neutraliza o ensino do Novo Testamento de que a salvação é conseguida somente através de Jesus Cristo. Além disso, DH representa uma renúncia a quaisquer direitos e deveres espirituais ou morais que , por Direito Divino, a Igreja tenha sobre o Estado, visto que Jesus Cristo é o Rei dos reis e o Senhor dos senhores. Estas não são meras descontinuidades com tradição, ou desenvolvimentos legítimos da doutrina; são apostasias.
Mesmo o Estado confessional católico fica sem força quando a DH afirma: Se, em razão das circunstâncias particulares dos diferentes povos, se atribui a determinado grupo religioso um reconhecimento civil especial na ordem jurídica, é necessário que, ao mesmo tempo, se reconheça e assegure a todos os cidadãos e comunidades religiosas o direito à liberdade em matéria religiosa. (3)
É por isso que, em consequência do Concílio, as concordatas entre o Vaticano e as poucas nações que ainda professavam oficialmente a Religião Católica foram modificadas para permitir direitos civis iguais às outras religiões e deuses. Dessa maneira, o Concílio tentou enterrar definitivamente a Cristandade.
Sobre esta questão um escritor afirmou que a permissão dada à prática pública das falsas religiões "dentro dos limites devidos" é a “graça salvadora da DH”. Ele espera que aplicando isso às conversações entre o Vaticano e a Fraternidade São Pio X, o papa esclarecerá esses limites variáveis e mutáveis. (4)
Mas como podem limites devidos ser aplicados ao culto público de falsos deuses, em termos de um direito positivo? A verdadeira Igreja nunca poderia admitir um direito civil dentro dos "limites devidos" de desobedecer o primeiro e maior mandamento, a fim de permitir a adoração de demônios e ídolos, novamente, está faltando ver a floresta e admitir a gravidade daquilo que DH propõe.
Uma gota de veneno
Papa Leão XIII em sua Encíclica Satis Cognitum (5) alertou sobre a necessidade de guardar a integridade da Fé contra aqueles que diferem em qualquer ponto da verdadeira doutrina da Igreja. Mesmo se admitirem todo o ciclo da doutrina, "por uma palavra, com uma gota de veneno," poderão infectar a Fé Apostólica.
Como Napoleão, acima, o Vaticano II permite que qualquer pessoa adore um 'Ser Supremo' |
A DH é um exemplo perfeito daquilo contra o que o Papa Leão alertou. Ela presta reverência à Divina Ordem e à única Religião verdadeira que é a Igreja Católica ... mas afirma que a Igreja Católica "subsiste" na Igreja de Cristo. É um documento repleto de truísmos e superficialidades que ninguém deveria ser coagido a adotar.
Encontramos o veneno sutilmente administrado na primeira seção da DH: Ora, visto que a liberdade religiosa, que os homens exigem no exercício do seu dever de prestar culto a Deus, diz respeito à imunidade de coação na sociedade civil, em nada afeta a doutrina católica tradicional acerca do dever moral que os homens e as sociedades têm para com a verdadeira religião e a única Igreja de Cristo. Além disso, ao tratar desta liberdade religiosa, o sagrado Concílio tem a intenção de desenvolver a doutrina dos últimos Sumos Pontífices acerca dos direitos invioláveis da pessoa humana e da ordem jurídica da sociedade. (6)
A doutrina tradicional, que os homens e as sociedades têm um dever moral para com a verdadeira Religião e a Igreja é admitida. Depois, lemos na próxima linha "Acima de tudo isso…"
Em outras palavras, acima, para além, e em adição a esta doutrina, o Concílio "desenvolverá" outra doutrina - a dos "direitos" do homem e das sociedades. DH então caminha para superar e substituir a doutrina do dever moral de estados e indivíduos em relação à verdadeira Religião Católica e suas doutrinas tradicionais, por sua recém-nascida doutrina da liberdade religiosa.
É uma pequena gota de veneno, apenas algumas palavras: "Acima de tudo isso..." "Além e acima" na versão em inglês do Vaticano a qual provém do Latin "insuper" o texto oficial da DH em língua latina, palavra que de acordo com o dicionário on-line da Universidade de Notre Dame significa: "acima, nas nuvens; além de, somado a isso, paralelo a isso." (7)
1. Declaração sobre Liberdade Religiosa, Dignitatis Humanae, 7 de dezembro de 1965, www.vatican.va, Seção 2, parágrafo 1.
2. Ibid., Seção 2, parágrafo 2.
3. Ibid., Seção 6, parágrafo 4.
4. John Salza, J.D., http://www.remnantnewspaper.com/Archives/2009-1115-salza-vaticansspx_discussion.htm
5. Leão XIII, Papa, Encíclica Satis Cognitum, 29 de junho de 1896, www.vatican.va.
6. Dignitatis Humanae, Seção 1, parágrafos 4, 5.
7. Dicionário Latino-Americano e Gramática, Universidade de Notre Dame, http://archives.nd.edu/latgramm.htm.
Postado em 17 de julho de 2019
Este artigo foi publicado pela primeira vez na
edição de março de 2010 da revista Christian Order.
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