As classes que realmente dirigem uma nação não são necessariamente as que têm poder e exercem o comando, mas as que influenciam por meio de seu prestígio.
O que significa influenciar? Eu acredito que a raiz deste verbo é o influere do latim – para fluir. Quando um rio corre por uma área, traz benefícios: peixe, água para beber e irrigação e, consequentemente, para árvores que fornecem madeira para construir casas, frutas que nutrem e curam, legumes, grama que alimenta rebanhos de gado, ovelhas, etc.
Na década de 1930, o tênis era usado estritamente para jogar tênis |
Então, quando queremos indicar que uma área está lucrando com todos esses benefícios de um rio, explicamos dizendo: “Bem, esse e aquele rio flui nessa área.” Ou seja, a área está sob a influência desse rio. Se esse não é o significado original de influência, pelo menos é a imagem mais apropriada que posso encontrar para explicar o que é influência.
Analogamente, quando uma pessoa, uma família ou uma classe, através de sua presença e prestígio, traz benefícios para um grupo de pessoas ou um povo inteiro, dizemos que os últimos estão sob a influência do primeiro.
Embora em nosso exemplo tenhamos mencionado apenas os benefícios da influência, obviamente a influência social pode ser – e frequentemente é – virada para o mal também. Imagine um pântano com seus miasmas podres, os mosquitos que se reproduzem ali e espalham doenças, os danos que isso causa às árvores e teremos uma imagem do que significa má influência.
Quem constitui as classes influentes de uma cidade ou país? Seria muito interessante se cada um de nós desenhasse um esboço das pessoas ou famílias verdadeiramente influentes em sua cidade, deixando de fora a mídia.
Como o tênis foi imposto?
Para realçar o que é influência, levanto uma hipótese.
Imagine se o governador desse Estado ou sua Câmara dos Deputados emitisse esta diretiva ou decreto: A partir dessa data, todos os habitantes do Estado de São Paulo são proibidos de usar sapatos de couro.
Se este comando fosse emitido, aumentaria a indignação geral, seja por ser uma intrusão tirânica na vida privada dos cidadãos ou porque cada um tem o direito de decidir que tipo de sapatos ele usa. Essa indignação seria uma boa reação, demonstrando que as autoridades civis têm limites que não podem exceder se quiserem permanecer no cargo.
Agora, considere que em um determinado momento certo número de pessoas influentes decide usar tênis, não apenas para jogar tênis, mas quase o tempo todo e em todos os ambientes. Como isso foi realmente o que aconteceu, essa hipótese se torna um exemplo significativo.
O tênis se tornou "aceitável" em todos os lugares hoje em dia - no escritório, festas e funções solenes |
O início desta manobra revolucionária foi muito bem preparada. O jovem característico daquele período inicial – cercado pela auréola familiar de prestígio e seu sucesso com as mulheres – apareceu em sua faculdade ou clube usando de tênis, enviando a seus colegas a mensagem de que usar tênis em qualquer ambiente representava o auge da jovialidade, modernidade e ousadia – uma provocação bem-humorada. “O futuro pertence a quem usa tênis” é o que sua ação implica.
Então, aquele jovem de tênis tornou-se um símbolo de uma transformação de espírito. Qualquer um que não seguisse essa nova moda passaria a ser considerado monótono e sem graça, uma pessoa sem bom gosto andando no último vagão do trem do progresso. E todo mundo entendeu que chegaria o momento em que aquele vagão com pessoas antiquadas seria desengatado e o trem poderia continuar livremente sua marcha festiva adiante.
Assim, o medo de ser considerado fora de moda ou caipira induziu uma multidão a adotar tênis sem nenhum argumento ou discussão.
Com o passar do tempo, esse processo se acelerou e se generalizou, de modo que hoje o uso de tênis se tornou mais ou menos a regra em qualquer ambiente. Nós os vemos em faculdades, locais de trabalho, restaurantes, conferências e até em missas. Lembro-me de ler uma revista que noticiava uma festa de celebridades da nobreza europeia e do mundo financeiro para arrecadar dinheiro para algum propósito filantrópico. Um dos destaques da noite foi o aparecimento de um famoso astro de cinema que apareceu de smoking como todos os outros homens, mas usando tênis... Era extravagante, mas era considerado o auge da modernidade. Isso exemplifica como o tênis entrou em todos os meios.
Cantor Justin Bieber no tapete vermelho de tênis no Globe Awards 2011 |
Ou seja, por influência, parece que estamos caminhando para a proibição de usar sapatos de couro, que foi precisamente o que aquela diretiva hipotética de um governador ou decreto da Câmara dos Deputados nunca poderia impor.
Aqui os leitores têm um exemplo da eficiência da influência. O tênis foi estabelecido em toda parte na sociedade por meio de influência, e não por poder, força ou dinheiro.
Não sabemos o nome daqueles que lançaram o tênis, mas descrevemos o processo: foi lançado por pessoas de grande influência que os usavam; foi acompanhado por um estímulo sociopsicológico e um castigo: “Se você me imitar, será considerado tão moderno como eu; se não o fizer, será excomungado como caipira e ultrapassado."
Se cada um de nós fosse capaz de descrever como essa moda foi lançada em sua própria cidade – que seu uso começou primeiro em cada faculdade ou clube – daríamos o primeiro passo para entender como a influência funciona na sociedade. Conheceríamos uma parte do sistema que realmente governa o homem.
Então, se adquirirmos o hábito de analisar os pequenos indicadores de como a influência é exercida, terminaríamos entendendo todo o processo natural de influência. Poderíamos, então, distinguir a boa influência autêntica, do processo artificial usado pela Revolução para promover as modas que ela deseja impor à sociedade.
Postado em 30 de março de 2020
  | | Prof. Plinio |
Sociedade Orgânica foi um tema caro ao falecido Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. Ele abordou este tema em inúmeras ocasiões durante a sua vida - às vezes em palestras para a formação de seus discípulos, às vezes em reuniões com amigos que se reuniram para estudar os aspectos sociais e história da cristandade, às vezes apenas de passagem.
Atila S. Guimarães selecionou trechos dessas palestras e conversas a partir das transcrições das fitas e de suas anotações pessoais. Ele traduziu e adaptou-os em artigos para o site da TIA. Nestes textos, a fidelidade às idéias e palavras originais é mantida o máximo possível.
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