Seleção Biográfica:
São José Calasanz viveu de 1557 a 1648. Ele nasceu em uma família nobre no Castelo de Calasanz perto de Peralta de Calasanz no Reino de Aragão.
Formou-se em Direito e Teologia e tornou-se secretário do Bispo de Lérida.
São José Calasanz, Fundador da Ordem das Escolas Pias |
Um dia ele ouviu em sua alma uma voz misteriosa dizendo-lhe: “Deixe a terra onde você nasceu e vá para Roma.”
Em 1592, ele foi para Roma e foi levado sob a proteção do Cardeal Marco Antonio Colonna, que o nomeou seu teólogo. Após uma enchente do Tibre em 1598, muitas pessoas morreram ou ficaram desabrigadas.
Calasanz se dedicou totalmente a obras de caridade para ajudar os necessitados. Em 1600, ele abriu sua primeira “Escola Pia” no centro de Roma, que oferecia educação gratuita para crianças pobres. O apelo às Escolas Pias cresceu e, em 1602, Calasanz lançou as bases da Ordem das Escolas Pias ou Piaristas.
Por 41 anos ele ficou como superior, agindo com suprema paciência e humildade. Mereceu o dom dos milagres e a Santíssima Virgem apareceu-lhe com o Menino Jesus para abençoar a sua Congregação. Também tinha o dom de ler consciências e profetizar.
Trabalhou incansavelmente para a propagação de sua Ordem em suas visitas a outros países da Europa. Mais tarde, porém, ele viu seu trabalho desmoronar e desaparecer como fruto de discórdia interna e perseguição externa. Em 1643 foi expulso da Ordem que fundou.
Em 1646, a Ordem foi suprimida pela Santa Sé e suas propriedades e bens foram transferidos para a autoridade dos Bispos locais. Ele sofreu tanto que Nosso Senhor apareceu a ele para consolá-lo e dizer-lhe que sua Congregação voltaria a florescer no futuro.
Morreu em 25 de agosto de 1648, aos 91 anos. Um século depois, seu coração e sua língua foram encontrados intactos, sem qualquer sinal de corrupção. Oito anos após sua morte, o Papa Alexandre VII limpou o nome das Escolas Pias e restaurou seu trabalho.
Comentários do Prof. Plinio:
O Santo recebeu a recomendação de Deus de deixar a Espanha e ir para Roma. Ele era um homem de origem nobre com relevância no Reino de Aragão. Este homem deixa tudo e vai a Roma para fundar uma Congregação Religiosa que a Providência quis que ele instituísse. Ele vai e a funda. Mas depois de um período de crescimento normal, chega o tempo em que, por causa de calúnias internas e difamações, a Congregação é fechada; seu trabalho está destruído.
Uma escultura que reflete a provação que o Santo sofreu nos últimos anos |
Para avaliarem o que isso significa para a alma de um fundador, os senhores devem considerar que a Santo Inácio de Loyola, o incomparável Santo Inácio, foi perguntado uma vez o que faria se a Companhia de Jesus fosse dissolvida pela Santa Sé.
Ele deu esta resposta, que ilustra sua prodigiosa força de espírito: “Ao final de 15 minutos de oração diante do Santíssimo Sacramento, creio que teria recuperado a paz de espírito.”
Ora, Santo Inácio é considerado prodigioso apenas por dar esta resposta. Mas São José Calasanz viveu durante anos nesta situação, a ponto de morrer vendo sua obra dissolvida. Seu trabalho terminou e sua vida parecia inútil. Essa supressão representou sua derrota completa.
A seleção não diz isso, mas provavelmente foi a pior provação de sua vida. Sem dúvida, ele se perguntou se a Congregação estava sendo punida por sua própria infidelidade. Ele provavelmente foi induzido a pensar que era culpado pela destruição da obra que a Providência o havia chamado a realizar.
Este provavelmente foi seu julgamento supremo. Na verdade, que homem - mesmo sendo um santo - não consegue encontrar em sua consciência uma falha ou pelo menos alguma sombra que possa atrair a ira divina? Em seguida, sua agonia de espírito: “O que foi aquela infidelidade, ato de ingratidão ou movimento da alma que, em última análise, arrasou meu trabalho?”
Sua Congregação estava caindo em ruínas; ele estava lá vendo a crescente maré de intrigas engolfando-o; vendo aqueles que, em vez de serem seus dóceis discípulos, caluniavam seu fundador; vendo o demônio da discórdia tomando conta de sua Congregação. Vendo tudo isso e sendo atormentado por aquela dúvida atroz: “Não fui eu quem causou esse desastre?”
Mas ele confiava na Providência Divina e mantinha a paz em sua alma. Preservou a paz em meio à tristeza de sua situação, mantendo os olhos em Nossa Senhora e em Nosso Senhor Jesus Cristo. Fazendo isso, São José Calasanz poderia dizer: Ecce in pace amaritude mea amarissima – Eis que em paz está minha amargura mais amarga.
As escolas Pias de Nossa Senhora, na
casa da Ordem de Valência
|
Às vezes, almas eleitas são chamadas a passar por provações como esta. A Venerável Maria de Ágreda escreve que o fato de o Menino Jesus ter desaparecido dos cuidados de São José - mais tarde seria encontrado no Templo - representou uma enorme provação para Nossa Senhora. Ela não sabia se a ausência d’Ele foi causada por alguma falha de sua parte.
Somando-se a essa impressão, estava o fato de que, para testá-la, Ele havia sido frio com ela antes de partir. Então, ela poderia ter pensado: “E se isso aconteceu por minha culpa? E se Ele se cansou de mim? Não sou digna de ser sua mãe, por isso Ele agiu com justiça ao me abandonar. Mas agora minha vida perdeu o sentido ...” Então, podem imaginar sua alegria quando ela e São José encontraram Nosso Senhor no Templo.
São José Calasanz não viu sua Congregação restabelecida durante sua vida. Porém, ao morrer, ouviu aquele convite que Nosso Senhor faz a todos os justos: “Vem, meu servo bom e fiel, e entra na glória do teu Senhor.” Então, e só então, ele entendeu que o fracasso não era culpa dele. Do céu, ele viu sua Congregação reestruturada novamente. Na verdade, ela renasceu e se tornou uma grande obra em todo o mundo.
Mas, hoje, com a crise que aflige todas as Ordens e Congregações religiosas, o que pensaria São José Calasanz daquela que fundou? Não é um julgamento temerário imaginar que ele esteja vendo sua Congregação fazer exatamente o que as outras Ordens de outros Santos também estão fazendo, isto é, entrando na apostasia geral ao aderir à revolução conciliar.
No Céu não há sofrimento, mas se houvesse, ele deveria estar sofrendo por ver sua obra sendo destruída uma segunda vez. Desta vez, porém, de forma pior, porque é melhor ver o instrumento criado para a glória de Deus ser aniquilado do que vê-lo ser usado contra a glória de Deus.
Os senhores podem entender, então, como São José Calasanz, junto com os fundadores de outras Ordens e Congregações, rezam para que este estado de coisas termine, para que o castigo venha e o Reino de Maria seja instalado. Então, todas as boas obras da Igreja no passado serão restauradas em seu fervor primitivo.
Rezemos a São José Calasanz com a mesma intenção.
|
Prof. Plinio Corrêa de Oliveira | | A secção Santo do Dia apresenta trechos escolhidos das vidas dos santos baseada em comentários feitos pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. Seguindo o exemplo de São João Bosco que costumava fazer comentários semelhantes para os meninos de seu Oratório, cada noite Prof. Plinio costumava fazer um breve comentário sobre a vida dos santos em uma reunião para os jovens para encorajá-los na prática da virtude e amor à Igreja Católica. TIA do Brasil pensa que seus leitores poderiam se beneficiar desses valiosos comentários.
Os textos das fichas bibliográficas e dos comentários vêm de notas pessoais tomadas por Atila S. Guimarães de 1964 até 1995. Uma vez que a fonte é um caderno de notas, é possível que por vezes os dados bibliográficos transcritos aqui não sigam rigorosamente o texto original lido pelo Prof. Plinio. Os comentários foram também resumidos e adaptados aos leitores do website de TIA do Brasil.
|