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Comunhão na mão na Igreja primitiva



Caros Srs. da Tradition in Action,

Os Srs. têm algum artigo bom sobre a questão da comunhão na mão?

Ouvi de um sacerdote que na Igreja primitiva, os padres davam a comunhão na mão das pessoas que então abaixavam as respectivas cabeças para consumir a Eucaristia nas próprias mãos de forma reverente. As mulheres, no entanto, só podiam fazer isso com um pano em suas mãos.

Também ouvi que a Igreja acabou abolindo essa prática quando soube que Cristo estava substancialmente presente em cada partícula da Eucaristia.

A existência da comunhão na mão durante a Igreja primitiva é verdadeira ou isso é um mito moderno? Se fosse verdade, parecia não estar errado que mãos não consagradas tocassem a Eucaristia, já que a Igreja não pode ter uma disciplina litúrgica defeituosa por um tão longo período.

Qual é o entendimento correto da comunhão na mão com base na tradição? Há ainda mais nessa questão do que deixar cair fragmentos de Nosso Senhor? Encontrei este artigo que também afirma que a comunhão na mão era comum na Igreja primitiva e promovida entre os primeiros Padres da Igreja aqui. Que lhe parece este artigo?

    Em Nossa Senhora do Bom Sucesso,

    M.R.
______________________


Dra. Byrne responde:

Caro M.R.,

Muitos liturgistas hoje tentam justificar a Comunhão na mão alegando que era uma prática antiga e universal legitimamente restaurada após o Vaticano II. Afirmar é uma coisa, mas dar provas satisfatórias é outra.

Do ponto de vista histórico, podemos dizer que há alguma evidência de que a prática existisse nos primeiros séculos em algumas áreas da Igreja. Mas não sabemos o registro completo de quantas vezes isso aconteceu. Seria uma suposição perigosa pensar que temos evidências suficientes para formar uma opinião abrangente sobre o método pelo qual a Sagrada Comunhão era ministrada aos fiéis na Igreja primitiva do Oriente e do Ocidente.

Vários fatores trabalham contra isso – o passar do tempo (oito séculos), a vastidão da área geográfica (o Oriente Médio, o subcontinente da Índia, evangelizado pelo apóstolo São Tomé, Norte da África e Europa) e, mais importante, a escassez de dados confiáveis.

Precisamos de tomar cuidado com estudiosos excessivamente confiantes que se gabam de seus conhecimentos extraídos de pesquisas nesta área, tirando conclusões que não são fundamentadas pelas informações colhidas. Apesar da multiplicação de “casos” de Comunhão na mão que alegam ter encontrado, eles nos deixaram apenas com escassas escolhas para trabalhar.

O conhecimento que eles nos deram é fragmentário e carente de contexto importantíssimo que é necessário para fazer uma análise aprofundada das situações relevantes que cercam a recepção da Sagrada Comunhão no cristianismo primitivo.

Primeiro, examinaremos o contexto, depois as evidências.

O contexto foi o arianismo, uma heresia que negava a divindade de Cristo. Ela surgiu no século IV e só foi supressa nos séculos VI e VII, como o martírio de São Hermenegildo (585) testemunha. Foi o terreno fértil e perfeito para a disseminação da Comunhão na mão.

Embora a maioria dos bispos do mundo civilizado tenha sucumbido à heresia, não temos conhecimento do número de pessoas usaram esse método de administrar a comunhão. É importante manter esse quadro de fundo em mente ao examinarmos os esforços dos bons bispos que tentaram manter atitudes de maior reverência entre os fiéis ao receber o sacramento. Foi uma batalha constante. Afinal, os hábitos costumam ser difíceis de erradicar depois de se enraizarem.

A evidência da comunhão na mão naquele tempo é tudo menos simples. Algumas citações são de autenticidade duvidosa, e outras geralmente representam um problema interpretativo para os especialistas.

St Cyrill of Jerusalem

São Cirilo de Jerusalém - um texto duvidoso de autenticidade incerta retirado do contexto histórico

Por exemplo, a citação mais popular a favor da prática é uma atribuída a São Cirilo de Jerusalém (315-386), que supostamente instruiu os recém-batizados a “fazer um trono” com suas mãos para que a Comunhão pudesse ser colocada nele. A autenticidade desta passagem foi contestada por estudiosos por várias razões.
  • Foi demonstrado que a citação relevante poderia ter sido adicionada por outra pessoa que não São Cirilo, talvez por seu sucessor, o Bispo João, que foi influenciado pelo arianismo, como sabemos pela correspondência de Santo Epifânio, São Jerônimo e Santo Agostinho.

  • Além disso, a mesma passagem contém um rito de Comunhão no qual os leigos são instruídos a manusear a Eucaristia tocando a Hóstia nos olhos e passando o Precioso Sangue na testa e nos órgãos sensoriais.

  • Bem como lhes é dito para não se privarem da Comunhão, mesmo que estejam “contaminados pelos pecados” (os quais, sendo indiferenciados, devem incluir tanto os veniais quanto os mortais), em contradição com a injunção de São Paulo (1 Coríntios 11,29); enquanto todos os outros Padres da Igreja insistiram que os comungantes estivessem livres de pecados graves e desavenças com seus companheiros cristãos.

  • Mas, curiosamente, a evidência mais convincente contra a autenticidade desta passagem não foi apresentada até agora – a forma de adoração descrita por São Cirilo em suas Aulas Catequéticas. Isso é idêntico em todos os aspectos à Divina Liturgia de São Tiago que, como veremos abaixo, incorpora um rito de Comunhão dado diretamente na língua.
Embora façamos bem em considerar o rito de Pseudo-Cirilo como uma interpolação, ou mesmo uma invenção da imaginação, isso não significa que não houvesse evidências da Comunhão na mão no período da patrística.

St Basil the Great

São Basílio: Comunhão na mão
somente em caso de perseguição e para eremitas

O testemunho de São Basílio, o Grande (330-379) é mais esclarecedor. Ele reconheceu que receber a Comunhão “pela própria mão” era costumeiro durante tempos de perseguição bem como para eremitas no deserto, onde nenhum padre estava presente. Ele não ponderou, portanto, que fosse uma “ofensa grave” em circunstâncias excepcionais e inevitáveis. Podemos tirar o corolário de que ele teria considerado falta grave fazê-lo sem necessidade.

Devemos ter em mente que a perseguição aos cristãos se estendeu além dos três primeiros séculos, especialmente na Igreja Oriental. Lá, a prática da Comunhão na mão foi reconhecida por figuras da patrística, como São Basílio e São João Crisóstomo e São João Damasceno no século VIII, nos lugares onde ocorreu.

Isso não significa necessariamente, no entanto, que eles a toleraram, muito menos que se entusiasmaram com aquilo. Os Padres vias as mãos dos leigos como ritualmente “impuras” e prescreviam um protocolo rigoroso para a recepção da Comunhão – a lavagem das mãos para os homens e o véu nas mãos para as mulheres. Tudo isso parece o equivalente a um exercício de limitação de agravos.

É verdade que o Concílio de Trullo, realizado em Constantinopla em 692, prescreveu a Comunhão na mão (Cânon 101). Mas isso só aconteceu depois que um costume se desenvolveu entre os leigos, movidos por um instinto católico, para adotar o que eles consideravam uma forma mais digna de recepção, ou seja, em pequenos recipientes e vasos de ouro, prata ou outros materiais preciosos que eles levavam com eles para esse fim. Nem todos, evidentemente, ficavam contentes em tocar a Hóstia com as mãos.

Embora o Cânon 101 forneça evidências para a Comunhão na mão, ele não nos diz nada sobre sua frequência. Com significativa oposição a ele por parte dos leigos, não pode ser descrito como uso comum. Além disso, sabemos que os Cânones Trullanos não eram obedecidos uniformemente no Oriente.

Apenas uma leitura superficial dessa evidência levaria alguém a pensar que a Comunhão na mão era a norma em todo o mundo cristão durante os primeiros 800 anos ou mais da existência da Igreja. Ao lidar com os dados da pesquisa, os proponentes desse método exageram a importância de suas descobertas. Por exemplo, eles só conseguiram citar um caso em toda a Inglaterra (onde alguém, casualmente, colocou a Hóstia na mão de um monge moribundo), mas isso é incluído para aumentar as estatísticas geográficas.

Purple Codex of Rossano

O Código Púrpura de Rossano

Depois, há o fenômeno do “viés de confirmação,” pelo qual eles “veem” evidências onde elas não existem ou são difíceis de interpretar. Um exemplo é o Código Púrpura um Livro do Evangelho grego datado entre o final do século V e o início do século VI. Uma das ilustrações, uma representação da Última Ceia, mostra um Apóstolo prestes a receber a Comunhão, enquanto os outros estão alinhados atrás.

Notamos que o comungante não está em pé com as mãos estendidas (como nos tempos modernos) para tomar a Comunhão com os dedos; ele está se curvando com o joelho dobrado e sua(s) mão(s) colocada(s) diretamente sob o queixo, enquanto Nosso Senhor apresenta a Hóstia aos seus lábios.

A intenção desse gesto, ao que parece, pode ser interpretada como sendo consistente com a recepção da Comunhão na língua, ou seja, para fornecer uma espécie de “proteção” para que nenhum fragmento possa cair no chão. (Guardar a Hóstia com cuidado escrupuloso para evitar profanação era, diferentemente dos tempos modernos, uma grande preocupação dos primeiros cristãos).

No entanto, os progressistas doutrinários de hoje insistem na Comunhão na mão como a única interpretação possível.

Sobre o assunto da recepção da Sagrada Comunhão na língua na Igreja primitiva, nenhuma evidência foi encontrada de que um Papa, em qualquer período da história da Igreja, tenha introduzido Comunhão na mão antes que Paulo VI o fizesse. Mas há boas evidências de apoio de Papas, Padres da Igreja e Concílios locais de que os fiéis recebiam a Comunhão na língua. No entanto, os progressistas rejeitam essa evidência com fundamentos muito frágeis, arbitrários e até contraditórios.

Isaiah Prophet


Um Anjo toca a boca de Isaías com uma brasa para purificar suas palavras e alma

Uma das evidências mais relevantes está contida na antiga Liturgia Cristã de São Tiago, que é o rito local original de Jerusalém, falado por São Cirilo. Nela, uma das orações ditas pelo padre antes de distribuir a Comunhão usa a metáfora do “carvão ardente” (Isaías 6,6-7) que foi tirada por um anjo do altar e tocada nos lábios de Isaías para purificar sua alma. Ele reza:

“O Senhor nos abençoará e nos fará dignos com os toques puros de nossos dedos de pegar o carvão vivo e colocá-lo sobre as bocas dos fiéis para a purificação e renovação de suas almas e corpos, agora e sempre.”

Como essa liturgia ainda é usada em alguns ritos católicos orientais, bem como cismáticos, onde a Comunhão na língua é a norma, ela mostra uma tradição ininterrupta desde os primeiros tempos cristãos.

O Papa Santo Eutiquiano (275-283) proibiu os leigos de levar a Sagrada Comunhão aos doentes:

Nullus præsumat tradere communionem laico vel femminæ ad deferendum infirmo (Que ninguém ouse entregar a Comunhão a qualquer leigo ou mulher para que seja levada a uma pessoa doente).

Os críticos argumentam que isso não prova nada sobre a prática de dar a Comunhão na mão ou na língua. Mas eles ignoram o raciocínio implícito por trás da proibição - que a Comunhão manuseada por um leigo não era algo a ser aprovado positivamente. Administrar o Sacramento a outros é, portanto, visto como prerrogativa do padre ordenado - um ponto posteriormente levantado pelo Concílio de Trento, que o descreveu como uma Tradição Apostólica.

St Leo the Great

São Leão Magno no século V: a Comunhão deve ser recebida na boca

O Papa São Leão Magno (440-461), em seus comentários ao Sexto Capítulo do Evangelho de João, mencionou a tradição da Comunhão recebida na boca:

Hoc enim ore sumitur quod fide creditur, et frustra ab illis AMEN respondetur, a quibus contra id quod accipitur, disputatur. (Porque o que é recebido na boca é crido pela fé; e os que discutem o que receberam respondem em vão: AMÉM. (Sermão 91.3)

Objeções foram levantadas de que esta citação não prova um costume de Comunhão na língua, no fundamento que se refere simplesmente a “tomar pela boca” (ore sumitur) que, é claro, pode ser realizado pela própria mão.

Mas devemos considerar a tradução correta no contexto. Como sumitur em latim significa “é recebido” no sentido de ser aceito de um doador, e ore indica o método de recepção – pela ou na boca – podemos inferir da citação que a Comunhão não era tomada na mão.

O Papa São Gregório Magno (590-604) é mencionado por seu biógrafo, João Diácono, em conexão com a prática da Comunhão na língua. João registrou quando o Papa Gregório estava prestes a colocar a Hóstia na boca de uma mulher, ele teve de retirar sua mão “ab ore ejus” (da boca) porque a mulher de repente começou a rir.

Em vez de aceitar esse relato como lido, os críticos o rejeitam como apócrifo, não porque tenham algum conhecimento pessoal sobre o assunto, mas pela opinião do Pe. Joseph Jungmann que, no entanto, não ofereceu nenhuma explicação sólida ou fundamentos para seu argumento. Então, a valiosa peça de evidência é descartada de imediato.

São Gregório relatou em Diálogos 3 a cura de um homem mudo e aleijado quando o Papa Santo Agapito (535-536) colocou a Hóstia em sua boca. Os cínicos seguem a opinião do estudioso litúrgico, Pe. FX Funk, que disse que a Comunhão não poderia ter sido dada a ele na mão, porque ele estava muito fraco para segurá-la. Mas São Gregório não mencionou nada sobre um braço com defeito. Ele descreveu o homem como “coxo” e declarou: “Agapito … restaurou-lhe o uso das pernas: e depois de ter colocado o Corpo de nosso Senhor na sua boca, aquela língua, que muito tempo antes não falava, foi solta.”

O Concílio de Saragoça (380) ameaçou com excomunhão qualquer um que ousasse continuar recebendo a Sagrada Comunhão na mão.

O Sínodo de Córdoba em 839 condenou a seita dos chamados Casiani por causa de sua recusa em receber a Sagrada Comunhão diretamente em suas bocas.

O Sínodo de Rouen (data incerta) confirmou a norma em vigor sobre a administração da Comunhão na língua, ameaçando ministros sagrados com suspensão de seus ofícios se distribuíssem a Comunhão aos leigos na mão. Decretou:

“Não coloque a Eucaristia nas mãos de nenhum leigo ou leiga, mas apenas em suas bocas.”

Mas os progressistas, ilogicamente, descartam essa evidência porque a data do Sínodo foi contestada por historiadores.

Concluindo, podemos dizer que ambos os métodos foram praticados na Igreja primitiva até que a Comunhão na língua “prevaleceu” sobre sua recepção na mão no século IX, para se tornar a norma estabelecida, obrigatória e universal por mais de mil anos.

Uma apreciação final deve ser feita para maior clareza. O costume moderno de receber a Comunhão na mão, pelo qual os comungantes, em pé, A recebem na palma da mão e daí A tomam com os dedos e A colocam em suas bocas, às vezes com um aceno superficial de cabeça, não tem semelhança com o costume antigo. Não se trata, portanto, de uma “restauração,” mas de uma inovação derivada das práticas usadas pelos reformadores protestantes do século XVI para marcar sua descrença na Presença Real.

Postado em 8 de julho de 2025


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