Seleção Biográfica:
Santo Adalberto batizou pagãos da Hungria, Polônia e Prússia, mas os habitantes de Praga o rejeitaram
|
Adalberto nasceu em 956 em uma ilustre família da Boêmia. Na infância, ele foi acometido por uma doença grave e seus pais fizeram um voto à Virgem Santa para oferecê-lo ao sacerdócio se ele fosse curado.
Suas orações foram atendidas e o menino recuperou a saúde. Eles enviaram seu filho a Magdeburg para o santo Arcebispo de Magdeburg, que supervisionou sua educação na religião e ciência.
Em 973, ele recebeu ordens sagradas do Bispo de Praga. Mais tarde, esse Bispo sofreu uma má morte, gritando em desespero no leito de morte, de que seria condenado por negligência em seus deveres e busca ardente de honras, riquezas e prazeres.
Uma testemunha desse triste fim, Adalberto nunca o esqueceu, tomando-o como uma lição para o resto de sua vida. No ano seguinte, ele foi escolhido como Bispo de Praga.
Ele entrou em Praga com os pés descalços e foi recebido com alegria pelo povo. A diocese estava em uma situação deplorável.
Alguns de seus habitantes ainda eram idólatras, e muitos católicos estavam bem entrincheirados em vícios vergonhosos. Em vão, Santo Adalberto tentou corrigi-los e trazê-los à religião e piedade.
Quando seus esforços foram infrutíferos, ele obteve permissão papal para deixar o Episcopado e entrar em um mosteiro em Roma. Depois de cinco anos, o Papa João XV o enviou de volta a Praga com a condição de que ele pudesse novamente deixar o Episcopado se o povo não correspondesse.
Uma segunda vez, ele foi recebido com alegria e o povo prometeu se corrigir e deixar suas práticas pagãs. No entanto, essas promessas precipitadas logo foram esquecidas, e o Santo decidiu abandonar a diocese para sempre e retornar ao seu mosteiro.
No caminho de volta a Roma, ele teve um grande sucesso na Hungria, onde converteu muitos ao catolicismo. Com isso, o Papa ordenou que ele não viesse a Roma, mas retornasse a Praga. Com essas notícias, as elites de Praga ficaram furiosas e mataram muitos parentes do santo, roubaram seus pertences e queimaram os castelos da família.
Adalberto foi para junto de Boleslaus, seu amigo, filho do duque da Polônia. Nesse país, ele novamente converteu muitos idólatras. Em uma viagem missionária à Prússia, ele converteu alguns dos habitantes de Danzig. Foi lá que ele encontrou sua morte quando um grupo de pagãos o atacou.
Quando recebeu o primeiro golpe, agradeceu a Deus por lhe dar a oportunidade de sofrer por ele. Então, o sacerdote pagão que liderava os idólatras perfurou seu corpo com uma lança de duas cabeças, dizendo: “Fique contente, pois você não quer nada mais do que sofrer com o seu Cristo.” Era 23 de abril de 997.
Comentários do Prof. Plinio:
Essa vida é tão densa nos ensinamentos que podemos analisá-la ponto a ponto. Vamos pegar apenas alguns deles.
Um ícone de Santo Adalberto. Ele é o Santo padroeiro da Polônia, Boêmia e Prússia
|
Primeiro, consideremos a situação na Idade Média. É errado imaginar que naquele tempo a Igreja foi coroada de glória dormindo em um canteiro de flores por mil anos.
O fato é que durante esses mil anos a vida da Igreja foi uma luta dura. A realidade é que a Igreja venceu essa luta porque muitas almas generosas, chamadas por Deus para fazer o sacrifício de suas vidas, disseram “sim.”
Em outros tempos, a Igreja teve de enfrentar a mesma luta, mas em vez de dizer "sim," as pessoas chamadas por Deus disseram "não" ou “talvez” - que é a maneira mais detestável de dizer “não.”
Portanto, a Igreja é mal servida e, como consequência, a civilização desliza ladeira abaixo. Isso se aplica aos fatos que acabamos de ouvir sobre a Idade Média.
Segundo, Praga era uma cidade importante da época. Estava situada em uma área recentemente evangelizada pela Igreja, ainda sem uma civilização católica. Foi dada muita atenção a ela, assim como hoje as pessoas dão atenção especial a novas áreas que estão apenas começando a se desenvolver e a ser civilizadas.
Em Praga, havia um bispo que tinha a responsabilidade de promover o Reino de Nosso Senhor e Nossa Senhora naquela região. Sua missão era confirmar os católicos em sua fé e converter aqueles que não eram católicos. Mas ele era ruim e morreu em desespero.
Terceiro, mesmo nesta morte, podemos ver algumas características medievais que quase não existem mais. Hoje quase ninguém morre em dramas de desespero. Os pecadores como esse bispo ou, pior ainda, morrem ouvindo música e coisas assim, completamente indiferentes às suas responsabilidades.
Eles fazem isso cinicamente, com calma, se despedindo de todos e fingindo que não têm nada a temer. Não há mais vergonha pelos pecados cometidos e o mal praticado. É uma completa indiferença e uma insensibilidade geral. O pior é que essa insensibilidade moral reflete a perda da pessoa do senso do bem e do mal, o sentido do que vem de Deus e do que é do diabo.
O herege Jan Hus
|
Tal insensibilidade era muito mais rara na Idade Média. Certamente a Igreja teve de lutar contra todos os tipos de inimigos, como ouvimos nesta seleção. Mas raramente acontecia que um homem tivesse o tipo de morte indiferente que vemos hoje.
As pessoas poderiam morrer blasfemando ou desesperadas; outros se converteriam
in extremis [no último momento]. Mas quase ninguém morria no cinismo e indiferença tão comuns hoje em dia.
Quarto, então vemos que o Bispo de Praga morreu com sinais de horrorizar, com sinais de sua condenação. Um bom resultado foi o choque saudável que isso causou na vida de um futuro santo. Lembrando dessa visão, Santo Adalberto decidiu entrar humildemente em Praga com os pés descalços quando foi escolhido para ser o sucessor daquele homem.
Ao fazer isso, ele estava mostrando que era um bispo penitente, e não um bispo dissoluto. Era sua maneira de dizer que ele não seguiria os passos de seu antecessor, que lideraria a diocese de uma maneira completamente diferente de seu antecessor. Foi uma declaração forte, que demonstrou sua desaprovação não apenas pelo mau bispo anterior, mas também pela má condição dos católicos daquela cidade.
Quinto, um fato curioso que contradiz eventos posteriores é que duas vezes as pessoas o receberam muito bem. No entanto, eles eram incorrigíveis. Eles resistiram aos esforços do Santo durante toda a sua vida. Eles se tornaram, de fato, sua grande cruz. Ele pregou para essas pessoas, e elas não se converteram. Depois, ele pregou aos húngaros e prussianos e eles se converteram, mas seu próprio povo não o fez. Eles permaneceram ruins até o fim.
Nada é automático na vida da Igreja. Algumas pessoas pensam que se uma cidade ou área tiver um santo, ela será convertida automaticamente. Não funciona assim. Embora seja verdade que muitas vezes um santo é suficiente para converter uma região, outras vezes as pessoas más podem resistir à ação dos maiores santos, assim como os judeus resistiram à ação de Nosso Senhor Jesus Cristo, que era o próprio Homem-Deus.
Sexto, o resultado dessa rejeição de Santo Adalberto pela Boêmia - é interessante ver as consequências da rejeição de um santo - é que ela continuou sendo uma região ruim por muito tempo. Com Jan Hus, a Bohemia assumiu a liderança na revolução Protestante e, depois dela, a Boêmia foi uma das fortalezas do Protestantismo.
Na Igreja de Gesu, em Roma, uma representação da Santa Madre Igreja expulsando os hereges Lutero e Hus
|
Embora a Boêmia estivesse sujeita à Casa da Áustria, ela sempre constituía um problema. Mais tarde, tornou-se uma república socialista.
Além disso, esse povo não se manifestou com nenhuma reação específica contra o comunismo quando este tomou a Tchecoslováquia; ou seja, essa rejeição que vem do passado, aquele caráter ruim de seu passado, gerou um povo ruim até os nossos dias. Obviamente, houve exceções. Havia muitas pessoas boas lá, muitos santos. Mas uma corrente ruim sempre continuava.
Deveríamos imitar Santo Adalberto ao trazer a verdade e a posição católica tradicional para nossos países. Se fizermos isso da maneira certa, sem medo e com humildade, como Santo Adalberto fez, convidamos assim nossos países a seguir o caminho certo.
Devemos rezar a Santo Adalberto e, especialmente, a Nossa Senhora para ajudar a converter nossos países e nosso continente americano. Devemos pedir que nos torne generosos o suficiente para responder "sim" e nunca "talvez" ao convite que Deus nos faz para ajudá-Lo.
  |
|
Prof. Plinio Corrêa de Oliveira | |
A secção Santo do Dia apresenta trechos escolhidos das vidas dos santos baseada em comentários feitos pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. Seguindo o exemplo de São João Bosco que costumava fazer comentários semelhantes para os meninos de seu Oratório, cada noite Prof. Plinio costumava fazer um breve comentário sobre a vida dos santos em uma reunião para os jovens para encorajá-los na prática da virtude e amor à Igreja Católica. TIA do Brasil pensa que seus leitores poderiam se beneficiar desses valiosos comentários.
Os textos das fichas bibliográficas e dos comentários vêm de notas pessoais tomadas por Atila S. Guimarães de 1964 até 1995. Uma vez que a fonte é um caderno de notas, é possível que por vezes os dados bibliográficos transcritos aqui não sigam rigorosamente o texto original lido pelo Prof. Plinio. Os comentários foram também resumidos e adaptados aos leitores do website de TIA do Brasil.
|
