Seleção Biográfica:
Acima, São Bruno recebe um mensageiro de Roma pedindo-lhe para ajudar a Santa Sé
Abaixo, São Bruno homenageia seu ex-aluno, o Papa Urbano II
Pinturas de Eustache Le Sueur |
São Bruno nasceu em Colônia, Alemanha, por volta do ano 1030. Ainda muito jovem, foi para Reims, na França, cujas escolas eram famosas. A sua grande inteligência e aplicação ao estudo conquistaram a admiração do Arcebispo de Reims, que o convidou a ser diretor de todos os estabelecimentos de ensino da Diocese.
O novo mestre tinha numerosos discípulos piedosos, entre eles Eudes de Châtillon, futuro Papa Urbano II, pregador da Primeira Cruzada. São Bruno era sábio e erudito, aprendeu Grego e Hebraico. Ele também tinha um dom natural para a poesia e uma disposição amigável. Essas características explicam o entusiasmo gerado por seus comentários sobre as Sagradas Escrituras.
Seu ensino ortodoxo e a fama de sua santidade levantaram muitos inimigos contra ele. O Arcebispo de Reims estava engajado na simonia, dando privilégios eclesiásticos em troca de dinheiro. Ao perceber isso, São Bruno o denunciou às autoridades eclesiásticas superiores, e o indigno Prelado foi chamado a responder por seus atos. A resposta do Prelado foi perseguir São Bruno. Bruno perdeu seu posto, seus títulos e seus bens e foi exilado.
Só em 1080, depois de vinda de Roma uma sentença definitiva contra o perseguidor, é que São Bruno voltou. Ele foi convidado para ser o Arcebispo de Reims, como sucessor do mau Prelado. Bruno, porém, recusou. Tendo chegado a compreender a vaidade das coisas mundanas, ele fez o voto de abandonar o mundo e servir a Deus na solidão.
Em 1084, ele, com seis companheiros, foi para o Dauphiné, uma província da França, e pediu a seu ex-aluno, Santo Hugo de Châteauneuf, Bispo de Grenoble, que lhes proporcionasse um lugar isolado para morar. Santo Hugo os conduziu e instalou em um local selvagem dos Alpes chamado Chartreuse, em meio a rochas escarpadas e quase inacessíveis. Bruno logo iniciou a construção de uma ermida, que foi concluída um ano depois e sua capela consagrada. O estilo deste pequeno edifício serviu de modelo para todos os Cartuxos da França e de outros países.
A vida tranquila de oração e retiro de São Bruno durou pouco. Em 1090, uma carta do Papa Urbano II o chamou a Roma para ajudar a Sé Apostólica. Depois de passar alguns meses na corte papal, Bruno novamente conseguiu retirar-se para um eremitério no sul da Itália, onde o conde Roberto da Calábria havia lhe dado um grande pedaço de terra. Foi lá que em 1101 ele dormiu serenamente no Senhor.
Comentários do Prof. Plinio:
A vida de São Bruno levanta várias considerações importantes.
Acima, a atual casa-mãe, La Grande Chartreuse, no local do primeiro mosteiro de São Bruno
Abaixo, as linhas austeras e grandiosas do claustro refletem o espírito Cartuxo
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Em primeiro lugar, podemos perceber uma das origens espirituais das Cruzadas. Pois, a primeira Cruzada foi pregada pelo Papa Urbano II, cuja formação espiritual foi dada por São Bruno, um amante da solidão. Portanto, na base desse movimento de grande atividade, encontramos o espírito contemplativo.
As Cruzadas são uma das maiores glórias da História da Igreja. Elas despertam o entusiasmo dos verdadeiros católicos e a indignação de todos os modernistas e progressistas que infestam a Igreja hoje.
João XXIII, por exemplo, costumava dizer que as odiava tanto que não suportava ouvir o nome. É agradável considerar que o espírito de silêncio e recolhimento pode produzir uma ação tão vigorosa e forte como a Primeira Cruzada.
Segundo, quando São Bruno foi perseguido pelo indigno Arcebispo, deu o exemplo do que devemos fazer hoje quando se está sob uma má autoridade eclesiástica. Deve-se defender a ortodoxia, como ele fez. O Arcebispo era um simoníaco, um homem de princípios ruins. São Bruno resistiu, denunciou-o e defendeu a verdade.
Ele não desobedeceu em questões em que o Prelado ainda tinha autoridade legítima, mas não fez nenhuma concessão na ortodoxia. Desta forma, nosso dever é obedecer à Igreja Católica, a doutrina tradicional dos Papas. E se alguém em nome da Igreja ensina princípios falsos, devemos dizer que ele está errado. Foi o que fez São Bruno, e por isso foi perseguido.
Terceiro, no exílio e na solidão, longe da opulência do mundo e do esplendor eclesiástico, nasceu no seu espírito a ideia de abandonar todas essas coisas e dedicar-se a Deus. Nesse estado de espírito, ele foi convidado a retornar a Reims como seu novo Arcebispo.
Ele tinha uma grande reputação de santidade e erudição, e era um orador muito querido, então tinha o que era necessário para ser um excelente Arcebispo.
A posição do Arcebispo de Reims era uma das mais importantes da Europa naquela época. Não se compara à posição do Arcebispo de Reims hoje, quando ele é apenas um Arcebispo entre outros. Mas naquela época, o Rei da França era coroado em Reims, o Arcebispo de Reims tinha o título de Duque e Par da França e a Catedral de Reims era uma das mais frequentadas da Cristandade, um monumento que chamava a atenção de todos no mundo católico por sua arte religiosa. Ou seja, o Arcebispo de Reims era uma figura internacional. São Bruno foi convidado para este cargo.
Os senhores podem imaginar o consolo que esse convite representou. Ele havia sido severamente perseguido pelo mau Arcebispo de Reims, que acabara de ser deposto, e agora poderia ser seu sucessor. Seria uma vitória brilhante para ele. Assumir tal posição também permitiria uma enorme irradiação de sua virtude e talento. Ele poderia facilmente se convencer de que seria mais útil para a Igreja como Arcebispo de Reims do que como um eremita em uma floresta ou deserto.
Acima, a morte de São Bruno no Mosteiro da Calábria, cujas ruínas você ainda pode visitar hoje, abaixo
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Convidado para o cargo, São Bruno recusou. Ele se afastou dessa posição elevada para realizar seu desejo, que era ter uma vida contemplativa em plena solidão, meditando em Deus, Nosso Senhor Jesus Cristo. Por isso, ele escolheu abandonar tudo e ser desconhecido de todos para buscar exclusivamente a Deus.
Quarto, ele construiu um eremitério, um pequeno edifício incluindo uma capela. Esse edifício tornou-se famoso em toda a Cristandade por causa da virtude dos homens que ali viviam. Isso é algo que os modernistas e progressistas não entendem.
Eles entendem o apostolado exclusivamente como uma ação pela qual um apóstolo corre atrás de outros para convertê-los. É uma forma legítima de apostolado, mas não é a única.
Existe outro tipo pelo qual o apóstolo foge dos outros e, ao fazê-lo, os atrai para o seu próprio estilo de vida. Esta foi a forma de apostolado que São Bruno praticou e tornou famosa com a sua ermida.
Quinto, ele queria viver em isolamento e solidão, mas de repente ele recebeu uma carta de seu ex-aluno, o Papa Urbano II, convidando-o a auxiliar a Santa Sé. Ele foi e realizou o que lhe foi pedido. Assim que sua tarefa foi concluída, ele se retirou para um lugar solitário no sul da Itália, viveu lá por mais de dez anos e morreu tranquilamente.
O resultado desta vida é que ele fundou uma ordem religiosa que é um modelo de solidão. Os cartuxos vivem em maior solidão mais do que os trapistas. Estes últimos vivem em comunidade, num mosteiro, mas os primeiros vivem sozinhos, isolados em pequenas ermidas ou celas privadas, e se reúnem apenas para a oração do Santo Ofício e as refeições. Essa solidão impressionou o mundo e aumentou sua admiração. Tornou-se uma das glórias da Igreja Católica e se propagou por todo o mundo.
A Ordem dos Cartuxos sob o manto protetor de Nossa Senhora
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O que devemos pedir a São Bruno no dia de sua festa?
* O amor ao recolhimento e à humildade, a não ter pretensões, a amar viver desconhecido e ignorado pelos outros.
* Mesmo que sejamos obrigados a viver entre os outros, não devemos nos preocupar com o que eles pensam de nós.
* Amar a solidão espiritual, voltada exclusivamente para Nosso Senhor Jesus Cristo, Nossa Senhora e a Santa Igreja Católica.
* Ser fiel à graça e à ortodoxia da verdadeira doutrina Católica e lutar pela salvação de nossas almas para que possamos ir para o Céu e ver Deus face a face.
Devemos também pedir a São Bruno que zele pela desoladora situação da Igreja Católica e ajude a restaurá-La, e n’Ela, a ordem por ele fundada, os cartuxos.
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Prof. Plinio Corrêa de Oliveira | | A seção Santo do Dia apresenta trechos escolhidos das vidas dos santos baseada em comentários feitos pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. Seguindo o exemplo de São João Bosco que costumava fazer comentários semelhantes para os meninos de seu Oratório, cada noite Prof. Plinio costumava fazer um breve comentário sobre a vida dos santos em uma reunião para os jovens para encorajá-los na prática da virtude e amor à Igreja Católica. TIA do Brasil pensa que seus leitores poderiam se beneficiar desses valiosos comentários.
Os textos das fichas bibliográficas e dos comentários vêm de notas pessoais tomadas por Atila S. Guimarães de 1964 até 1995. Uma vez que a fonte é um caderno de notas, é possível que por vezes os dados bibliográficos transcritos aqui não sigam rigorosamente o texto original lido pelo Prof. Plinio. Os comentários foram também resumidos e adaptados aos leitores do website de TIA do Brasil.
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