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Festas de Nossa Senhora

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Nossa Senhora Auxiliadora
Auxilium Christianorum – 24 de Maio


Prof. Plinio Corrêa de Oliveira

As descrições da Batalha de Lepanto baseadas nas crônicas católicas da época não mencionam um fato importante encontrado nas fontes muçulmanas. Este último relata que, em certo momento da batalha, quando as forças católicas estavam sendo derrotadas, a frota turca avistou uma majestosa e terrível Senhora no céu. Ela estava olhando para eles com um olhar tão ameaçador que eles não puderam suportar, perderam a coragem e fugiram.

A statue of Our Lady Help of Christians

Nossa Senhora Auxiliadora

A batalha em curso foi a maior batalha naval da História até aquela data, e toda a Cristandade esperou em um suspense compreensível pelo seu resultado. Em certo sentido, o futuro da Europa estava sendo decidido ali. O protestantismo criou uma fratura na Cristandade, e guerras religiosas estavam surgindo em toda parte.

Como suas forças eram necessárias em várias frentes, as nações católicas provavelmente não poderiam ter enfrentado uma invasão muçulmana no sul da Itália, o que teria sido a consequência normal, se a Batalha de Lepanto tivesse sido perdida.

Se a Itália fosse invadida, em pouco tempo o Papa teria sido forçado a deixar seus territórios papais para evitar tornar-se um prisioneiro. Muito provavelmente, ninguém teria sido capaz de impedir o ímpeto turco na Europa ocidental.

Nessa imensa batalha, três potências católicas estiveram envolvidas: Espanha, a nação mais poderosa da época; Veneza, que era muito rica e tinha uma força naval considerável na época, e Gênova. Havia também uma pequena frota papal, tudo que o Papa Pio V poderia reunir para adicionar sua força material para enfrentar o inimigo comum.

Nessa atmosfera de suspense geral, a batalha aconteceu. As descrições da época relatam como foi terrível. Soldados católicos estavam pulando em navios muçulmanos; os turcos estavam entrando nas embarcações católicas - um lado matando o outro com tremenda carnificina. Os navios afundavam aqui e ali; soldados e cavaleiros em armaduras flutuaram brevemente nessas águas turbulentas, para depois afundarem nas profundezas e encontrar a morte. Canhões rugiam, gritos de raiva e desespero eram ouvidos acima do barulho; um alvoroço terrível e um tumulto enorme por toda parte.

No meio de toda aquela confusão, dois homens rezavam a Nossa Senhora para que desse a vitória aos católicos: naquelas águas turbulentas estava Dom João d’Áustria, o comandante da Armada Católica; e em Roma, havia São Pio V.

A detail from a painting of the battle of Lepanto

Um detalhe de uma cena de batalha de Lepanto reflete um tumulto geral e confusão em todos os lugares

Pode-se imaginar a profunda calma e grande autocontrole necessários para um homem que, no ápice da batalha com homens lutando por todos os lados dele, podia, no entanto, discernir a linha geral da batalha e notar que ela estava indo mal, embora os soldados católicos estivessem lutando da melhor maneira possível. Depois, recordando os ensinamentos da nossa Fé, decidiu lutar até ao último suspiro pela causa da Cristandade, ainda com a esperança de que Nossa Senhora interviesse. Quer dizer, uma pessoa como esta - e tal pessoa foi Dom João d’Áustria - confiando contra toda confiança. Contra todas as possibilidades humanas, ele esperava que Nossa Senhora interviesse.

Na verdade, Ela interveio, aparecendo no céu para ameaçar o inimigo e a armada muçulmana fugiu. Mas os guerreiros católicos não A viram. Ela não apareceu para eles. Os católicos tinham o mérito de praticar uma confiança cega, um puro ato de fé. Só quando o inimigo mais tarde relatou o milagre é que eles perceberam que Ela os havia ajudado na pior hora.

St. Pius V, by El Greco

Papa São Pio V, de El Greco

Os cavaleiros católicos, principalmente aqueles que no comando perceberam a linha geral que a batalha estava tomando, tinham de considerar seriamente que morreriam ou seriam feitos prisioneiros e escravos dos turcos em consequência de sua derrota. Mas eles confiaram em Nossa Senhora que Ela impediria que a causa da Cristandade perecesse. Isso representou uma extrema confiança da parte deles.

Ao mesmo tempo, São Pio V também rezava no Vaticano. Ele estava em uma reunião sobre os balanços financeiros do Vaticano, um assunto importante, pois implicava em pecado mortal se alguém roubasse dinheiro da Igreja. Portanto, São Pio V teve de analisar vigilantemente as figuras para evitar ser cúmplice de tal pecado.

De repente ele se levantou, provavelmente movido por uma inspiração sobrenatural, e foi até a janela da sala para rezar o Rosário. Enquanto rezava, ele recebeu a revelação de que Dom João d’Áustria havia vencido a batalha. Voltou à mesa e disse: "Não é hora de falar de negócios; nossa grande tarefa neste momento é agradecer a Deus pela vitória que acaba de conceder à Armada Católica."

A notícia da revelação Papal se difundiu por Roma e o povo começou a comemorar. Alguns podem ter duvidado da revelação e perguntado: “É realmente verdade?”

Então, passados uns dias, um mensageiro chegou e deu o relatório oficial. O Papa ouviu o relato com atenção, sem qualquer agitação, com a sua habitual grandeza e benevolência. Então, uma grande festa foi celebrada em Roma, os sinos de todas as Igrejas da Cidade Eterna tocaram. De Roma, a notícia tomou toda a Itália e, em seguida, toda a Cristandade. Essa foi a grande alegria pela vitória de Lepanto.

Há uma aplicação para nós?

Don Juan, Marc'Antonio Colonna, and Doge Sebastian Venier

Comandantes das frotas Católicas. A partir da esquerda, Dom João d’Áustria, Marco Antonio Colonna, e Doge Sebastian Venier

Qual foi o maior heroísmo dos cavaleiros da batalha de Lepanto? Não foi coragem para enfrentar os turcos. Certamente, para enfrentar os inimigos em uma batalha é preciso coragem, mas pode-se encontrar essa coragem em todas as batalhas da História.

Na minha opinião, o maior heroísmo daqueles católicos que lutaram em Lepanto foi o heroísmo de acreditar que a batalha seria vencida por Nossa Senhora quando tudo parecia perdido.

Esse ato de confiança não foi um ato imprudente ou insensato, uma espécie de resignação para aceitar o que quer que acontecesse. Foi um ato de fidelidade a uma certa voz interior da graça que convidou cada um a confiar e rezar para que ela desse a vitória.

A boa causa ao longo da história muitas vezes se encontra em uma situação semelhante à dos católicos de Lepanto. Tudo parece perdido humanamente falando, mas Nossa Senhora coloca em nossas almas a esperança de que ela vencerá a batalha pela glória maior de Deus. Então, precisamos confiar nessa voz contra todas as probabilidades e aparências em contrário.

Muitas vezes, a derrota parece inevitável, e a tentação é dizer: “Ela prometeu, mas não aconteceu. Pelo contrário, tudo piorou”. O verdadeiro heroísmo é confiar mesmo nas piores condições. É recusar ceder à tentação e responder: “Quanto pior fica, mais perto estamos da sua intervenção, porque Nossa Senhora não mente, e eu sei que esta voz que fala dentro de mim é a d’Ela.”

Existe algum critério para se saber quando uma voz interior vem de Nossa Senhora ou não? Sim, existe.

Quando a perspectiva de alguma coisa futura nos deixa deprimidos, desanimados e com vontade de desistir, essa perspectiva normalmente vem do demônio.

Pelo contrário, se a perspectiva de fazer algo muito difícil, que normalmente causaria medo, ainda assim produz entusiasmo, nos dá força para praticar a virtude e nos inspira a esperança de vitória em uma situação quase impossível, então provavelmente é a voz de a graça falando em nossas almas.

Virgin of Lepanto, Spain

Virgem de Lepanto em Granada, Espanha

A graça age apenas dessa maneira? Não. Frequentemente, a graça inspira resignação. Nossa Senhora pode nos pedir que sejamos conformados com a derrota. Então ela nos dá forças para suportar o sofrimento da derrota. Santa Teresinha de Lisieux, por exemplo, recebeu essa graça para se preparar para a morte e depois foi para o Céu.

As duas perspectivas são diferentes. Quando Nossa Senhora quer dar uma vitória, ela nos prepara para isso, e não para a morte.

Isso é confirmado pela reação de São Pio V depois de conhecer a vitória de Lepanto. Ele voltou-se para Deus e repetiu a oração do Profeta Simeão: “Agora tu despedes em paz teu servo, ó Senhor, segundo a tua palavra, porque meus olhos viram a minha salvação”. Isto é, “Aquela coisa especial pela qual nasci, a vitória que esperava para a Vossa glória, aconteceu. Com isso, minha missão está cumprida. Agora podes levar minha alma, pois não tenho mais nada para fazer nesta terra

O grande São Pio V tinha ouvido a mesma voz interior dos cavaleiros de Lepanto. Neste caso, aplicam-se as palavras de Nosso Senhor: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu as conheço, e elas me seguem” (João 10,27).

A voz de Nossa Senhora fala às nossas almas e nos diz com firmeza: “A civilização católica será restaurada, o Reino de Maria será estabelecido na terra.” Esta é a voz que nos dá coragem para lutar contra todos os inimigos, nas piores condições e sozinhos. Não há dúvida de que essa voz é autêntica.

O que aconteceu em Lepanto com aqueles cavaleiros e soldados também acontecerá conosco. Teremos a vitória de Nossa Senhora.

Esta é, em minha opinião, a mensagem interior que Nossa Senhora Auxiliadora deu naquela batalha e hoje nos dá. Peçamos a Ela que nos dê as graças necessárias para sermos fiéis a Ela.


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Prof. Plinio Corrêa de Oliveira
A secção Santo do Dia apresenta trechos escolhidos das vidas dos santos baseada em comentários feitos pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. Seguindo o exemplo de São João Bosco que costumava fazer comentários semelhantes para os meninos de seu Oratório, cada noite Prof. Plinio costumava fazer um breve comentário sobre a vida dos santos em uma reunião para os jovens para encorajá-los na prática da virtude e amor à Igreja Católica. TIA do Brasil pensa que seus leitores poderiam se beneficiar desses valiosos comentários.

Os textos das fichas bibliográficas e dos comentários vêm de notas pessoais tomadas por Atila S. Guimarães de 1964 até 1995. Uma vez que a fonte é um caderno de notas, é possível que por vezes os dados bibliográficos transcritos aqui não sigam rigorosamente o texto original lido pelo Prof. Plinio. Os comentários foram também resumidos e adaptados aos leitores do website de TIA do Brasil.



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