O que é um clã? Temos a família simples composta por pai, mãe e filhos. Depois, temos a família extensa de que falamos composta por filhos adultos, netos e bisnetos, com fortes relações orgânicas entre os membros e um profundo vínculo com o fundador. Esta família tem uma grande unidade e, por si só, constitui um pequeno reino.
Membros da família extensa de Brunswick-Lunebourg reúnem-se em Neuhaus, na Boêmia, em 1737
|
No entanto, não é raro que depois que o fundador e os primeiros descendentes de uma família tenham morrido e a família se tenha multiplicado, que em alguns de seus ramos os limites familiares possam perder sua primeira intensidade, embora continuem mantendo alguma unidade. Tornou-se uma família tão extensa que não podemos mais chamá-la de família. Mas não é tão extensa que possamos confundi-la com a população de uma área rural ou de uma cidade. Então, a chamamos de clã.
O clã é mais vago em sua composição do que a família inicial. É, por assim dizer, uma auréola mais ampla em torno da família, ainda ligada e irradiada da família e compartilha a mesma base. É um círculo extenso que circunda a família, que também encontra suas raízes no patriarca. Além dos membros da família inicial, o clã inclui os parentes que, por diferentes motivos – casamentos em diferentes níveis, viajam para outras áreas, mau comportamento, necessidades de negócios etc. – perderam contato próximo com a vida familiar, mas ainda fazem parte dela e dependem dela. O clã é, de certa modo, uma irradiação daquela família inicial e, de outro modo, uma proteção para ela. Faz uma transição orgânica entre a vida familiar e a vida da população de uma área rural ou cidade.
Na história da Europa, encontramos clãs em diferentes países exercendo grande influência. Quando alguém menciona clãs, no entanto, talvez o primeiro país que vem à mente seja a Escócia. Lá, os clãs tiveram uma forte presença na vida do país ao longo da história escocesa e, de muitas maneiras, mantêm essa influência até hoje. Os clãs ainda têm padrões distintos de tartan para seus kilts, sua música especial para gaita de fole e passos de dança, para não falar de seus escudos e lemas particulares, também frequentes em clãs de outros países.
Chefes de clãs escoceses com
suas cores e bandeiras distintas
|
Alguém poderia me perguntar: O que o Sr. diz da possibilidade de clãs nos Estados Unidos? Nos Estados Unidos, onde o espírito da modernidade é muito forte, todo o estilo de vida precisaria mudar e se adaptar a essa perspectiva. A primeira coisa a acabar é a má tendência que os americanos têm de se mudar de um bairro para outro, de uma cidade para outra ou de um estado para outro. As famílias devem tentar desenvolver o costume de viver no mesmo bairro, possuir suas casas em vez de serem inquilinos em apartamentos ou ter suas casas hipotecadas aos bancos por toda a vida.
Além disso, os americanos não deveriam mudar de emprego com tanta frequência. A estabilidade na casa e na situação é um pressuposto psicológico indispensável para se ter uma vida orgânica quer na família quer no clã. A turbulência atual da vida típica da América do Norte torna impossível estabelecer algo orgânico.
Numa sociedade católica, os clãs devem agir de acordo com o princípio de subsidiariedade. O clã deve ter independência para fazer o que for capaz e só deve ser controlado pelo município ou estado quando ultrapassar seus próprios limites.
Do que um clã é capaz? Eu acho que mesmo com os meios modernos de produção, os clãs podem existir e desempenhar um papel. Eles são capazes de gerir seus próprios recursos de maneira a serem facilmente uma unidade familiar, cultural e profissional. Por exemplo, conheço uma cidade em que um clã de imigrantes que tinham lojas de conserto de sapatos se estabeleceu e foi bem sucedida na competição com outros profissionais nesta linha de trabalho. Logo, por meio de uma estratégia astuta, tornou-se tão poderoso que a cidade teve que intervir para evitar seu monopólio.
O município ou o estado deve servir para manter boas relações, honestidade e harmonia entre os clãs. Um modus operandi semelhante deve existir entre os diferentes municípios que compõem uma região e as diferentes regiões que compõem um país.
O fundamento geral para essa sociedade orgânica repousa na riqueza social da vida familiar, e depois sobre a vida do clã. Sua fonte de influência e poder é na base da sociedade. Como se vê, isso é exatamente o oposto de ter um poder central e absoluto que controla tudo. Portanto, uma sociedade orgânica baseada em clãs e famílias é o oposto não apenas do antigo absolutismo real, mas também do Estado moderno todo-poderoso.
Como uma unidade dessa realidade político-social, o clã vive como uma pequena nação. Nesse sistema orgânico, as personalidades podem ser mantidas: a personalidade do clã, a personalidade da família e as personalidades de cada indivíduo da família. Todos têm seu papel de se desempenhar em uma ordem social que segue as leis de Deus. É isso que gera o bem-estar no corpo social.
Postado em 3 de fevereiro de 2020
  | | Prof. Plinio |
Sociedade Orgânica foi um tema caro ao falecido Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. Ele abordou este tema em inúmeras ocasiões durante a sua vida - às vezes em palestras para a formação de seus discípulos, às vezes em reuniões com amigos que se reuniram para estudar os aspectos sociais e história da cristandade, às vezes apenas de passagem.
Atila S. Guimarães selecionou trechos dessas palestras e conversas a partir das transcrições das fitas e de suas anotações pessoais. Ele traduziu e adaptou-os em artigos para o site da TIA. Nestes textos, a fidelidade às idéias e palavras originais é mantida o máximo possível.
Tópicos relacionados de interesse
 Patriarcas na Idade Média e em Roma
O papel da admiração e do afeto nas famílias
Vocações dos Povos Europeus
O papel da autoridade na família
Todos os Roncaleses são Nobres
O que é a Sociedade Orgânica?
O Declínio do Feudalismo e o Crescimento do Estado Moderno
Os passos de um relacionamento orgânico
Grupos de Amigos e Guildas
|
