O que está por trás do renascimento do gótico?

Prof. Plinio Corrêa de Oliveira

Sobre os três limiares da Catedral de Orvieto, que começamos a analisar no último artigo, pudemos observar as cenas do Batismo de Nosso Senhor, à esquerda, da Natividade de Nossa Senhora, à direita, e da Assunção de Nossa Senhora, ao centro.

Vimos o intrincado trabalho detalhado em pedra nas pequenas colunas, o vitral de rosas, o grande quadrado que o cerca, as bordas, as peças, a decoração floral no topo.

Os homens que fizeram esse trabalho não estavam com pressa para terminar ou serem aplaudidos; eles morreram em paz diante de uma catedral inacabada, certos de que as gerações futuras a completariam.

Parece-me que esta igreja, como muitas outras, não pode ser censurada em nada a respeito de sua beleza. Não acredito que alguém possa ter reservas sobre isso. Pode-se preferir esta ou aquela igreja - depende do gosto de cada um - mas não acho que seja possível criticar esta Catedral por nada em sua beleza.

Isso nos leva a uma consideração lateral que tem importância no campo da Revolução nas tendências e na História. Como foi possível que os homens se tornassem tão próximos da beleza desse estilo gótico que, por séculos, esse gênero de edifícios parou de ser construído?

O gótico foi substituído em igrejas, mosteiros, abadias, edifícios públicos e residências privadas pelo estilo romano clássico com seus arcos semicirculares banais e suas linhas retas simples e comuns nos pórticos. O gótico deixou de ser escolhido; foi rejeitado e deixado de lado por séculos.

Acima, anjos de Rafael;
abaixo, de Fra Angelico

Outro dia assistimos a um documentário sobre Pio XII e o vimos passando em frente a muitas tapeçarias e pinturas de Rafael representando anjos. Seria ridículo não reconhecer talento nas obras de Rafael.

Mas durante o filme, eu me perguntava: “Por que o homem que produziu essas peças ignorou completamente os anjos de Fra Angelico?”

Tudo o que a Idade Média nos deixou como um rico legado em matéria de anjos foi esquecido em favor daquelas figuras gordinhas e não combativas de jovens ou crianças ansiosas por aproveitar a vida que o Renascimento nos deu para representar anjos.

Além disso, quando o filme captou aspectos da Basílica de São Pedro – aspectos belos e imponentes – pensei: “Por que não o gótico?” Se a Basílica de São Pedro tivesse sido concebida no estilo da Catedral de Orvieto, que monumento extraordinário ela poderia ter sido!

Então, o que aconteceu com aqueles homens de gênio indiscutível, os grandes artistas do Renascimento, que os fizeram abandonar o caminho gótico? Por que eles resolveram decolar do pó das ruínas e restaurar uma Antiguidade que o cristianismo havia destruído?

Como sabemos, o gótico foi enterrado no esquecimento durante todo o período do Antigo Regime na França. Simultaneamente, em outros países, os estilos barroco e rococó foram adotados.

Vamos imaginar que no Renascimento, um grupo de contrarrevolucionários em Orvieto tivesse decidido, como uma reação contra o estilo clássico, reunir todas as pessoas que admiravam sua catedral. Eles se reuniriam frequentemente para discutir e elogiar aquela magnífica obra de arte e disseminar suas ideias com o objetivo de atrair outras pessoas de mente semelhante.

Depois de muitos anos desse esforço, cerca de 50 pessoas entusiasmadas formariam o núcleo do movimento e cerca de 1.000 teriam uma vaga simpatia por ele; pessoas que olhariam para a Catedral e diriam com uma nostalgia sorridente e sonolenta: "É tão linda!" Se isso fosse fruto desse trabalho duro, diríamos que o gótico havia morrido na história da admiração humana.

Bem, a Revolução Francesa explodiu, seguida pelo Diretório e depois Napoleão; os Bourbons retornaram e a História continuou. Mais ou menos na mesma época da restauração dos Bourbons – se é coincidência ou não, não sei – o gosto pelo gótico renasceu em quase toda a Europa.

Como se sabe, o Conselho de Estado do Rei Luís XVI havia decretado a demolição da Catedral de Notre-Dame para construir uma igreja no estilo grego, considerado na época o único estilo digno da Catedral de Paris; o gótico era considerado indigno…

Por uma dessas ironias da História, foi a Revolução Francesa que salvou Notre-Dame. Aqueles bandidos, na ânsia de sempre fazer o oposto do que o Rei queria, mantiveram a Catedral de Notre-Dame como estava. Foi isso que salvou Notre-Dame de ser arrasada.

Depois dos crimes de Robespierre, Danton e Marat, depois do canto do Ça ira, Carmagnole e Marseillaise pelo povo, depois do rugido dos canhões de Napoleão, que mudou a velha ordem em toda a Europa, um estado de espírito diferente emergiu, um que era simpático ao gótico.

Catedral de São Patrício, Nova York

Então, inúmeros monumentos góticos foram restaurados, estudos sobre o gótico floresceram, edifícios no estilo gótico foram construídos, não apenas na Europa, mas também nas Américas. Por exemplo, temos a Catedral de St. Patrick na cidade de Nova York, a bela Catedral de Notre-Dame de Quebec, a menos bela Catedral de São Paulo etc.

Podemos encontrar muitas pequenas igrejas góticas em nosso país onde na época da Idade Média apenas aborígenes viviam.

Vê-se que era um estado de espírito que renasceu de uma única varredura de um novo vento, algo que grupos de contrarrevolucionários não poderiam ter alcançado em décadas de trabalho.

Eles teriam lutado com lógica e bons argumentos, e isso em si teria sido uma coisa linda. Mas, seus frutos seriam pequenos por causa da perda de horizontes na mente humana que tornou as pessoas insensíveis ao charme do gótico.

Então, após os grandes traumas causados pela Revolução, na alma humana uma nota-chave mudou e as pessoas se entusiasmaram com o gótico mais uma vez. Que fator causou essa mudança, que a longa luta de pessoas boas não conseguiu alcançar?

Acredito que foi devido a uma graça.

É comum atribuir o renascimento do gótico ao movimento do romantismo. No século XIX, o Romantismo era uma escola filosófica com ramos morais e artísticos que espalhavam uma sensibilidade e um gosto pelas artes.

Acredito que, na verdade, o Romantismo foi uma deformação de uma imensa graça que, após a Revolução Francesa, desceu sobre a Europa e o Ocidente, que deveria retornar os homens ao bom caminho.

Essa graça foi meio aceita e meio desviada pelo Romantismo, que se tornou uma espécie de caricatura dessa graça. Um santo que defendeu os lados bons do Romantismo e combateu seus lados ruins foi São Clemente Maria Hofbauer (1751-1829).

Parte de seu apostolado se desenrolou em Viena e no sul da Alemanha. Seria necessário estudarmos sua vida para ver os aspectos bons do Romantismo e entender essa graça.

Poderíamos incluir nesta graça também a restauração do tomismo, que tinha sido quase completamente rejeitado e foi restaurado pela Encíclica Aeterni Patris de Leão XIII.

Estes são alguns comentários laterais sobre a Catedral de Orvieto.

Agora, vamos fechar com outra foto desta magnífica estrutura gótica.

Vista de lado, pode-se perceber sua beleza de outro ângulo. A luz dos mosaicos frontais não brilha mais, mas há outra forma de beleza: não é o brilho da beleza gótica, mas uma representação da nobreza de sua beleza, que não é proclamada, mas insinuada.