A quem possa interessar,

Tenho acompanhado com grande interesse as histórias de Nossa Senhora do Bom Sucesso e seus livros publicados sobre Madre Mariana. É, de fato, uma aparição consoladora para nós, Católicos, apegados à tradição. No entanto, estou sinceramente intrigado com as suas interpretações da mensagem da Santíssima Mãe à Madre Mariana. Foi-lhe pedido que sofresse para que Deus nos enviasse um prelado para enfrentar a apostasia dos nossos tempos e formar sacerdotes bons e santos.

Você parece acreditar que este prelado ainda está por vir. Mas como, então, nós Católicos "tradicionais" nos agarramos ao nosso barco salva-vidas da liturgia tradicional e da fé sem o Arcebispo Marcel Lefebvre pavimentando o caminho? Sem ele enfrentar a apostasia e liderar, não apenas a FSSPX, mas outros ortodoxos, bons Católicos através do deserto de mais de 40 anos agora? O que haveria agora se não fosse por ele?

Também pareceria fútil que Madre Mariana sofresse e um prelado não aparecesse durante o período de tempo em que estava ocorrendo a apostasia. A localização exata do tempo pela Mãe Santíssima também indica que houve uma resposta no século 20. As heresias florescerão "a partir do final do século 19 e avançando para uma grande parte do século 20" implicaria que haverá um momento no século 20 em que as heresias serão atenuadas. Certamente as heresias não foram abatidas no Vaticano, mas por quem, senão pelo Arcebispo Lefebvre?

Além disso, como assinalado em seus livros, foi uma honra para o religioso morrer no dia da festa de um grande santo. Isso foi evidenciado pela Superiora de Madre Mariana, dada a saber que ele ganharia sua recompensa eterna na festa de São Francisco de Assis. Pois bem, e o dia 16 de janeiro, dia em que Madre Mariana foi chamada de volta à casa de Nosso Pai? É a festa do Papa São Marcelo I. Ele recebeu o título de mártir porque, por sua forte convicção da Fé, foi banido para o exílio pelo rei insensato de sua época. Marcelo (também conhecido como Marcel), que significa "defensor guerreiro," retrata de forma surpreendente o caráter deste importante santo da história de nossa Igreja e ainda não reconhecido pela Igreja em nossos dias modernos (Arcebispo Marcel Lefebvre).

Finalmente, como tenho certeza de que você sabe, o Arcebispo era um homem humilde. Ele havia mencionado esta aparição de Nossa Senhora do Bom Sucesso em seu sermão no dia em que consagrou os bispos para propagar a fé. Ele disse que acabara de saber disso. Ele não mencionou, de fato, que este prelado era ele mesmo - humilde como era - mas que grande consolo deve ter sido para ele ouvir as angústias exatas de nossos dias preditas pela Mãe de Deus e que o próprio caminho que ele percorreu que tomamos foi o remédio que a Mãe Santíssima pediu a Madre Mariana para sofrer tanto! E tenho certeza de que não foi por pequena coincidência o momento em que o Arcebispo teve conhecimento dessa aparição deliberadamente obscurecida! Tudo para a maior glória de Deus.

     Sinceramente em Cristo,

     N.N.


TIA responda:

N.N.,

Respeitamos sua interpretação daquela parte da profecia de Madre Mariana que fala de um futuro prelado que restaurará a Igreja. Com relação às profecias privadas, acreditamos que qualquer pessoa tem direito à sua própria opinião até que a profecia seja cumprida ou até que a Santa Madre Igreja apresente sua interpretação final dela.

No campo dos fatos, temos algumas observações sobre os pressupostos de sua carta:

1. Estamos felizes em reconhecer que, ao fundar a Fraternidade São Pio X, o Arcebispo Marcel Lefebvre contribuiu muito para manter viva a Missa Tridentina entre os Católicos em longo período em que esta Missa foi efetivamente proibida pela Reforma Litúrgica de Paulo VI. No entanto, não acreditamos que ele tenha sido o único a fazer esse trabalho meritório.

De fato, o Arcebispo Pierre Martin Ngo Dình Thuc precedeu o Arcebispo Lefebvre naquela fidelidade à Missa Tradicional em Latim, bem como na excomunhão que recebeu do Vaticano ao consagrar os Bispos em 1976 para continuar seu trabalho. A respeito da Missa, os dois Prelados tomaram posições semelhantes. A principal diferença entre eles é que o Arcebispo Thuc fundou um movimento clandestino bastante difícil de controlar ou mesmo rastrear e, portanto, aberto a todo tipo de especulação, enquanto o Arcebispo Lefebvre fundou um que é visível e público.

Além destes dois Prelados - junto com os Bispos por eles consagrados - outros também colaboraram no mesmo esforço de manutenção da Missa Tridentina, embora sem fundar organizações sacerdotais. Por exemplo, o Arcebispo Geraldo Proença Sigaud e o Bispo Antonio Castro Mayer no Brasil também mantiveram viva a Missa Tridentina naquele país de maior população Católica do mundo, onde a FSSPX tem pouca influência.

Não devemos ignorar que o verdadeiro Sacrifício do Calvário continuou a ser indiscutivelmente renovado também pelas Missas de outros Ritos Católicos, que só muito lentamente estão sendo forçados pelo Vaticano a adaptar suas liturgias às reformas progressistas do Rito Latino. Esses Ritos contam com mais de 15 milhões de fiéis, incluindo grandes comunidades Católicas, como 5,5 milhões de Católicos de Rito Católico Ucraniano, 3 milhões de Rito Maronita, 3 milhões de Rito Siro-malabar e um milhão de Rito Melquita.

Portanto, o Arcebispo Lefebvre não foi o único Prelado a manter a Missa Tridentina, como está implícito em sua carta, nem o verdadeiro Sacrifício da Missa foi mantido apenas por meio da Missa de Rito Latino.

2. Por um longo período, o Arcebispo Lefebvre se apresentou na FSSPX como não tendo assinado os documentos do Vaticano II. Seus fiéis seguidores ficariam ofendidos se alguém apoiasse o contrário, mesmo quando apresentasse argumentos sólidos. No entanto, após uma entrevista com Cardeal Hoyos em 2008, onde afirmou que Mons. Lefebvre havia assinado todos os documentos, esse “dogma” interno ficou menos seguro. Posteriormente, o Vaticano divulgou fotocópias dos documentos conciliares assinados pelo Arcebispo Francês, pondo fim à falsa declaração.

Hoje, mesmo os quatro Bispos da FSSPX admitem que Mons. Lefebvre havia assinado todos os documentos, como afirmou Dom Bernard Tissier de Mallerais em sua biografia recentemente publicada sobre o Arcebispo Lefebvre.

Embora em linhas gerais, Monsenhor Lefebvre tomou uma linha de ação que se opôs ao Concílio após aquela assinatura, hoje um número crescente de seus seguidores - incluindo os Bispos que ele consagrou - agem como se sua oposição ao Concílio fosse bastante matizada. Eles implicam que ele teria aceitado o Vaticano II se fosse interpretado à luz da Tradição. Se isso for verdade, temos Mons. Lefebvre como um homem que viu o Concílio não como uma grande catástrofe que deveria ser completamente varrida da Igreja, mas como um homem que queria salvar o Concílio.

Agora, como é possível considerar um Prelado que assinou os documentos do Vaticano II e quis salvá-lo com o restaurador da Igreja da apostasia dos dias atuais? Especialmente porque esses documentos são a expressão oficial dessa mesma apostasia.

Sabemos pela História que a causa da perseguição contra Santo Atanásio e Santo Hilário de Poitiers foi sua recusa em concordar com os vários concílios Arianos ou Semi-Arianos de seu tempo. Não parece que o Arcebispo Lefebvre tenha seguido esses exemplos gloriosos, já que ele assinou todos os documentos do Vaticano II e os aceitaria se fossem interpretados corretamente.

Por isso, em nossa opinião, ele não é o Prelado previsto nas revelações de Madre Mariana. Como você observou corretamente, acreditamos que o mencionado Prelado ainda está por vir.

     Cordialmente,

     Seção de correspondência da TIA

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