Seleção Biográfica:
Luís de Gonzaga (1568-1591) foi o filho mais velho de Ferrante, Marquês de Castiglione, na Lombardia. Em 1585, renunciou à primogenitura em favor de seu irmão Rodolfo e ingressou na Companhia de Jesus. Morreu em 1591, com pouco mais de 23 anos de idade. Em razão de sua grande luta contra a impureza em tempos de imoralidade geral, ele é o santo padroeiro dos jovens. A seguinte seleção é retirada de uma biografia de Daurignac:
São Luís de Gonzaga quando jovem, notável por sua pureza de espírito
|
Quando o exército comandado por Ferrante Gonzaga partiu de Casala, Luís, de quatro anos, foi enviado para Castiglione. O jovem príncipe e seu preceptor Francesco del Turco cavalgavam juntos em uma carruagem, com uma comitiva de nobres os guardando a cavalo.
Ao entrarem em campo aberto, o tutor dirigiu-se a seu jovem encarregado no tom solene e respeitoso que sempre usava com ele: “Por alguns dias, quis fazer uma observação importante sobre o comportamento de V.Sª., mas esperei que deixasse Casala.
“O que eu fiz?” perguntou a criança assustada.
O tutor respondeu: “Durante a sua estadia em Casala, V.Sª. viveu no acampamento com os soldados, e adquiriu o hábito de dizer algumas palavras e expressões inconvenientes para um príncipe de seu sangue que jamais deve permitir a si próprio e até mesmo ignorar, pois causaria profunda tristeza à princesa, sua mãe, se ela ouvisse uma dessas palavras dos lábios de seu filho.”
“Mas, caríssimo amigo, não sei o que disse que era ruim,” disse o menino desconcertado.
O preceptor lembrou então a seu aluno as palavras das quais a inocente criança não tinha compreendido nem o sentido nem o inconveniente.
“Isso jamais me acontecerá uma segunda vez, meu bom amigo, respondeu São Luís, todo desolado de sua falta. Eu vos prometo de pensar nesse assunto sempre.”
Ele foi fiel à sua promessa. Essa falta, toda de ignorância, São Luís de Gonzaga jamais a esqueceu. Ele a considerava como a mais lamentável das faltas que tivesse feito em toda a sua vida, e confessava mais tarde que a lembrança que conservava dessa falta o humilhava profundamente.
Comentários do Prof. Plinio:
Parece-me que devo fazer um resumo dos acontecimentos. São Luís de Gonzaga tinha sangue espanhol, mas era filho de um príncipe semi-soberano da Itália, da casa de Castiglione, tendo ligações de parentesco com as maiores casas soberanas da Europa, inclusive com a casa D’Áustria, a mais importante de todas elas. Tinha quatro anos de idade e um pouco antes dessa idade era já colocado em ambientes militares.
Quando esse incidente ocorreu, ele tinha apenas quatro anos. Mas um pouco antes de chegar a essa idade, ele já havia sido colocado no ambiente militar. Isso pode parecer excessivo, mas o oposto é verdadeiro. É uma coisa esplêndida. Hoje, muitos pais colocam meninos no jardim de infância quando são jovens assim. Quando se envia um menino para o jardim de infância, o homem tende a permanecer neste jardim a vida toda.
Tenho a impressão de que a suavidade dos jardins de infância modernos contribui para a cegueira de muitos homens das novas gerações. O que a criança precisa é amadurecer. O jardim de infância mantém a criança em um estado infantil por muito mais tempo do que o necessário, em vez de levá-la a um estágio mais maduro que o estimularia a buscar algo mais elevado.
São Luís, portanto, não foi mandado para o jardim de infância, mas para o exército. Ora, os senhores sabem que nem sempre a linguagem dos ambientes militares é a mais pura e elevada possível. E o menino aprendeu umas tantas palavras peculiares ao palavreado militar, que não faziam parte da linguagem da casa de família e que tinham um sentido obsceno, imoral.
Aí vem o preceptor — os senhores veem como o menino viaja, como viajava um príncipe nessa ocasião; ia numa carruagem com seu preceptor e tinha um séquito de gentis-homens, que o acompanhavam a cavalo — e só depois de ter deixado a cidade onde ele contraíra esse mau hábito, já em pleno campo, que falou com ele.
Os senhores podem observar o tom grave que o tutor assumiu para fazer a correção. Quem gosta do jardim de infância julgaria essa gravidade exagerada. Mas o preceptor, escolhido para esse papel por ter uma orientação católica segura e um senso prudente de circunstâncias, pensou exatamente o oposto.
Ele declarou solenemente que tais palavras nunca deveriam ser pronunciadas por um príncipe de sangue, que um príncipe de tal nível não deveria estar familiarizado com tais palavras. São Luís, que não percebeu o significado dessas palavras, ficou desconcertado.
Alguns podem dizer que o preceptor foi precipitado e excessivamente grave. Como a criança nem sabia quais eram as palavras, certamente não poderia ser responsabilizado por dizê-las. Pelo contrário, o tutor revelou uma compreensão mais profunda do assunto. Ele percebeu que palavras desse tipo carregam um mal em si mesmas, mesmo que uma pessoa não saiba o que elas significam.
Por exemplo, um garoto pode adquirir o hábito de dizer interjeições blasfemas. Seria inútil corrigi-lo? De jeito nenhum. Ele deve ser corrigido. Tais palavras intrinsecamente têm um mau senso, e os lábios de um filho de Nossa Senhora não devem ser manchados ao pronunciar tais blasfêmias.
Outra coisa notável é a humildade de São Luís. Humildade é a verdade. Foi a verdade que o levou a considerar sua culpa tão grave que ele chamou de o pecado mais grave de sua vida. O que se torna transparente neste episódio é a completa inocência e santidade de Sâo Luís de Gonzaga. É tão brilhante que é ofusca.
|
Prof. Plinio Corrêa de Oliveira | | A secção Santo do Dia apresenta trechos escolhidos das vidas dos santos baseada em comentários feitos pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. Seguindo o exemplo de São João Bosco que costumava fazer comentários semelhantes para os meninos de seu Oratório, cada noite Prof. Plinio costumava fazer um breve comentário sobre a vida dos santos em uma reunião para os jovens para encorajá-los na prática da virtude e amor à Igreja Católica. TIA do Brasil pensa que seus leitores poderiam se beneficiar desses valiosos comentários.
Os textos das fichas bibliográficas e dos comentários vêm de notas pessoais tomadas por Atila S. Guimarães de 1964 até 1995. Uma vez que a fonte é um caderno de notas, é possível que por vezes os dados bibliográficos transcritos aqui não sigam rigorosamente o texto original lido pelo Prof. Plinio. Os comentários foram também resumidos e adaptados aos leitores do website de TIA do Brasil.
|