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Personificação dos Princípios - II

O nobre, um modelo a ser imitado

Plinio Corrêa de Oliveira
Para entender como funciona o fenômeno da imitação na sociedade e como deve ser institucionalizado, o exemplo da Idade Média pode ser útil.

O que, propriamente falando, é a imitação?

Estabeleçamos um pressuposto para responder a esta pergunta.

Estabeleçamos um pressuposto para responder à pergunta. Devemos reconhecer que a maioria dos homens não tem sua mente expressamente voltada para a abstração. Eles vêem as coisas na medida em que estão diante de situações concretas.

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Entendemos o amor materno observando situações concretas ao invés de ler sua definição em um livro

Por exemplo, uma pessoa conhece o amor materno ou o amor filial quando vê uma boa mãe ou um bom filho. Em princípio, a pessoa pode ter uma noção abstrata do amor materno sem conhecer um exemplo concreto. Mas a maioria das pessoas não vai a um compêndio para ler sobre o amor que uma mãe deve ter por seu filho. Elas analisam uma boa mãe com seu filho; têm a intuição de que o comportamento dela é correto e, a partir desta experiência, chegam a algumas conclusões e regras sobre o amor materno.

Por sua natureza, a mente humana está voltada para situações concretas. Depois de ver um certo número de exemplos concretos devidamente ordenados, a mente passa a entender teoricamente como a coisa é. Os conceitos não nascem de abstrações para serem aplicados à vida, mas nascem da vida e chegam às abstrações.

No ensino médio, tive um colega que tinha um manual de conversação. Quando ia a uma festa, aplicava essas regras às conversas que tinha. Acho que ele tinha um jeito deformado de fazer as coisas. Na verdade, uma pessoa aprende a conversar conversando. Muito depois de ter se envolvido em conversas, ela percebe que existem certas regras que está seguindo intuitivamente nessas trocas. A mente humana primeiro apreende situações concretas e depois se move para cima, para as alturas da abstração.

Da mesma forma, o homem não começa a praticar a virtude lendo o que é virtude em um catecismo. Ele vê pessoas virtuosas, e esses exemplos lhe mostram praticamente o que é a virtude. Depois, o catecismo completa o processo perfeito de aprendizagem. Com as lições do catecismo somadas a exemplos concretos, ele tem uma noção completa da virtude. É por meio do exemplo que ele tem uma noção viva e concreta de como as coisas são; mediante o exemplo ele forma seu espírito.

O exemplo, portanto, desempenha um papel primordial na vida social. Seu papel é primordial em relação não apenas às virtudes morais, mas a qualquer qualidade ou capacidade.

Tomemos, por exemplo, essa qualidade sociocultural que chamamos de bom gosto. Como adquirimos o bom gosto? O bom gosto é uma qualidade inata, mas muitas pessoas desenvolvem o bom gosto admirando as pessoas que o têm, mesmo quando é diferente de suas preferências pessoais. Vendo o que essas pessoas fazem, ouvindo o que dizem e tentando imitar suas ações e falas, acaba-se entendendo o que é bom gosto e adquirindo um pouco dele.

Em suma, é necessário observar muitas situações concretas para aprender como as coisas devem ser.

O nobre como modelo social

Essa pressuposição nos leva a uma idéia superior. Em outras ocasiões, discutimos muitos aspectos da nobreza, mas ainda não analisamos o nobre como modelo. Esta é uma função importante de qualquer membro de uma elite autêntica.

Na ordem psicológica das coisas, o nobre é feito para ser imitado. O nobre em si é constituído para ser um exemplo para tudo, para ser imitado em tudo.

Ele deve estabelecer o padrão para todos os membros da sociedade, no modo de viver, pensar, agir e lutar. Todos devem modelar sua vida seguindo esses padrões. Esta é uma das funções mais importantes da nobreza.

Como a nobreza cumpre essa função?

Imagine uma corrente elétrica que passa por um determinado metal. A eletricidade está lá, embora ninguém a veja. Só percebemos que está lá quando tocamos o metal e levamos um choque. Essa corrente flui para o filamento de tungstênio de uma lâmpada elétrica, que oferece uma certa resistência, que a torna incandescente. É assim que essa energia se torna luz. É por isso que as lâmpadas de filamento de tungstênio produzem iluminação.

Mont Saint Michel

O papel da nobreza é iluminar a sociedade com novas instituições e estilos

Eu diria que o papel do nobre é pegar a energia elétrica do conhecimento e da cultura e transformá-la em luz para toda a sociedade. Com efeito, o intelectual ou professor universitário estuda, acumula uma infinidade de idéias, ordena-as em grupos de princípios e as ensina às classes superiores de um país. O professor universitário e o intelectual não são necessariamente de uma classe alta da sociedade, pois a inteligência pode aparecer em todas as classes. Não importa qual seja sua classe, no entanto, seu papel é ler e estudar. Depois forma outros intelectuais de nível inferior, que são os preceptores.

Um preceptor é um homem muito inteligente, mas tem um tipo diferente de inteligência. Ele recebe o ensino superior do professor universitário e depois passa a formar filhos de famílias nobres. Ele transforma esse alto aprendizado que recebeu em ‘mercadoria’ pedagógica mais acessível. Ele contribui para dar às crianças uma educação impregnada desse alto aprendizado.

O preceptor, fortemente carregado pela alta energia do aprendizado, vai formar jovens nobres. Essas crianças terão assim um forte discernimento intelectual, já em uma espécie de estágio de filamento de tungstênio. O aprendizado entra na mente delas, não para descobrir novas fórmulas intelectuais, mas para organizar a vida de acordo com os princípios que receberam em sua formação cultural.

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São Tomás foi capaz de influenciar as instituições medievais através de seus discípulos que se tornaram preceptores de nobres

Como a Escolástica de São Tomás se tornou um valor cultural incorporado à sociedade medieval? Foi através de seus alunos. Embora muitos alunos não fossem de altos níveis sociais, alguns de seus melhores alunos foram escolhidos para educar os filhos de famílias nobres. Eles formaram crianças na lógica, nas convicções e no espírito de São Tomás.

Essas crianças deveriam viver de forma escolástica, construir castelos escolasticamente, entreter-se escolasticamente; transformaria em ação e vida aquilo que, na mente de São Tomás, era puro pensamento. A função do nobre é, portanto, transformar pensamento em vida, doutrina em realidade.

A nobreza deve gerar organizações políticas e sociais, grupos e correntes artísticas; além disso, deve produzir homens altamente cultos. Os nobres inserem-se na sociedade e criam organizações sociais e culturais que brilham, com a eletricidade intelectual que receberam. Entre a teoria e a prática, eis o lugar para a nobreza exercer seu papel.

Aplicação dos princípios

Outro exemplo: o teólogo ensina que a doutrina católica tem certos preceitos sobre a forma de tratar o inimigo. O inimigo deve ser combatido, mas temos uma certa obrigação de tratá-lo com integridade. Armas infames não devem ser usadas contra ele em combate. O ódio ao inimigo é legítimo, mas deve ser proporcional à gravidade da ofensa recebida. Assim, não podemos infligir injustamente um dano atroz a um inimigo, por uma ofensa que não foi atroz. Devemos também ao nosso inimigo algum grau de caridade, que deve ser expressa em certas circunstâncias.

Catholic combat

Um novo estilo de luta baseado na lealdade e coragem nasceu da aplicação dos princípios do Evangelho

O que o nobre fez com esses princípios morais? Inspirado por eles, o nobre desenvolveu as regras e costumes da Cavalaria. O espírito de cavalaria, como ficou conhecido, era uma aplicação da doutrina católica à situação concreta, como nos duelos e na guerra contra os inimigos.

A regra dos duelos, que pedem que um homem seja medido por sua coragem e não por armadilhas infames, é uma manifestação de respeito ao inimigo.

De acordo com as regras da cavalaria, o cavaleiro era encorajado a ter uma santa ira pelo inimigo, principalmente o inimigo religioso. Essa ira era dirigida para exterminar o inimigo. Mas, quando, por algum motivo, o combate parasse, quando o inimigo não estivesse mais lutando, mas ferido ou feito prisioneiro, então, esse ódio se transformaria em amor, em respeito ao prisioneiro, em proteção aos fracos, etc .

Este estilo de fazer guerra tornou-se o reflexo da doutrina católica sobre a guerra, e se espalhou por todo o Ocidente. Esse código, por sua vez, constituiu um conjunto de valores para toda uma civilização.

A nobreza transforma princípios em estilos de vida. Esses costumes e estilos acabam sendo a efetiva realização da vida social de uma região ou país. O nobre é, portanto, um modelo a ser imitado.

Continua

Postado em 7 de março de 2022

Tradition in Action

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Prof. Plinio
Sociedade Orgânica foi um tema caro ao falecido Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. Ele abordou este tema em inúmeras ocasiões durante a sua vida - às vezes em palestras para a formação de seus discípulos, às vezes em reuniões com amigos que se reuniram para estudar os aspectos sociais e história da cristandade, às vezes apenas de passagem.

Atila S. Guimarães selecionou trechos dessas palestras e conversas a partir das transcrições das fitas e de suas anotações pessoais. Ele traduziu e adaptou-os em artigos para o site da TIA. Nestes textos, a fidelidade às idéias e palavras originais é mantida o máximo possível.



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