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Cheiro de heresia na missa de Paulo VI

Rogério César Pereira Gomes
A Lumen gentium afirma que “o sacerdócio comum dos fiéis e o sacerdócio ministerial ou hierárquico se ordenam mutuamente… embora difiram em essência e não apenas em grau, cada um deles, de modo particular, é uma participação no único sacerdócio de Cristo.” (LG 10)

Mas há também um significado heterodoxo subjacente no Concílio Vaticano II (1962-1965), conforme explicado abaixo.

Last Supper

A Última Ceia foi feita na festa
da Páscoa judaica

A Missa é a reconstrução da Páscoa israelita do Antigo Testamento (1), uma cerimônia que comemora o dia em que Deus libertou os israelitas da escravidão no Egito. A Paixão e a Morte do Messias são a Nova Páscoa da Nova Aliança pela qual os fiéis são salvos da escravidão do pecado e entram de novo na terra prometida, a Igreja Católica que os conduz à salvação eterna, o Céu.

Ao consagrar o pão e o cálice na Última Ceia e instruir Seus Apóstolos a repetirem este ato como memorial do Sacrifício da Cruz, Nosso Senhor estabeleceu a celebração da Santa Missa como a Nova Páscoa.

Segundo o ensinamento tradicional da Igreja, o Sacrifício é feito apenas por um sacerdote.

Agora, segundo o Concílio, esse conceito mudou: é uma assembleia de batizados - presidida por um oficial qualificado da Igreja - que recorda o nascimento, a vida, a paixão, a morte e a ressurreição de Jesus Cristo.

A Missa foi transformada. Agora é uma “refeição” litúrgico-eucarística (1Cor 11, 21) na qual é a comunidade que celebra. Há uma diferença nuclear entre o sacerdócio Lumen gentium comum dos fiéis e a ideia tradicional de que apenas um membro do clero (Ordenado) pode celebrar a Missa.

Tal contestação é expressa na Missa Reformada do Mons. Annibale Bugnini e seus luteranos cartagineses, seguindo a orientação da Constituição “Sacrosanctum Concilium” sobre a liturgia (2). A Missa que dele resultou foi oficializada em 30 de novembro de 1969 por Paulo VI em seu discurso para uma audiência geral sobre o Ordo Missae.

Annibale Bugnini

Mons. Annibale Bugnini com Paulo VI, os dois mentores da Nova Missa

As ambiguidades do texto da Sacrosanctum Concilium que estão na raiz dessa contestação foram apontadas pelo incomparável estudioso conciliar Atila Sinke Guimarães:

“Mais uma vez, os resultados desastrosos são evidentes no que diz respeito às ambiguidades dos textos da Constituição Sacrosanctum Concilium, bem como da reforma litúrgica e dos documentos de 1969-1970 sobre a Missa.” (3)

Num resumo cauteloso de uma linha, o teólogo franciscano progressista Boaventura Kloppenburg reconheceu que o Concílio de João XXIII e Paulo VI insinuou a ideia de uma igualdade eclesial entre o clero e o laicato: “A teologia do leigo parece ter colocado a teologia do padre em crise.” Esta é uma concepção notoriamente hipertrofiada do “sacerdócio comum” dos fiéis. (4)

Em 1993, o futuro Cardeal alemão Walter Kasper confirmou esta interpretação progressista:

“A crise do sacerdócio na Igreja Católica tem múltiplas causas… No fundo desta crise, sem dúvida, encontramos a acentuação da eclesiologia do povo de Deus, realizada pelo próprio Concílio Vaticano II, que mostra claramente a realidade do comum sacerdócio de todos os batizados. Dava-se um valor excessivo à vocação específica dos cristãos leigos.” (5)

Esta deformação eclesiástica resultou em novos conceitos como a “concelebração com o povo,” que antes era “considerado como espectador” sem o direito de “participação plena, consciente e ativa.” (SC, 54, 48, 14)

De fato, a liturgia ortodoxa, o silêncio respeitoso, os modos dignos de agir e vestir tendem a levar o povo a compreender os mistérios da liturgia.

No Missal Romano, a tradução da língua latina e as numerosas notas explicativas fornecem apenas uma compreensão puramente intelectual do que estava acontecendo.

A princípio, um acólito, um leigo - representando o povo - respondia ao celebrante (6); depois foram dadas respostas participativas por toda a congregação, às quais se acrescentou uma confissão coletiva dos leigos. (7)

Ontem, o padre ficou entre o crucifixo/tabernáculo e os leigos, afirmando simbolicamente que ele era uma autoridade credenciada e representante de Deus.

Hoje, dirige-se ao povo, insinuando que o primado sacerdotal é uma dignidade sociológica e ele é um mero representante da comunidade.

O cheiro da heresia

Assim nasceu o diálogo contínuo das duas partes: os leigos leem o Evangelho, pregam a homilia, distribuem a comunhão, colocam a hóstia na boca como se fossem o sacerdote.

As notas reminiscentes, narrativas e comemorativas do antigo “banquete pascal” (SC) de outrora foram acentuadas na nova liturgia, sugerindo metodicamente que a Missa é, pura e simplesmente, uma refeição memorial religiosa cristã.

Em última análise, a vaga refeição espiritual na enfatizada “mesa de Deus” (SC, 51 – parágrafo 605) serviu para selar “o encontro com Cristo,” sem referência ao caráter sacrificial da Missa.

Protestant service

A Missa Novus Ordo foi modelada após o culto protestante, acima

Nesse contexto, não faz sentido que o convidado principal do banquete esteja de costas para os demais comensais; além disso, seria ilógico e extravagante um convidado jejuar e estranhamente desfrutar da refeição ajoelhado, de acordo com a bela tradição que precedeu o Concílio Vaticano II.

Esse processo de protestantização da Missa ficou claramente refletido nos cinco dados a seguir:
  • Dispensando o título de “Santos” quando se refere aos Evangelistas, (8) com base na Constituição Dogmática Dei Verbum (DV, 18);

  • As vestes do padre tornaram-se semelhantes às do “pastor” protestante;

  • O antigo esplendor da liturgia foi empobrecido para favorecer o espírito igualitário protestante;

  • Daí o “encorajar as aclamações do povo” e os novos “gestos e porte do corpo” igualitários (SC, 30);

  • Uma reunião de caráter “mundano” (9), para falar de eventos paroquiais e sociais, contrariando a vigilância ensinada no passado (I Jo 5,19; Ap 21,27) e endossada pela bimilenar literatura moral católica.
A evolução heterodoxa em curso da “celebração comunitária” (SC, 21) implica a negação da perpetuação real e perene do Sacrifício Eucarístico tradicional, união perfeita do Cristo sacerdote e da sua Esposa a Igreja.

Em suma, hoje o celebrante da missa tornou-se apenas o ministro que faz parte do sacerdócio comum.

  • 1. “É o sacrifício da Páscoa, em honra do Senhor” (Êx 12,27).
  • 2. 3. 5. 9. Atila Sinke Guimarães, Nas águas turvas do Concílio Vaticano II, São Paulo: Scor Editora Tecci, 1999, vol. I, pp. 184-186, 249, 305, 262.
  • 4. A Eclesiologia do Vaticano II, Petrópolis: Vozes, 1971, p. 53.
  • 6. 7. 8. Dom Beda Keckeisen, OSB. Missal Cotidiano, Salvador: Tipografia Beneditina Ltda., 1949, pp. 1, 3, 29.
Postado em 22 de fevereiro de 2023

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