Os senhores sabem em que consistia a cerimônia de circuncisão que era imposta pela Antiga Lei a todo menino da raça de Israel. Nosso Senhor não estava obrigado a seguir aquela lei, porque sendo o verdadeiro Deus, Ele poderia ter dispensado a Si mesmo da lei que Ele tinha feito. Mas Ele decidiu sujeitar-se àquela lei por elevadas razões.
A Circuncisão de Nosso Senhor - Jacques Daret, c. 1404 |
Ele queria mostrar seu amor por aquela lei como reflexo de seu amor por todas as leis, por toda a ordem que Ele estabeleceu no universo e por todas as autoridades estabelecidas por Ele para a manter. Portanto, o Homem-Deus fez um ato de humildade e se sujeitou à lei como qualquer homem.
A circuncisão era uma prefigura do Batismo e simbolizava que o menino estava purificado e unido com Deus. No oitavo dia após Seu nascimento, o Divino Infante foi apresentado ao Templo e circuncidado segundo a Lei existente em Israel desde o tempo de Abraão. Naquela ocasião foi-Lhe dado o nome de Jesus.
Esse exemplo nos dá uma lição de humildade: nós devemos amar, observar e seguir as leis justas e razoáveis que estão de acordo com a Lei Divina e a Lei Natural. É, com efeito, um exemplo ensinando-nos a amar a Lei de Deus.
Há três elementos a considerar quando falamos da Lei de Deus.
Primeiro, há os 10 Mandamentos revelados a Moisés. Esses Mandamentos são uma codificação dos princípios da Lei Natural. A natureza humana por si mesma estipula esses modos de agir. Essas regras estão inscritas na própria natureza do gênero humano.
Mas como consequência do pecado original e a soma de pecados hereditários, a inteligência humana perdeu a bússola que lhe mostrava o que é bom e mau. Por essa razão, Deus revelou o Decálogo a Moisés como uma suma da Lei Natural para que o gênero humano pudesse mais bem trilhar a via reta.
Moisés recebe os Dez Mandamentos no Monte Sinai |
Devemos amar os Mandamentos porque são uma síntese da ordem natural. Eles refletem a ordem sapiencial que Deus estabeleceu no universo e são, portanto, a expressão própria de sua sabedoria e santidade.
Para termos uma ideia apropriada da sabedoria eterna de Deus e de sua infinita santidade, devemos analisar e admirar o conjunto do universo sintetizado nos Mandamentos que Ele nos deu.
Segundo, pelo fato de revelar a lei, Deus elevou aqueles preceitos ao nível de Lei Divina. Este é o segundo elemento: o caráter sobrenatural introduzido naquela síntese da Lei Natural. Devemos amar esses Mandamentos porque foram revelados por Deus. Eles são ordens dadas por Deus. Na medida em que devemos amar a Deus sobre todas as coisas nós devemos seguir Sua vontade e, portanto, obedecer aos Mandamentos.
Terceiro, Deus deu também a Moisés leis detalhadas para governar o culto e estabelecer o Estado de Israel. Essas leis devem também ser estudadas e admiradas. Nessa legislação há muitos itens que não são exigências da Lei Natural, mas são leis positivas religiosas instituídas por Deus.
No Novo Testamento, Nosso Senhor adicionou vários pontos à Lei, mas Ele não tocou nos 10 Mandamentos, os quais permanecerão os mesmos até o fim do mundo. Nosso Senhor veio para completar a Lei, não para revogar a Antiga Lei.
Os
católicos devem obedecer à lei civil que está de acordo com o Apocalipse. Acima, um
Imperador sustenta o Código Justiniano |
Nosso Senhor foi o perfeito modelo de obediência não somente aos 10 Mandamentos, mas também a toda detalhada lei mosaica instituída por Deus. Sua obediência era uma expressão de seu amor por Deus Pai.
O Evangelho relata as numerosas vezes que Nosso Senhor se dirigiu a Deus Pai com expressões de grande amor, união e obediência até aquele momento no Horto das Oliveiras em que Ele disse: “Pai, se for possível, afastai de Mim este cálice, mas faça-se a Vossa vontade e não a minha.”
As suas últimas palavras foram estas: “Pai, em vossas mãos entrego meu espírito.” Esta foi a sua última comunicação com o Pai: um ato de adoração, submissão e obediência. Isso foi o que Nosso Senhor Jesus Cristo nos ensinou desde o início de sua vida – na circuncisão – até o fim – no alto da Cruz.
Na circuncisão Ele derramou a primeira gota de sangue pelo gênero humano. Muitos teólogos sustentam que com aquela simples gota de sangue, a Redenção do gênero humano poderia ter se efetuado.
Mas por desígnios misteriosos da Providência Divina, uma grande quantidade de sangue, sua morte e mesmo sua última gota de sangue vertida da chaga infligida pela lança de Longinus foram necessárias para nossa Redenção. Ele aceitou tudo isso para cumprir a vontade do Pai Eterno.
Vemos como o espírito de Nosso Senhor é o oposto do espírito da Revolução, o qual é um espírito adverso às leis, sem amor algum pela autoridade que legisla. Ele considera leis como cadeias e obediência como coerção. Segundo esse espírito revolucionário, o homem deveria revoltar-se contra as leis e seguir apenas sua razão e instintos.
Nosso Senhor foi um modelo perfeito de obediência à vontade do Pai para a Crucificação Missel d'Autun, Lyon, 1450-1500 |
Pelo contrário, Nosso Senhor nos deu um ensinamento profundamente contra-revolucionário: Sua invariável obediência a Deus, à Lei Eterna, à Lei Divina, à lei positiva e a todos os costumes estabelecidos pela Tradição no Antigo Testamento e, por antecipação, na Igreja Católica.
Esse legado deve ser amado em sua letra e em seu espírito. Nós devemos também amar as leis civis na medida em que reflitam ou sejam uma aplicação dos princípios contidos na Revelação, isto é, nas Escrituras e na Tradição.
Alguém poderia me perguntar: é essa obediência às leis da Igreja válida na triste situação em que vivemos, na desolação em que a Igreja Católica caiu?
Eu respondo: Sim, mais do que nunca. Mas que leis devem ser obedecidas? Devemos seguir as leis que estão de acordo com o perene Magistério e a Tradição da Igreja. Essas são as leis que têm o mesmo espírito de Nosso Senhor.
Aquele mesmo amor deve nos induzir a não seguir as leis que são contrárias àquele espírito. Por exemplo, a recente norma vaticana estabelecendo que católicos podem receber sacramentos em templos cismáticos e heréticos.
Um católico não deve amar e aceitar esta lei como legítima, porque ela é intrinsecamente má. O mesmo amor que nos leva a ser obedientes à Igreja Católica nos leva também a resistir e não obedecer a esta lei perversa.
Há duas formas de submissão. Uma é baixar nossas cabeças como sinal que renunciamos a nossas vontades para seguir apenas a vontade de Deus. Outra é levantar nossas cabeças para defender a vontade de Deus contra aqueles que querem impor algo contrário a ela.
| Prof. Plinio Corrêa de Oliveira | |
A secção Santo do Dia apresenta trechos escolhidos das vidas dos santos baseada em comentários feitos pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. Seguindo o exemplo de São João Bosco que costumava fazer comentários semelhantes para os meninos de seu Oratório, cada noite Prof. Plinio costumava fazer um breve comentário sobre a vida dos santos em uma reunião para os jovens para encorajá-los na prática da virtude e amor à Igreja Católica. TIA do Brasil pensa que seus leitores poderiam se beneficiar desses valiosos comentários.
Os textos das fichas bibliográficas e dos comentários vêm de notas pessoais tomadas por Atila S. Guimarães de 1964 até 1995. Uma vez que a fonte é um caderno de notas, é possível que por vezes os dados bibliográficos transcritos aqui não sigam rigorosamente o texto original lido pelo Prof. Plinio. Os comentários foram também resumidos e adaptados aos leitores do website de TIA do Brasil.
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