Seleção Biográfica:
São Guilherme nasceu em 1085 em Vercelli, na região do Piemonte, Itália, de pais nobres e ricos. Quando ele ainda era muito jovem, decidiu renunciar ao mundo e se tornar eremita.
São Guilherme de Vercelli, eremita, Abade, conselheiro de um Rei
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Ele construiu sua primeira cabana de eremita em Monte Solicoli e depois foi para Monte Vergine. Muitos discípulos iam até lá, atraídos pela santidade de sua vida e pelos muitos milagres que ele realizava.
Logo se formou uma comunidade, da qual ele se tornou Abade, e uma igreja para Nossa Senhora foi construída no local. Por esse motivo, a montanha ficou conhecida como Monte Vergine [o Monte da Virgem].
Depois de um tempo, porém, os monges começaram a reclamar que o governo de São Guilherme era muito rígido e a vida muito austera. Ele, portanto, decidiu deixar Monte Vergine. Foi para o sul da Itália e fundou uma nova ermida em Monte Laceno, depois em Basilicata, Conza, Guglietto e Salerno. Tornou-se consultor do Rei Roger I de Nápoles. Faleceu em Guglietto em 25 de junho de 1142.
A primeira congregação de Monte Vergine se dissolveu. O mosteiro, no entanto, permaneceu e chegou às mãos dos religiosos de Nossa Senhora de Monte Cassino, que usam o hábito branco de São Guilherme para lembrar o fundador do mosteiro.
O Mosteiro de Monte Vergine hoje
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O fato extraordinário a seguir é registrado sobre o mosteiro de Monte Vergine, onde os monges ainda levam uma vida de penitência e austeridade. De acordo com a regra, não é permitido comer carne, ovos, leite ou queijo.
Se alguém tentasse violar esse regulamento, tempestades apareceriam no céu e os raios destruíam os alimentos ilícitos que haviam sido trazidos para o mosteiro.
Algo semelhante foi registrado na Camáldula de São Romualdo. Se alguém tentasse trazer alimentos não permitidos pela regra para o eremitério, ele seria rapidamente corrompido e infestado de vermes.
Isso aconteceu em muitas ocasiões, e sempre com o mesmo resultado. Foi assim que Deus escolheu se manifestar a fim de mostrar seu desejo de que as tradições de penitência e austeridade do grande São Guilherme, bem como de São Romualdo, sejam mantidas.
Comentários do Prof. Plinio:
Esta seleção mostra como a Idade Média era bela e o admirável contraste harmônico que possuía.
Na Idade Média, a Igreja Católica estimulou o trabalho intelectual de maneira extraordinária, mas também incentivou o trabalho manual, que é seu contrário harmônico, o aparente oposto do trabalho intelectual. A Igreja estimulou a vida ativa forte e intensa da sociedade, mas harmonicamente também estimulou algumas famílias religiosas a se aposentarem da vida ativa, mudarem-se para lugares solitários e viverem juntos rezando e adorando a Deus.
Também estimulou algumas almas a se isolarem de qualquer sociedade humana e viverem completamente só. Fazendo isso, a Igreja Católica manteve a vocação eremítica que ela deu à luz nos primeiros séculos de sua história.
Contrastes harmônicos: Acima, Monte Vergine, o isolamento do eremitério. Abaixo, Nápoles, a vida cheia de atividades da cidade
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Há um contraste harmônico na vida movimentada das cidades medievais e na serenidade da vida meditativa dos eremitas, que pensam apenas nas coisas de Deus. Estes são apenas alguns exemplos dos muitos contrários harmônicos daquela época abençoada, fruto do espírito católico.
Essa harmonia que existia na Idade Média como consequência da evangelização da Igreja era um fator muito importante para manter o equilíbrio psicológico dos homens. Sem a santidade da Igreja Católica, essa harmonia não seria possível.
Se não fosse autêntica, estimularia demais a vocação eremítica ou a vida ativa das cidades. Como a Igreja Católica é verdadeira e santa, ela estimula perfeitamente os contrastes harmônicos e produz um excelente equilíbrio da alma, que é um fruto característico d’Ela.
Os senhores têm o exemplo dessa harmonia da Idade Média na vida do santo Abade, São Guilherme. Ele era um nobre e, como tal, destinado a uma vida de batalhas e tribunais, uma vida de governo e atividade. Ele deixou tudo para trás e foi para um lugar completamente isolado para glorificar Nossa Senhora.
Escolheu uma montanha, provavelmente para evitar as visitas inoportunas dos curiosos. Era um lugar frio e austero, mas ele começou uma vida de penitência. Então aconteceu uma coisa admirável que ocorre frequentemente na História da Igreja. Quando as almas se isolam unicamente pelo amor de Deus, elas atraem outras. Outros eremitas se reuniram ao seu redor e formaram uma comunidade.
Os senhores podem imaginar a cena. Ao longo da estrada, aos pés das montanhas, grupos de cavaleiros passam viajando e conversando; depois, os estudantes começam a cantar e a rir; alguns peregrinos começam a rezar. No topo da montanha, uma grande Cruz e um eremitério podem ser distinguidos. Um viajante pergunta a outro: "Quem mora lá?" O outro responde: "É Guilherme, o nobre de Vercelli, que deixou tudo pelo amor de Deus."
Como isso pode não ser atraente? Quem não diria: -- quero parar e ver Guilherme, o nobre. A notícia se difunde. Um homem que precisa de ajuda para resolver um problema vai até Guilherme, que reza por ele e o problema se resolve. Logo todo mundo quer ir até lá para vê-lo, rezar e pedir conselhos; alguns têm o desejo de ficar. Isso explica a atração que ele exercia e os discípulos que ele fazia.
Então, uma coisa trágica aconteceu. Ele era pai de uma família religiosa, mas os discípulos se revoltaram contra a direção dele. O fundador tornou-se inconveniente para eles. Ele teve de sair. Foi virtualmente excluído de sua própria ordem.
Aqueles que deixaram tudo para o seguir agora o obrigavam a deixá-los ... Ele começou a descer a montanha, sofrendo, mas sereno, rezando. Partiu em uma estrada desconhecida e tomou a direção sul, passo a passo, quilômetro após quilômetro.
Assim chegou em Nápoles. Os senhores podem imaginar São Guilherme chegando à famosa baía, vendo o Vesúvio fumando, andando pela bela e animada Nápoles, passando pelo movimentado porto e vendo o prestigiado palácio do Rei de Nápoles, um dos homens mais poderosos da Península italiana.
Nápoles era um centro de cultura e civilização com uma corte brilhante, um centro de bom gosto. A seleção não diz como, mas as notícias da presença de São Guilherme chegaram aos ouvidos do Monarca. Ele entrou em contato com São Guilherme e sua vida mudou. São Guilherme se tornou seu conselheiro. Com a mesma tranquilidade que tinha como Abade de Monte Vergine, e que conservou como peregrino, manteve como conselheiro de um Rei. Guilherme tornou-se o anjo do Reino de Nápoles.
Capela dedicada à Nossa Senhora no Mosteiro de Monte Vergine
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Após sua morte, a instituição que ele fundou desapareceu e o mosteiro foi entregue aos beneditinos de Monte Cassino. Como os senhores sabem, os beneditinos usam hábitos negros.
Os monges beneditinos de Monte Vergine honraram São Guilherme usando o hábito branco da ordem que ele fundou. É uma bela manifestação de amor à tradição e uma oração para que a ordem de São Guilherme seja restaurada.
Também temos uma manifestação da proteção de Deus para o mosteiro e Sua aprovação de seu rigoroso governo. Ele destruía com um raio os alimentos que não eram permitidos pela regra. Mas há algo mais a considerar. Se Deus fosse tão severo ao destruir um pedaço de queijo trazido contra a regra, com que razão maior ele puniria os monges liberais que estavam tentando relaxar a regra. E se esses monges não fossem punidos durante a vida, deveriam ter medo do castigo após a morte.
Podemos reter três figuras da vida de São Guilherme: primeira, o eremita rezando sozinho na montanha, atraindo discípulos e construindo seu mosteiro; segunda, o Abade sendo virtualmente excluído de sua própria ordem e mosteiro; terceira, o santo como conselheiro do Rei de Nápoles.
Em cada uma dessas facetas de sua vida, há algo que podemos pedir a ele. Podemos pedir que ele nos conceda seu espírito de recolhimento que deu tantos frutos; sua extraordinária confiança na Divina Providência, mesmo quando foi excluído da ordem que fundou; sua sabedoria e humildade quando se tornou conselheiro de um Rei.
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Prof. Plinio Corrêa de Oliveira | | A secção Santo do Dia apresenta trechos escolhidos das vidas dos santos baseada em comentários feitos pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. Seguindo o exemplo de São João Bosco que costumava fazer comentários semelhantes para os meninos de seu Oratório, cada noite Prof. Plinio costumava fazer um breve comentário sobre a vida dos santos em uma reunião para os jovens para encorajá-los na prática da virtude e amor à Igreja Católica. TIA do Brasil pensa que seus leitores poderiam se beneficiar desses valiosos comentários.
Os textos das fichas bibliográficas e dos comentários vêm de notas pessoais tomadas por Atila S. Guimarães de 1964 até 1995. Uma vez que a fonte é um caderno de notas, é possível que por vezes os dados bibliográficos transcritos aqui não sigam rigorosamente o texto original lido pelo Prof. Plinio. Os comentários foram também resumidos e adaptados aos leitores do website de TIA do Brasil.
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