Questões Tradicionalistas
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
Missa de Diálogo - LXXXVI
A descoberta da Santa Cruz
Consideraremos agora a remoção da festa da Descoberta da Santa Cruz (3 de maio) do Calendário Romano Geral em 1960. A Verdadeira Cruz – a Cruz histórica na qual nosso Salvador morreu – é, claro, a mais altamente valorizada de todas as relíquias porque foi o instrumento da salvação. Seu valor como relíquia foi reconhecido no início do século IV, quando Santa Helena, a mãe do Imperador Constantino, teve uma visão que a inspirou a visitar Jerusalém e encontrar o local da Crucificação.
O Segundo Noturno no tradicional Breviário Romano de 3 de maio relata:
“Após aquela famosa vitória que o Imperador Constantino obteve sobre Maxêncio no ano 312, na véspera da qual a bandeira da Cruz do Senhor lhe fora dada do Céu, Helena, a mãe de Constantino, sendo avisada em um sonho, foi a Jerusalém, em 326, para procurar a Cruz. Lá, era seu cuidado fazer com que fosse derrubada a estátua de mármore de Vênus, que estava no Calvário por cerca de 180 anos, e que havia sido originalmente ali colocada para profanar e destruir o memorial dos sofrimentos do Senhor Cristo.…
“Helena fez com que escavações profundas fossem feitas, o que resultou na descoberta de três cruzes e, além delas, a escrita que havia sido pregada na do Senhor. Mas qual das cruzes havia sido d’Ele, era desconhecida, e só foi manifestada por um milagre. Macário, Bispo de Jerusalém, depois de oferecer orações solenes a Deus tocou, com cada uma das três, uma mulher que estava afligida por uma doença grave. As duas primeiras não tiveram efeito, mas ao toque da terceira ela foi imediatamente curada.”
A Coleta da Missa abolida, além disso, confirma esse poder milagroso e o atribui especificamente à “gloriosa descoberta da Cruz da nossa salvação.” (1)
O Breviário continua:
“Helena, depois de ter encontrado a Cruz vivificante, construiu sobre o local da Paixão uma igreja de extraordinário esplendor, onde depositou parte da Cruz, encerrada em uma caixa de prata. Outra parte, que ela deu a seu filho, Constantino, foi depositada na Igreja da Santa Cruz de Jerusalém, que ele construiu em Roma no local do Palácio Sessoriano.”
A historicidade dessa descoberta foi aceita pela Igreja principalmente no testemunho de São Cirilo, Bispo de Jerusalém (c. 315-386). (2) Sendo um residente da área desde a infância, ele pode até ter visto as escavações e quase certamente teria ouvido falar delas. Mais tarde, ele mencionou, com referência particular à Cruz, que “os Lugares Santos estavam escondidos foram revelados” durante o reinado de Constantino. (3)
Em suas Palestras Catequéticas, São Cirilo fez várias referências à “madeira da Cruz, que é vista aqui entre nós até os dias atuais.” E, pregando em 348 na igreja fundada por Constantino no local recentemente descoberto da Crucificação, ele declarou:
“Lá Ele foi crucificado por nossos pecados. Se se nega este lugar, O refuta visivelmente – este abençoado Gólgota, no qual estamos agora mesmo reunidos por causa d’Aquele que estava aqui preso à Cruz – assim como a madeira da Cruz, da qual fragmentos sem número já foram transportados por todo o mundo.” (4)
O testemunho de São Cirilo foi considerado autêntico pela Igreja por várias razões. Ele era um homem de grande estatura espiritual e integridade pessoal, e foi um dos poucos Bispos da época que corajosamente defendeu a Fé durante a heresia ariana, sofrendo perseguição de seus irmãos Bispos.
Ele não só tinha conhecimento detalhado da topografia da área, mas também estava familiarizado com eventos locais e relatos contemporâneos. Suas referências à madeira da Cruz estavam localizadas em circunstâncias históricas específicas, e seu conhecimento dos eventos estava, portanto, enraizado na factualidade, não em lendas fantasiosas. Assim, podemos estar moralmente certos de que as relíquias da Verdadeira Cruz foram encontradas em sua vida e imediatamente receberam veneração generalizada.
Não há razão para duvidar da veracidade dos relatos do século IV de Santa Helena ou da veneração de fragmentos da Verdadeira Cruz simplesmente porque eles foram primeiramente divulgados por meio de testemunho oral. Eles logo foram registrados por escrito por pessoas que viveram no mesmo século.
Além de São Cirilo, temos o testemunho escrito de Santo Ambrósio (c. 340–397) que menciona como Santa Helena foi a Jerusalém e encontrou a Santa Cruz; (5) São Paulino, Bispo de Nola (354-431), que adquiriu um fragmento da Cruz de Jerusalém; São João Crisóstomo (349-407); a freira Egéria, que fez uma peregrinação à Terra Santa em 380; e o historiador Rufino (c. 340-410).
Uma farsa trágica
Embora fosse uma festa de significado universal na Igreja, tendo sido celebrada em Roma desde o século VI (e antes disso no Oriente), os reformadores progressistas consideraram que não havia lugar no Calendário Universal. Sua alegação de que o Encontro da Cruz (3 de maio) foi uma duplicação da Exaltação da Cruz (14 de setembro) – e que deveria, portanto, ser eliminada para fins de “simplificação” – é demonstravelmente absurda. E facilmente desmascarado se se compara os dois dias de festa como nos foram transmitidos no Missal tradicional.
Pode-se ver que não estamos lidando com Missas duplicadas, mas com duas liturgias muito diferentes. Os Próprios (Coleta, Evangelho, Ofertório, Secreta e Pós-comunhão) do Encontro da Cruz diferem completamente daqueles da Exaltação. Além disso, eles contêm frases que não são encontradas na Exaltação, por exemplo, “miracula” (milagres); “bellorum nequitia” (os horrores da guerra); “ad conterendas potestatis adversae insídias (pisar sob os pés as armadilhas do poder do inimigo); “ab hoste malígno defendas” (defender-nos da astúcia do Maligno).
A tragédia dessa reforma é que os teologicamente ricos Proprios do Encontro, realçando a luta cristã contra as forças do mal, foram perdidos para a Igreja em geral quando a festa foi suprimida. E isso foi feito em 1960, antes mesmo que o Card. Bugnini e o Concílio produzirem a liturgia do Novus Ordo, da qual eliminaram ou atenuaram referências semelhantes porque eram “muito negativas” para o homem moderno.
As duas festas também diferem porque essas orações refletem dois temas distintos – primeiro, a descoberta milagrosa e, depois, o triunfo glorioso da Santa Cruz. A festa de maio comemora o encontro da Cruz em 326 e coloca ênfase particular em seu significado como uma relíquia; enquanto a festa de setembro celebra dois eventos históricos – a dedicação da Igreja do Santo Sepulcro de Constantino construída no Gólgota em 335, e a recuperação, em 629, da Verdadeira Cruz na igreja do Santo Sepulcro, depois de Ela ter ficado temporariamente em poder do rei dos persas. (6)
Em suma, sem a descoberta inicial da Cruz, não haveria justificativa factual para a festa da Exaltação, que comemora sua subsequente perda, redescoberta e retorno seguro à sua terra natal. Portanto, a festa de setembro depende da festa de maio para seu significado e historicidade. Não faz sentido manter uma e abolir a outra.
Uma charada transparente
Afirma-se agora que a festa da Exaltação comemora todos os temas reunidos em um, para que ninguém tenha motivos para reclamar por perder o Encontro. Mas esta é uma peça clássica de ofuscação, pois as duas liturgias, como estavam em 1960, cada uma tinha sua própria razão de ser teológica que determinava seu lugar no Calendário.
Significativamente, foi a Descoberta da Cruz que deu origem à sua veneração, não apenas em Jerusalém, mas em todas as partes do Império Romano onde fragmentos dela foram difundidos a partir de 326 d.C. Era natural, portanto, que o Encontro em si fosse comemorado em um dia de festa especial próprio e tivesse um lugar de honra no Calendário Romano Geral.
Devemos concluir que sua supressão em 1960 foi totalmente injustificada, tendo sido provocada sob falsos pretextos. Não precisamos procurar muito pela razão real e subjacente para o desaparecimento desta festa – “Ecumenismo” – que examinaremos no próximo artigo.
Continua

Acima, Santa Helena encontra as três cruzes; abaixo, a Verdadeira Cruz cura uma mulher doente

“Após aquela famosa vitória que o Imperador Constantino obteve sobre Maxêncio no ano 312, na véspera da qual a bandeira da Cruz do Senhor lhe fora dada do Céu, Helena, a mãe de Constantino, sendo avisada em um sonho, foi a Jerusalém, em 326, para procurar a Cruz. Lá, era seu cuidado fazer com que fosse derrubada a estátua de mármore de Vênus, que estava no Calvário por cerca de 180 anos, e que havia sido originalmente ali colocada para profanar e destruir o memorial dos sofrimentos do Senhor Cristo.…
“Helena fez com que escavações profundas fossem feitas, o que resultou na descoberta de três cruzes e, além delas, a escrita que havia sido pregada na do Senhor. Mas qual das cruzes havia sido d’Ele, era desconhecida, e só foi manifestada por um milagre. Macário, Bispo de Jerusalém, depois de oferecer orações solenes a Deus tocou, com cada uma das três, uma mulher que estava afligida por uma doença grave. As duas primeiras não tiveram efeito, mas ao toque da terceira ela foi imediatamente curada.”
A Coleta da Missa abolida, além disso, confirma esse poder milagroso e o atribui especificamente à “gloriosa descoberta da Cruz da nossa salvação.” (1)
O Breviário continua:
“Helena, depois de ter encontrado a Cruz vivificante, construiu sobre o local da Paixão uma igreja de extraordinário esplendor, onde depositou parte da Cruz, encerrada em uma caixa de prata. Outra parte, que ela deu a seu filho, Constantino, foi depositada na Igreja da Santa Cruz de Jerusalém, que ele construiu em Roma no local do Palácio Sessoriano.”
A historicidade dessa descoberta foi aceita pela Igreja principalmente no testemunho de São Cirilo, Bispo de Jerusalém (c. 315-386). (2) Sendo um residente da área desde a infância, ele pode até ter visto as escavações e quase certamente teria ouvido falar delas. Mais tarde, ele mencionou, com referência particular à Cruz, que “os Lugares Santos estavam escondidos foram revelados” durante o reinado de Constantino. (3)
Em suas Palestras Catequéticas, São Cirilo fez várias referências à “madeira da Cruz, que é vista aqui entre nós até os dias atuais.” E, pregando em 348 na igreja fundada por Constantino no local recentemente descoberto da Crucificação, ele declarou:
“Lá Ele foi crucificado por nossos pecados. Se se nega este lugar, O refuta visivelmente – este abençoado Gólgota, no qual estamos agora mesmo reunidos por causa d’Aquele que estava aqui preso à Cruz – assim como a madeira da Cruz, da qual fragmentos sem número já foram transportados por todo o mundo.” (4)
O testemunho de São Cirilo foi considerado autêntico pela Igreja por várias razões. Ele era um homem de grande estatura espiritual e integridade pessoal, e foi um dos poucos Bispos da época que corajosamente defendeu a Fé durante a heresia ariana, sofrendo perseguição de seus irmãos Bispos.
Ele não só tinha conhecimento detalhado da topografia da área, mas também estava familiarizado com eventos locais e relatos contemporâneos. Suas referências à madeira da Cruz estavam localizadas em circunstâncias históricas específicas, e seu conhecimento dos eventos estava, portanto, enraizado na factualidade, não em lendas fantasiosas. Assim, podemos estar moralmente certos de que as relíquias da Verdadeira Cruz foram encontradas em sua vida e imediatamente receberam veneração generalizada.
Não há razão para duvidar da veracidade dos relatos do século IV de Santa Helena ou da veneração de fragmentos da Verdadeira Cruz simplesmente porque eles foram primeiramente divulgados por meio de testemunho oral. Eles logo foram registrados por escrito por pessoas que viveram no mesmo século.
Além de São Cirilo, temos o testemunho escrito de Santo Ambrósio (c. 340–397) que menciona como Santa Helena foi a Jerusalém e encontrou a Santa Cruz; (5) São Paulino, Bispo de Nola (354-431), que adquiriu um fragmento da Cruz de Jerusalém; São João Crisóstomo (349-407); a freira Egéria, que fez uma peregrinação à Terra Santa em 380; e o historiador Rufino (c. 340-410).
Uma farsa trágica

O testemunho de São Cirilo de Jerusalém confirma a historicidade do encontro da Santa Cruz
Pode-se ver que não estamos lidando com Missas duplicadas, mas com duas liturgias muito diferentes. Os Próprios (Coleta, Evangelho, Ofertório, Secreta e Pós-comunhão) do Encontro da Cruz diferem completamente daqueles da Exaltação. Além disso, eles contêm frases que não são encontradas na Exaltação, por exemplo, “miracula” (milagres); “bellorum nequitia” (os horrores da guerra); “ad conterendas potestatis adversae insídias (pisar sob os pés as armadilhas do poder do inimigo); “ab hoste malígno defendas” (defender-nos da astúcia do Maligno).
A tragédia dessa reforma é que os teologicamente ricos Proprios do Encontro, realçando a luta cristã contra as forças do mal, foram perdidos para a Igreja em geral quando a festa foi suprimida. E isso foi feito em 1960, antes mesmo que o Card. Bugnini e o Concílio produzirem a liturgia do Novus Ordo, da qual eliminaram ou atenuaram referências semelhantes porque eram “muito negativas” para o homem moderno.
As duas festas também diferem porque essas orações refletem dois temas distintos – primeiro, a descoberta milagrosa e, depois, o triunfo glorioso da Santa Cruz. A festa de maio comemora o encontro da Cruz em 326 e coloca ênfase particular em seu significado como uma relíquia; enquanto a festa de setembro celebra dois eventos históricos – a dedicação da Igreja do Santo Sepulcro de Constantino construída no Gólgota em 335, e a recuperação, em 629, da Verdadeira Cruz na igreja do Santo Sepulcro, depois de Ela ter ficado temporariamente em poder do rei dos persas. (6)
Em suma, sem a descoberta inicial da Cruz, não haveria justificativa factual para a festa da Exaltação, que comemora sua subsequente perda, redescoberta e retorno seguro à sua terra natal. Portanto, a festa de setembro depende da festa de maio para seu significado e historicidade. Não faz sentido manter uma e abolir a outra.
Uma charada transparente
Afirma-se agora que a festa da Exaltação comemora todos os temas reunidos em um, para que ninguém tenha motivos para reclamar por perder o Encontro. Mas esta é uma peça clássica de ofuscação, pois as duas liturgias, como estavam em 1960, cada uma tinha sua própria razão de ser teológica que determinava seu lugar no Calendário.
Significativamente, foi a Descoberta da Cruz que deu origem à sua veneração, não apenas em Jerusalém, mas em todas as partes do Império Romano onde fragmentos dela foram difundidos a partir de 326 d.C. Era natural, portanto, que o Encontro em si fosse comemorado em um dia de festa especial próprio e tivesse um lugar de honra no Calendário Romano Geral.
Devemos concluir que sua supressão em 1960 foi totalmente injustificada, tendo sido provocada sob falsos pretextos. Não precisamos procurar muito pela razão real e subjacente para o desaparecimento desta festa – “Ecumenismo” – que examinaremos no próximo artigo.
Continua
- Deus, qui in praeclara salutiferae Crucis Inventione, passionis tuae miracula suscitasti: concede ut vitalis ligni pretio, aeternae vitae suffragia consequamur. (Ó Deus, que no glorioso Encontro da Cruz da nossa salvação, renovaste os milagres da Tua Paixão, concede que, pelo preço daquela lenha vivificante, possamos obter o privilégio da vida eterna).
- Confessor e Doutor da Igreja.
- São Cirilo, Carta a Constâncio, 351. O Imperador Constâncio II era filho e sucessor de Constantino. Nesta carta, São Cirilo mencionou o fenômeno da cruz luminosa que apareceu no céu acima do Gólgota e foi vista por todos os habitantes de Jerusalém.
- Palestras Catequéticas, Palestra 4, De Cruce.
- Santo Ambrósio, De obitu Theodosii (395) (Oração Fúnebre do Imperador Teodósio).
- Em 614, o rei persa Cosroes II conquistou Jerusalém. Entre os despojos de guerra que ele levou de volta para a Pérsia estava a relíquia da Verdadeira Cruz, que havia sido mantida na Igreja do Santo Sepulcro desde a época de Santa Helena e Constantino.
Na Batalha de Nínive em 627, o imperador bizantino Heráclio derrotou o rei persa e trouxe de volta a Verdadeira Cruz para Jerusalém em 629, onde foi colocada na Igreja do Santo Sepulcro.

Postado em 9 de abril de 2025
______________________
______________________
![]() Volume I |
![]() Volume II |
![]() Volume III |
![]() Volume IV |
![]() Volume V |
![]() Volume VI |
![]() Volume VII |
![]() Volume VIII |
![]() Volume IX |
![]() Volume X |
![]() Volume XI |
![]() Edição Especial |