Seleção Biográfica:
Leopoldo nasceu em Melk, Áustria, em 1073. Aos 23 anos sucedeu ao pai como Margrave da Áustria. Em 1106 Leopoldo se casou com Agnes, filha do Imperador Henrique IV, que lhe deu 18 filhos, 11 dos quais sobreviveram à infância e se tornaram conhecidos por suas virtudes ou grandes feitos.
Aos 23 anos, São Leopoldo se tornou Duque e governou sabiamente por 40 anos |
Em meio a essa numerosa família e as guerras civis que dividiram a Alemanha naquela época, o piedoso Margrave da Áustria manteve seus Estados em paz durante os 40 anos em que os governou, sendo um exemplo de todas as virtudes para seu povo. Sua esposa o acompanhou de perto em suas boas obras.
Ele acrescentou às virtudes católicas uma grande coragem e valor. Nas duas ocasiões em que os húngaros atacaram suas terras, ele obteve vitórias brilhantes. Por esses triunfos ele recebeu o cognome Leopoldo, o Bravo.
Otto, seu quinto filho, ingressou na Ordem de Cister, atraído pelas virtudes de São Bernardo. Seu pai, cheio de alegria, ordenou a construção da Abadia de Heilligenkreuz (Santa Cruz) perto de Viena e a entregou à Ordem.
Após uma vida celebrada por sua santidade e sabedoria em toda a Alemanha, ele morreu em um dos três mosteiros que fundou em 15 de novembro de 1136. Foi canonizado pelo Papa Inocêncio VIII em 1486.
Comentários do Prof. Plinio:
Existem várias notas interessantes neste breve resumo da vida de São Leopoldo.
São Leopoldo III lidera suas tropas no cerco de Regensburg |
Em primeiro lugar, esta é, como tantas outras, uma vida praticamente desconhecida. Os senhores veem que ele era um soberano, um chefe do estado austríaco. Ele era um soberano que era um duque, mas os Duques da Áustria naquela época tinham um status semelhante a um rei. Há uma tendência de longa data de subestimar e ocultar dos católicos os santos que praticavam virtudes que a piedade sentimental não pode deformar, como a virtude da sabedoria.
Essa piedade sentimental não aprecia a virtude da sabedoria e tende a invejar seu valor. Isso insinua que a virtude católica forma homens muito simples e um pouco estúpidos. O resultado é que São Tomás de Aquino é um santo raramente venerado como santo. É raro encontrar uma igreja ou uma catedral com seu nome ou procissões que o homenageiam porque São Tomás é uma expressão de sabedoria.
Essa piedade também projeta a ideia de que um católico não é apenas um pouco simples, mas também medroso. Partindo dessa premissa, esta escola de piedade sentimental tenta colocar na sombra todos os santos que foram corajosos. Os senhores podem imaginar como seria magnífico ter uma igreja ou uma catedral dedicada a São Leopoldo, o Valente, com todos rezando a ele? Ter pessoas dizendo: “São Leopoldo, o Bravo, dê-nos sua coragem para enfrentar nossos inimigos.”
Os senhores podem imaginar um altar com uma estátua de São Leopoldo em armadura completa e uma espada na mão, avançando e gritando contra seus inimigos durante sua luta contra os húngaros. Mas é difícil encontrar tal retrato. Os senhores veem altares com santos que não eram pessoas sentimentais, mas que são distorcidos por aquela escola de piedade sentimental para esconder as virtudes das quais não gosta.
Outro ponto é que esse tipo de piedade sentimental é muito igualitário; é amigo da democracia cristã. Mas tem horror dos santos que foram grandes na esfera temporal. Isso glorificará um santo que foi rei e abandonou sua coroa para entrar na vida religiosa, mas ignora aquele que manteve sua coroa e lutou contra seus inimigos.
O selo de Leopoldo III o mostra como um cavaleiro entrando na batalha |
Fazer isso implica que não é admirável governar um Estado, não é digno entrar na política, não é católico ir para a guerra. As únicas atividades apresentadas como louváveis são rezar e fugir do mundo. No mundo só admite duas categorias: ser canalha ou sacristão. Esta é a visão geral desta escola de piedade sentimental.
Um homem que reinou 40 anos e foi um santo, que verdadeiramente governou seu povo com sabedoria, é um choque grande demais para tal piedade sentimental. Ele é relegado à galeria dos santos aposentados. Paulo VI criou a categoria dos santos banidos, mas antes tínhamos os santos aposentados que eram postos à margem por aqueles imbuídos de piedade sentimental.
Em seus estudos sobre a Idade Média, o Prof. Fernando Furquim destaca o grande número de senhores feudais que eram santos, e eram desprezados. Estes são aqueles que tendemos a adotar para nosso próprio calendário de santos, aqueles que representam as verdades esquecidas do atual calendário de santos. É o complemento necessário ao calendário atual.
Outro ponto de interesse que a grande figura de São Leopoldo nos oferece é que ele era casado com a Duquesa Inês. Esta Duquesa era filha de um dos piores perseguidores da Igreja, o Imperador Henrique IV do Sagrado Império Romano Alemão.
Henrique IV foi aquele Imperador sacrílego e blasfemo que foi forçado a se humilhar perante o Papa São Gregório VII em Canossa. Ele passou três dias e três noites na neve esperando o perdão do Papa. Finalmente, o Papa o perdoou, mas depois Henrique abusou desse perdão papal.
Os senhores podem ver como as coisas eram na Idade Média. Era possível que um homem santo se casasse com a filha de um réprobo como Henrique IV, uma mulher que, apesar de tudo, era uma esposa muito boa e digna. A explicação é que naquela época o pecado tinha muito menos energia, muito menos capacidade de expansão.
Mesmo quando o pecado dominava profundamente uma pessoa, como no caso de Henrique IV - um dos homens mais infames da História - a irradiação de sua pecaminosidade tocava muito menos aqueles ao seu redor, ou mesmo não tocava. Por isso, nos círculos mais próximos desse réprobo, foi possível encontrar uma princesa exemplar.
Os senhores também veem a figura patriarcal do bom Margrave e sua boa esposa que sabiamente governou seu povo por 40 anos. Quem conhece a literatura Europeia pode compreender a boa-fé do camponês europeu da época: era inocente, alegre, tranquilo, confiante, rosado e, quando sorria, apresentava duas pequenas covinhas nas faces; acima de tudo, refiro-me ao camponês austríaco e bávaro da região onde São Leopoldo governou.
Esses camponeses eram filhos de uma longa tradição de inocência. E o bom Duque e a boa Duquesa governavam de acordo com as boas leis da Santa Igreja Romana com sabedoria patriarcal. Deste conjunto de bondade o homem de hoje quase não tem noção, porque vivemos em um mundo mau.
A Abadia de Heilligenkreuz construída por São Leopoldo III, abaixo, os claustros lá hoje
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Hoje, pelo menos os bons sabem que vivemos em um mundo muito ruim. Nesta era de triunfo da Revolução, devemos ter uma mentalidade desconfiada. Mas em uma época em que a Contra-Revolução foi triunfante, havia um tipo de confiança mútua e solidariedade que tornava normal fazer o bem aos outros por amor a Deus. A juventude de hoje nem pode imaginar um mundo assim, mas as coisas eram assim naquela época.
Um pouco desse bem pode ser encontrado no cenário do bom Duque casado com a boa Duquesa que governa seu povo, que vive em um país com picos nevados no inverno e grama verde intensa no verão e pequenas flores do campo florescendo entre o gado, com os camponeses vivendo em pequenos chalés alegres. Toda essa bondade encantadora nos dá a ideia de um paraíso terrestre.
Este homem teve um filho que, seguindo São Bernardo, se tornou um monge cisterciense. São Leopoldo ficou tão contente que construiu uma abadia para agradecer a Deus pela vocação de seu filho. Mas ele também entendeu que sua vocação era diferente. Ele não queria ser cisterciense; ele queria servir a Deus governando virtuosamente o povo, e nisso ele se sobressaiu durante toda a sua vida.
Esses são os traços mais marcantes da vida de São Leopoldo, o Valente.
Concluamos expressando nosso desejo de que, no Reino de Maria, paralelamente às igrejas construídas em homenagem a muitos santos conhecidos, haja também igrejas em homenagem a São Leopoldo, o Valente e outros santos esquecidos com vidas semelhantes. Essas igrejas fariam todos os católicos compreender e amar o conjunto das virtudes católicas. Teríamos assim aspectos mais luminosos do espírito católico brilhando diante dos olhos de todos os povos.
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Prof. Plinio Corrêa de Oliveira | | A seção Santo do Dia apresenta trechos escolhidos das vidas dos santos baseada em comentários feitos pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. Seguindo o exemplo de São João Bosco que costumava fazer comentários semelhantes para os meninos de seu Oratório, cada noite Prof. Plinio costumava fazer um breve comentário sobre a vida dos santos em uma reunião para os jovens para encorajá-los na prática da virtude e amor à Igreja Católica. TIA do Brasil pensa que seus leitores poderiam se beneficiar desses valiosos comentários.
Os textos das fichas bibliográficas e dos comentários vêm de notas pessoais tomadas por Atila S. Guimarães de 1964 até 1995. Uma vez que a fonte é um caderno de notas, é possível que por vezes os dados bibliográficos transcritos aqui não sigam rigorosamente o texto original lido pelo Prof. Plinio. Os comentários foram também resumidos e adaptados aos leitores do website de TIA do Brasil.
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