Ela merece um culto incomparável. Acima, a glorificação de Maria por Fra Angelico
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Podemos medir a imensa delicadeza da Igreja no trato com tudo, quando consideramos, que a única santa com festa especial no seu aniversário é Nossa Senhora. Não estamos considerando o Natal, é claro. Isso corresponde ao culto à hiperdulia que a Igreja reserva para ela.
A Igreja reserva o culto de latria, ou adoração, apenas para Deus - para Nosso Senhor Jesus Cristo, portanto, que é o Verbo Encarnado. O culto de dulia, ou veneração, a Igreja atribui aos santos.
Mas para Nossa Senhora ela tem um culto que não é o simples culto de dulia nem o supremo culto de latria, mas sim o culto de hiperdulia, que é uma veneração superior sem paralelo a qualquer outro.
Assim, temos uma festa que comemora o aniversário da Virgem Santíssima, uma das muitas festas que a Igreja reserva para Ela.
Analogamente, por sua virtude singular, a Igreja permite que uma igreja possa ter mais de uma imagem de Nossa Senhora no mesmo altar, regra que não se aplica a nenhuma outra santa. Desse modo, ela deixa claro que Nossa Senhora é incomparável com qualquer outra criatura. É uma forma litúrgica de ensinar a verdade teológica de que Ela é a Mãe de Deus.
A festa da Natividade de Nossa Senhora leva-nos a perguntar: Que vantagem trouxe o seu nascimento para a humanidade? E por que a humanidade deveria celebrar seu nascimento de uma maneira especial?
A Natividade de Nossa Senhora de Andrea di Bartolo
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Na ordem da natureza, Nossa Senhora foi concebida sem pecado original, dando-lhe um valor único e incomparável. Ela era um lírio de uma pureza e beleza incomparáveis que apareceu na noite desta terra de exílio. Ela também tinha todos os dons psicológicos naturais que uma mulher pode ter.
Deus deu a Ela a personalidade mais rica que se possa imaginar. A isso, Ele acrescentou dons da ordem sobrenatural, os tesouros de graças que eram d’Ela. Recebeu, pois, as graças mais preciosas que Deus concedeu a qualquer criatura humana.
Visto que Ela não tinha pecado original, teve todo o uso da razão desde o momento em que foi concebida. Portanto, já no ventre materno, Nossa Senhora tinha pensamentos muito elevados.
O ventre de Sant’Ana era para ela uma espécie de templo. Lá Ela já estava intercedendo pela raça humana e havia começado a rezar - com a maior sabedoria que era um presente de Deus - pela vinda do Messias. Na verdade, estava influenciando o destino da humanidade como fonte de graças.
A Escritura nos diz que a túnica que Nosso Senhor usava era uma fonte de graça que curava quem a tocava; assim sendo, podeis imaginar como Nossa Senhora, a Mãe do Salvador, era uma fonte de graças para quem se aproximasse d’Ela, mesmo antes de nascer. Por isso podemos dizer que no seu nascimento, imensas graças começaram a brilhar para a humanidade e o demônio começou a ser esmagado. Ele percebeu que seu cetro havia sido quebrado e nunca mais seria o mesmo.
Na época de seu nascimento, o mundo estava rastejando no mais radical paganismo. Os vícios prevaleciam, a idolatria dominava tudo, a abominação havia penetrado na própria religião judaica, que era um presságio da Religião Católica. A vitória do mal e do demônio parecia quase completa. Mas em um determinado momento Deus em sua misericórdia decretou que Nossa Senhora deveria nascer. Isso foi o equivalente ao início da destruição do reinado do demônio.
Ela recebeu sabedoria de Deus desde sua concepção. Maria meditando, Van Eyck
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Nossa Senhora foi tão importante que seu aniversário marca uma nova era na Antiga Aliança. A História da Antiga Aliança foi uma longa espera pela vinda do Messias. Após o pecado original de nossos primeiros pais, a humanidade teve de esperar 3.000 anos, talvez mais, pelo Messias.
Mas em certo momento abençoado, a Providência Divina decretou que deveria nascer uma mulher que merecesse a vinda do Messias. Seu nascimento representa a entrada no mundo da criatura perfeita que encontrou graça diante de Deus e teve mérito suficiente para acabar com aquela longa espera.
Todas as orações, sofrimentos e fidelidade dos justos vivos e mortos atingiram seu ápice com sua chegada. Houve patriarcas, profetas, homens justos entre o povo eleito e certamente alguns homens justos entre os gentios que rezaram, sofreram e esperaram; nada disso foi suficiente para atrair a vinda da Redenção.
Mas quando Deus assim o quis, Ele fez a criatura perfeita nascer para ser a Mãe do Salvador. Portanto, a entrada desta criatura primorosa no mundo é o presságio da Redenção. O relacionamento entre Deus e o homem começou a mudar, e os portões do Céu que estavam bem trancados foram semiabertos, permitindo a passagem da luz e da brisa da esperança.
Seu nascimento representa a entrada no mundo de uma nova graça, uma nova bênção, uma nova presença que era um presságio incomparável da presença, bênção e graça que viria com o Salvador.
Por todas estas razões, a Festa da Natividade de Nossa Senhora deve ser muito cara para nós. É o evento que anuncia a queda do paganismo.
Visto que somos filhos de Nossa Senhora não por mérito próprio, mas por escolha d’Ela, neste dia podemos pedir-lhe uma graça especial. Muitos místicos que tiveram visões de Nossa Senhora disseram que nos dias de festa ela visita o Purgatório para libertar muitas almas que leva consigo para o Céu.
O que acontece com a Igreja padecente nos dá uma ideia do que se passa com a Igreja militante. Nestes dias de festa a sua graça nos envolve e ganha inúmeros favores para nós.
Sugiro que no dia sua natividade cada um de nós lhe peça as graças de que necessita. Mas também sugiro que, como contra-revolucionários, peçamos a Ela que nos dê um amor e um desejo ardente pelo Reino de Maria semelhante ao desejo que ela tinha pelo Messias.
Um desejo sábio e reflexivo que limpa nossas almas de qualquer apego a este mundo revolucionário e nos permite ser seus instrumentos para a destruição da Revolução e implantação de seu Reino.
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Prof. Plinio Corrêa de Oliveira | | A secção Santo do Dia apresenta trechos escolhidos das vidas dos santos baseada em comentários feitos pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. Seguindo o exemplo de São João Bosco que costumava fazer comentários semelhantes para os meninos de seu Oratório, cada noite Prof. Plinio costumava fazer um breve comentário sobre a vida dos santos em uma reunião para os jovens para encorajá-los na prática da virtude e amor à Igreja Católica. TIA do Brasil pensa que seus leitores poderiam se beneficiar desses valiosos comentários.
Os textos das fichas bibliográficas e dos comentários vêm de notas pessoais tomadas por Atila S. Guimarães de 1964 até 1995. Uma vez que a fonte é um caderno de notas, é possível que por vezes os dados bibliográficos transcritos aqui não sigam rigorosamente o texto original lido pelo Prof. Plinio. Os comentários foram também resumidos e adaptados aos leitores do website de TIA do Brasil.
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