A Rendição de Breda
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Uma das pinturas famosas de Velasquez, o pintor espanhol do século 17, é A Rendição de Breda. Quando eu era menino, entrei em uma loja com gravuras de arte e me deparei com uma foto desse incidente histórico. Fiquei imediatamente cativado por isso. Depois de contemplar a cena por algum tempo, pensei: "Gostaria de ter essa foto para passar horas olhando e admirando!"
É de fato uma tela magnífica, não só pela riqueza pictórica que bem demonstra o talento excepcional do mestre, mas também pela bela expressão dos valores morais que retrata.
O episódio está soberbamente imortalizado: o Marquês de Spinola, comandante das tropas do Rei Filipe II, recebe das mãos de Justino van Nassau, defensor de Breda, as chaves da cidade, que se rendeu em 25 de junho de 1625, após um intrépida resistência.
O General do Rei Católico está vestindo uma armadura impressionante; um colar de renda dá-lhe uma nota de amenidade, reforçada pela faixa grande normalmente usada por um comandante em chefe. Na mão esquerda, nota-se a batuta do Marshall. O conquistado general Justino von Nassau também tem um rico traje, com gola e punhos de renda ornamentada.
A cena se passa no campo em um ambiente estritamente militar que inclui tropas, armas na mão. Não obstante, o encontro tem uma nota de distinção e afabilidade sugestiva de uma cena de salão de baile. Justinus van Nassau, já derrotado, apresenta-se de chapéu na mão e levemente curvado ao entregar as chaves da cidade. Spinola, por respeito ao valente adversário, também tem a cabeça descoberta. Atrás dele, os cavaleiros de sua comitiva o imitam.
Pode-se ver que o vencedor se inclina ligeiramente para a frente e com uma mão restringe respeitosamente a reverência do nobre holandês; seu semblante está impregnado de simpatia e consideração. Percebe-se que ele está parabenizando seu oponente pela brilhante resistência, aliviando assim com arrogância a amargura do ato de rendição que está fazendo.
Toda uma doutrina de cortesia, toda uma tradição de nobreza de alma, expressa-se nos detalhes discretos, mas eloquentes deste quadro notável. Uma elevação de alma que vem da fé, uma cortesia nascida da caridade, que faz resplandecer valores espirituais inestimáveis num ato que é, em si mesmo, inevitavelmente duro e humilhante, como qualquer entrega.
É interessante notar que a faixa cor-de-rosa claro – quase lilás – que adornava o peitoral do general espanhol era uma lembrança do véu da morte, já que os líderes militares daquela época partiam para o combate tendo em mente que poderiam morrer, sacrificando suas vidas pela causa de seu país.
Assim, este homem se apresenta no local onde sua coragem e vitória serão reconhecidas, vestindo no peito o símbolo de seu véu. Ele não treme nem hesita, e se mantiver uma postura de triunfo e bondade, isso não seria possível, a meu ver, sem uma ação especial de graça. Pois atitudes como essa só são possíveis no âmbito do sobrenatural que confere luz e esplendor à Civilização Cristã.
Traduzido do Catolicismo, novembro de 1956
Postado em 27 de junho de 2022
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