Seleção Biográfica:
Nascido em 1386 na cidade de Capistrano no Reino de Nápoles, Itália, João ingressou na faculdade de direito em Perúgia, onde se tornou um famoso jurista, tendo sido nomeado governador daquela cidade em 1412, aos 26 anos. Entrou no Mosteiro Franciscano de Monte depois de se desiludir com o mundo. Seu superior, o Beato Marcos de Bérgamo, testou fortemente sua vocação antes de ser aceito na Ordem. Por exemplo, certa vez, João recebeu ordens de cavalgar em um burro pelas ruas de Perúgia, com a cabeça voltada para a cauda do animal e usando uma mitra de papelão com seus piores pecados escritos nela.
Com o apoio de São Tiago das Marcas e de São Bernardino de Siena, ele superou todas as dificuldades e teve grande sucesso em seu apostolado. Teve a amizade e o apoio de quatro Papas, reformou sua Ordem, liderou uma Cruzada e, com seu extraordinário dom de pregar, evangelizou na Itália, França, Alemanha, Áustria, Hungria e Polônia. Converteu incontáveis pagãos, fanáticos hereges e judeus obstinados, e trouxe centenas de jovens para a vida religiosa. Tinha uma graça especial para reconciliar brigas. Foi nomeado Inquisidor contra os hussitas e lutou tenazmente contra essa heresia.
Foi descrito pelo futuro Pio II, então Bispo, como “pequeno, velho, seco, magro, esgotado, nada mais que pele e ossos. Sempre alegre e incansável, ele pregou frequentemente para audiências de 20 ou 30 mil pessoas. Ele costumava resolver as questões mais difíceis para a satisfação dos simples e dos eruditos.”
São João de Capistrano, centro, segurando um Crucifixo, no meio da Batalha de Belgrado, 23 de julho de 1456. - Cerco de Belgrado por Huge Loischinger, Museu Nacional Húngaro
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Após a queda de Constantinopla nas mãos islâmicas, ele pregou a Cruzada contra os turcos otomanos, exortando os católicos a formar um exército para resistir aos invasores, que ameaçavam a Cristandade com sua marcha vitoriosa para o noroeste da Europa. Aos 70 anos foi indicado pelo Papa Calisto II como delegado e conselheiro para a guerra contra os turcos.
Ele viajou para Belgrado para encorajar os 40.000 soldados católicos que estavam cercados por Maomé II. Por meio de uma finta inteligente, ele passou pela guarda turca, entrou na cidade e começou a pregar constância na luta e confiança na vitória. Toda a Cristandade estava rezando por um resultado bem-sucedido para a cidade.
Os soldados, sob a influência do Santo, lutaram e rezaram. João Capistrano acompanhou as tropas em suas manobras mais difíceis: os ataques surpresa e recuperações. Embora tenha corrido os maiores riscos, ele nunca foi ferido por um único projétil. Foi por causa dele, acima de tudo, que Belgrado foi salva. Esta vitória paralisou a invasão turca, que por sua vez salvou toda a Europa.
Então, exausto da batalha, ele foi levado do campo pela peste bubônica. Poucos meses depois, morreu em 1456 no Mosteiro Franciscano de Villach, na Áustria.
Comentários do Prof. Plinio:
Pode-se tentar fazer uma classificação dos santos. Alguns foram fundadores de nações, outros foram organizadores de nações, ainda outros foram fundadores de ordens religiosas. Então, há uma categoria de santos que eram as paredes defensivas da Casa de Deus. Eles constituem uma espécie de santo cujo objetivo principal é lutar, destruir os inimigos de Deus.
Têm a capacidade de pôr fogo nas almas para as estimular na defesa de Deus, para as conduzir ao combate. E no combate sabem sustentar a coragem dos bons e também atacar os inimigos. Fazendo isso, eles defendem as muralhas da Casa de Deus. Essa é a missão desta categoria de santos. São João de Capistrano foi um desses santos.
Considere sua vocação: primeiro, ele foi um Inquisidor e um grande lutador contra os hereges no campo doutrinário, um lutador que também converteu muitos deles. Não acho que lutar contra os hereges e os destruir seja uma missão negativa, porque os hereges já são negativos, e colocar o negativo com o negativo é fazer o positivo. Ninguém diria que um médico que destrói os vírus que atacam o corpo humano estaria fazendo algo negativo. O mesmo princípio se aplica aos Inquisidores. Eles foram os médicos que destruíram os vírus que atacavam a saúde espiritual da Igreja e da Cristandade.
Segundo, ele foi um grande orador que pregou para audiências de 20-30.000 pessoas. Há uma coisa curiosa que o texto não relata, que é a maneira como as pessoas da época ouviam um orador. Não havia salão grande o suficiente para receber essas multidões, então o palestrante faria seu discurso ao ar livre. Mas surgiria um problema quando o vento mudasse, porque então a voz não poderia mais ser ouvida em alguns lugares entre a multidão.
Para resolver esse problema, foi estabelecido o costume de ter uma bandeira pendurada em um local alto que todos pudessem ver. Quando o vento mudasse, a bandeira ondulante indicaria a mudança e as pessoas saberiam onde precisariam ficar para ouvir a voz do palestrante e se moveriam para lá para acomodar a mudança do vento. Portanto, era um público movente. Mas voltemos ao nosso São João de Capistrano.
Terceiro, ele pregou uma cruzada e fez os arranjos diplomáticos necessários para os católicos lutarem contra os turcos. Mas ele não ficou satisfeito com isso. Ele deu um passo adiante. Ele achou necessário estar presente na frente de batalha. Embora ele não pegasse em armas pessoalmente, já que um sacerdote não deveria derramar sangue humano, ele estava lá como a alma do combate.
Estava em toda parte dando apoio e encorajamento. Foi sua ação que salvou Belgrado, que naquele momento era o ponto fraco estratégico da Cristandade. Ele interrompeu a marcha dos turcos para o Ocidente e frustrou seu plano de entrar na Hungria, Áustria e Itália até chegarem a Roma para subjugar a Santa Sé.
Rico em mérito e anos, ele morreu. Sua figura permanece na História como um grande lutador. Talvez seja por isso que hoje não ouvimos muitos elogios a São João de Capistrano.
Um último ponto que merece comentário neste texto é o do convívio dos santos. Essa associação de irmãos é uma das coisas mais belas da História da Igreja. Um santo já é uma coisa rara e admirável. Mas esta comunhão de muitos santos, o convívio que às vezes existia entre eles, e a maneira como a santidade distinta de um influencia o outro e, neste sentido, multiplica a santidade - tudo isso é verdadeiramente maravilhoso.
São João de Capistrano viveu em um ambiente de santidade. Seu superior era o Beato Marcos de Bérgamo. Ele foi discípulo de São Bernardino de Siena e colega de escola de São Tiago das Marcas. Havia quatro santos em uma pequena região da Itália. Quatro santos da mesma ordem religiosa vivendo ao mesmo tempo. Os senhores podem imaginar a atmosfera sobrenatural que reinava ali sob tais condições?
A única coisa que nos resta a fazer é recomendar-nos às orações do grande São João de Capistrano.
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Prof. Plinio Corrêa de Oliveira | | A secção Santo do Dia apresenta trechos escolhidos das vidas dos santos baseada em comentários feitos pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. Seguindo o exemplo de São João Bosco que costumava fazer comentários semelhantes para os meninos de seu Oratório, cada noite Prof. Plinio costumava fazer um breve comentário sobre a vida dos santos em uma reunião para os jovens para encorajá-los na prática da virtude e amor à Igreja Católica. TIA do Brasil pensa que seus leitores poderiam se beneficiar desses valiosos comentários.
Os textos das fichas bibliográficas e dos comentários vêm de notas pessoais tomadas por Atila S. Guimarães de 1964 até 1995. Uma vez que a fonte é um caderno de notas, é possível que por vezes os dados bibliográficos transcritos aqui não sigam rigorosamente o texto original lido pelo Prof. Plinio. Os comentários foram também resumidos e adaptados aos leitores do website de TIA do Brasil.
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