Seria interessante analisar os aspectos da vida de São João Batista que o caracterizam como um perfeito Apóstolo dos Últimos Tempos, conforme a descrição de São Luís Grignion de Montfort. Não porque seus tempos foram os últimos tempos, mas porque foram os últimos tempos daquela época.
São João batizando Nosso Senhor |
São João Batista foi a pessoa enviada por Deus para preparar o caminho do Senhor, para preparar a si e aos outros para a vinda de Jesus Cristo, para atuar nos últimos tempos que precederam o Messias.
O Apóstolo dos Últimos Tempos também deve se preparar para a vinda de Nosso Senhor; ele também terá de agir nos últimos tempos antes da segunda vinda do Messias. Há um paralelo entre essas duas missões, assim como existe um paralelo entre a primeira e a segunda vinda do Messias.
O paralelo entre o tempo de Cristo e os últimos tempos é muito claro no Evangelho quando Nosso Senhor falou sobre a destruição do Templo de Jerusalém sob duas perspectivas diferentes.
Primeiramente, Ele falou sobre a destruição material do Templo de Jerusalém, uma profecia que foi cumprida historicamente por Tito no ano 70. Ele também falou da destruição do Templo sob uma perspectiva simbólica, referindo-se ao fim do mundo, do qual o Templo era um símbolo.
Há duas destruições do Templo, duas vindas de Nosso Senhor, dois homens enviados por Deus para preparar o caminho do Senhor. O primeiro foi São João Batista e o último será Elias, Profeta. Esses dois homens são os modelos, os paradigmas, os protótipos dos Apóstolos dos Últimos Tempos.
Em uma parte da Oração Abrasada composta por São Luís Grignion de Monfort, ele descreve os Apóstolos dos Últimos Tempos, apontando para aqueles homens que viverão em uma situação trágica: “Ah, deixa-me clamar em toda parte: Fogo! Fogo! Fogo! Socorro! Socorro! Socorro! Fogo até mesmo dentro do Santuário!”
O mesmo tipo de aviso foi dado por São João Batista, um profeta que descreveu a situação moral de seu tempo como extremamente má. Ele não temia dizer a verdade aos escribas e fariseus. Ele não teve medo de censurar o povo judeu pela decadência moral em que havia caído. Ele não vacilou quando increpou Herodes pelo mal que ele havia cometido - e essa seria a causa de sua morte.
São João Batista foi um homem que cumpriu seu dever de dizer a verdade sobre a situação na qual viveu, toda a verdade, completamente, destemidamente, até a sua morte.
A decapitação de São João Batista |
Também digno de nota é o caráter polêmico dessa missão. Os apóstolos descritos na
Oração Abrasada são homens de combate, homens de polêmica.
Durante toda a sua vida, São João Batista também foi um polemista. Sua vida foi uma longa polêmica para preparar o caminho de Nosso Senhor.
Paralelamente, pode-se considerar como sua missão foi bem fundamentada na realidade. São João Batista mediu todos os defeitos dos homens. Ele tinha uma compreensão completa dos efeitos do pecado original. É por isso que ele sempre estava alertando as pessoas sobre esses defeitos e os convidando para a penitência e mudança de vida.
Metanóia é a palavra grega que significa uma conversão total, uma mudança completa na vida de alguém; resume bem o objetivo da pregação de São João Batista. Quando se lê São Luís de Montfort descrevendo o homem como mais vãos que os sapos, mais ferozes que os tigres, mais falsos que as serpentes, e assim por diante, ouve-se algo da pregação dos Apóstolos dos Últimos Tempos e da pregação de São João Batista.
A humildade dos Apóstolos dos Últimos Tempos, descrita por São Luís na Oração Abrasada, também pode ser comparada com a extrema humildade de São João Batista. Ele tinha aquela frase maravilhosa: “mas Aquele que há de vir depois de mim é maior do que eu, e eu não sou digno de lhe desatar as sandálias”, referindo-se a Nosso Senhor. E esta outra: "Ele deve aumentar, e eu devo diminuir.”
Sua missão era anunciar o Messias. Portanto, uma vez que o Cordeiro de Deus chegou, a profecia de São João Batista foi cumprida, e sua missão pública diminuiu na medida em que ele se aproximava do seu martírio. Pelo contrário, Nosso Senhor aumentaria até o completo cumprimento de Sua missão divina. A humildade de São João Batista foi recompensada. Depois de seu martírio, seu nome foi coberto de glória.
Nosso Senhor disse que nenhum homem nascido de mulher era maior que ele. É impossível ter um louvor maior ou uma glorificação mais honrosa. Mas esta glória teve como fundamento sua mais profunda humildade. Analogamente, a humildade dos Apóstolos dos Últimos Tempos será recompensada, uma vez que os homens que lutarem a última batalha contra o Anticristo serão considerados tão grandes que Nosso Senhor permitirá que eles entrem diretamente para o Céu sem experimentarem a morte.
Nestes pontos, portanto, pode-se ver um paralelo entre a missão de São João Batista e os Apóstolos dos Últimos Tempos, ou seja, Elias, o maior deles.
Os Srs. poderiam me perguntar: onde está a devoção de São João Batista a Maria? Que lugar Nossa Senhora teve em sua pregação?
João Batista salta no ventre de sua mãe ao ouvir a voz de Maria |
Só mais tarde Nossa Senhora se manifestaria à piedade dos fiéis. Sua ação na Igreja se intensificou somente depois que Nosso Senhor subiu ao Céu e A deixou aqui para influenciar o destino da Igreja. A missão de São João Batista não era pregar diretamente sobre Nossa Senhora. Mas em sua vida, houve um evento importante.
Quando Nossa Senhora foi visitar Santa Isabel, ele teve a grande ventura de ouvir a voz de Nossa Senhora e sentir uma grande alegria dentro do ventre de Santa Isabel. Esta última, depois de ouvir a saudação de Maria, disse-lhe que seu bebê saltou de alegria em seu ventre. Ele era, portanto, uma alma intensamente voltada para Maria. Ouvindo a voz d’Ela, ele a entendeu, a amou e saltou de alegria.
Há uma tradição sólida na Igreja que diz que São João Batista foi purificado do pecado original pouco depois de ter sido concebido, ainda no ventre de Santa Isabel. Então, este episódio do Evangelho referindo-se à criança no ventre ouvindo a voz de Nossa Senhora, entendendo suas palavras e amando-a é completamente verossímil.
É provável que, como parente de Nossa Senhora, Santa Isabel a tivesse visitado muitas vezes, trazendo seu filho junto com ela. Além disso, após a morte de Santa Isabel, é provável que São João Batista tenha visitado Jesus e Maria.
Então, é provável que todas as vezes que ele tivesse ouvido a voz de Nossa Senhora, teria experimentado a mesma alegria que sentiu na primeira vez. Seria uma continuação dessa mesma exultação. É provável que ele nunca se tivesse esquecido daquela alegria e que ela tenha sempre permanecido em sua alma como uma espécie de consolo permanente.
Nós devemos louvar a São João Batista como modelo do perfeito devoto de Nossa Senhora, como modelo dos Apóstolos dos Últimos Tempos e como um homem de luta. Peçamos-lhe que nos conceda graças para cumprir a nossa vocação, que é semelhante em muitas maneiras à daqueles Apóstolos. Principalmente, devemos pedir-lhe a graça de sempre exultar quando Nossa Senhora fala alguma palavra no interior de nossas almas convidando-nos a estar mais perto d’Ela.
  | | Prof. Plinio Corrêa de Oliveira | |
A secção Santo do Dia apresenta trechos escolhidos das vidas dos santos baseada em comentários feitos pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. Seguindo o exemplo de São João Bosco que costumava fazer comentários semelhantes para os meninos de seu Oratório, cada noite Prof. Plinio costumava fazer um breve comentário sobre a vida dos santos em uma reunião para os jovens para encorajá-los na prática da virtude e amor à Igreja Católica. TIA do Brasil pensa que seus leitores poderiam se beneficiar desses valiosos comentários.
Os textos das fichas bibliográficas e dos comentários vêm de notas pessoais tomadas por Atila S. Guimarães de 1964 até 1995. Uma vez que a fonte é um caderno de notas, é possível que por vezes os dados bibliográficos transcritos aqui não sigam rigorosamente o texto original lido pelo Prof. Plinio. Os comentários foram também resumidos e adaptados aos leitores do website de TIA do Brasil.
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