NOTÍCIAS: 10 de maio de 2023 (publicada em inglês a 31 de março de 2023)
Panorama de Notícias
'NOSSO IRMÃO JUDAS' -
Com a aproximação da Semana Santa, o órgão oficial do Vaticano, L’Osservatore Romano, publicou um artigo de Simone Caleffi intitulado “Nosso irmão Judas – Dúvidas e perguntas sobre a traição de Judas.” Seu objetivo é persuadir os leitores a simpatizar com Iscariotes e sugerir que ele foi salvo pela misericórdia de Nosso Senhor Jesus Cristo.
O artigo parte após vários incidentes em que o Papa Francisco mencionou Judas como um homem que foi mal interpretado pela Igreja Católica e pela História. Na verdade, ele seria um homem que se arrependeu de sua ação infame. Ele seria o patrono e o símbolo das “minorias marginalizadas” oprimidas por uma Igreja tirânica.
Francisco está tão convencido da “inocência” de Judas que declarou publicamente que mantém uma foto retratando seu suicídio atrás de sua mesa de trabalho papal. Ele expressou em várias ocasiões suas novas opiniões sobre o Traidor – a quem a Igreja pela Tradição condena ao Inferno. A TIA analisou algumas das declarações de Francisco (aqui, aqui e aqui)
Essa tendência não é nova. Pe. Hans Urs von Balthasar, o mentor de João Paulo II e Bento XVI, considerou que Judas era o “lado negro” da Redenção, enquanto Nosso Senhor Jesus Cristo era o “lado luminoso” dela. Ele chegou a sugerir que a Redenção foi feita simultaneamente por Jesus suspenso na cruz e Judas pendurado na figueira. Jesus com os dois ladrões Dimas e Gesdras e o traidor Judas constituiriam a Igreja dos Condenados, a melhor expressão da missão de Cristo.
Segundo von Balthasar, a Igreja mais verdadeira que representa o aspecto mais profundo da realidade não é nem a Igreja Petrina, a Igreja Oficial dos Apóstolos – que fugiram na Paixão – nem a Igreja Joanina, a Igreja do Amor representada por São João, Nosso Senhora e as Santas Mulheres ao pé da Cruz. Esses dois modos de Igreja refletem apenas o lado positivo do sofrimento. A Igreja mais unida a Nosso Senhor e una com Jesus Cristo é a Igreja de Judas, a Igreja dos Condenados.
Analisei extensivamente esta teoria macabra com a devida documentação – junto com outras ofensas contra a Nossa Santa Madre Igreja – em um dos volumes de minha coleção sobre o Vaticano II. (1)
Este é o pensamento por trás do artigo mencionado no L’Osservatore Romano.
Este artigo “Nosso irmão Judas,” bem como a posição de Francisco e a tese falha de von Balthasar, são baseados em uma interpretação distorcida de uma passagem de São Mateus, que diz:
“Então Judas, que o traiu, vendo que Ele foi condenado, arrependendo-se, trouxe de volta as trinta moedas de prata aos principais sacerdotes e anciãos, dizendo: Pequei ao trair sangue inocente. (Mt 27,3-4)
Uma interpretação extremamente sentimental desta passagem está sendo apresentada hoje aos católicos para convencê-los de que Judas realmente foi sincero em seu arrependimento. No entanto, a interpretação da Igreja dessas palavras tem sido exatamente o oposto por muitos séculos. De fato, o mais famoso exegeta Pe. Cornélio a Lapide, S.J., refletindo este ensinamento católico multissecular, afirma:
“O arrependimento que Judas buscou não foi um arrependimento verdadeiro e genuíno, pois isso inclui a esperança do perdão, mas foi compelido pela tortura e pelo desespero, como o gerado pela má consciência, que atormenta e reprova os condenados que são atormentados pelo fogo do inferno.” (In Mattheum 27,3-4 in Commentaria in Scripturam Sacram, Paris: Louis Vivés, 1877, vol. 15, p. 597)
Este é um ensinamento bastante severo da Igreja, que por si só mostra como fora de lugar a interpretação sentimental de Francisco, von Balthasar e Caleffi é. Às vezes, esses autores progressistas citam a maldição de Nosso Senhor sobre Judas, mas tentam descartá-la dizendo que depois Ele tratou Judas como um amigo no Jardim do Getsêmani.
Na verdade, essa maldição não pode ser descartada, pois no Horto, Judas, ao negar aquela última graça, realizou sua infame traição.
Comentando a passagem em que Nosso Senhor amaldiçoa Judas , “Ai daquele por quem o Filho do Homem será traído: melhor seria para ele, se esse homem não tivesse nascido.” (Mt 26,24), a Lapide afirma:
“A traição de Judas foi um sacrilégio, cometido diretamente contra a própria pessoa de Cristo e de Deus: portanto, foi verdadeiramente um cristicídio e um deicídio. Portanto, é muito crível que Judas habite nas profundezas mais profundas do Inferno ao lado de Lúcifer, e seja torturado de maneira mais amarga. E isso é o que significa ai, e o que Cristo pretendia aqui em relação aos outros réprobos.” (Mt 26,24, ibid., p. 553)
Também comentando o ai de Nosso Senhor, São Jerônimo diz que “tanto a condenação quanto o Inferno estavam ameaçados; pois é muito melhor não existir, do que existir a ponto de ser sempre miserável e perpetuamente queimando no Inferno.” (Apud a Lapide, ibid., p. 553)
Esses autores progressistas também ignoram a passagem mais severa sobre Judas em que São João afirma que o Diabo se apossou da alma de Judas depois que ele recebeu a Comunhão na Última Ceia:
“Respondeu Jesus: É aquele a quem eu der o bocado que vou molhar. Molhando, pois, o bocado, deu-o a Judas Iscariotes, filho de Simão. Atrás do bocado, entrou nele Satanás.” (Jo 13,26-27)
De fato, a Lapide explica:
“Judas, sendo ingrato a este amor de Cristo, tomou o pão molhado [a Comunhão] de maneira errada: pois ele pensou que Cristo, por ódio e desprezo, para revelar seu crime aos Apóstolos, daria a ele o pão molhado. Portanto, Judas, tendo então se afastado da vocação de Apóstolo de Cristo e do Colégio dos Apóstolos, foi para a família de Satanás e dos judeus, como desertor e apóstata.” (Jo 13,27, a Lapide, ibid, vol 16, p. 532)
Santo Ambrósio, por sua vez, comenta a mesma passagem:
“Quando o próprio Satanás entrou no coração de Judas, Cristo retirou-se dele, e no momento em que ele recebeu Ele [na Eucaristia], ele O perdeu. Assim, está escrito: Depois da Comunhão, Satanás entrou nele.” (Apud ibid.)
A Lapide lista alguns santos famosos para explicar os diferentes motivos pelos quais o Diabo se apossou de Judas:
“E o Diabo entrou por três motivos: primeiro, por causa da ingratidão de Judas, diz Santo Agostinho, pois quando Cristo realizou todos os atos oficiais de caridade para com ele e Judas não se comoveu, ele foi deixado para ser totalmente possuído pelo Diabo.
“Em segundo lugar, porque o Diabo já sabia por aquelas palavras [anteriores] do Senhor e pelos sinais que Judas era obstinado no mal e abandonado pelo Senhor, como diz Crisóstomo.
Em terceiro lugar, visto que o próprio Judas percebeu que já estava revelado a todos, e isolado dos discípulos e do Mestre, e por isso foi confirmado no mal e, no desespero, claramente entregou seu coração ao Diabo... diz Eutímio segundo São João Crisóstomo.” (ibid)
Estes textos são apenas uma amostra da severidade de Nosso Senhor, dos Evangelistas e do Magistério Tradicional da Igreja em relação a Judas e à infame traição que ele fez do Messias. Servem para mostrar quão errônea é a interpretação de que Judas foi um homem sincero que se converteu no fim da vida.
O Papa Francisco e esses autores não conhecem o Magistério sobre este tema? Eles obviamente sabem disso. Eles propositalmente avançam em sua agenda com o claro desejo de reverter esse ensinamento e impor seu próprio novo pensamento, que é totalmente contrário à fé católica.
Sugiro ao meu leitor que desconfie daqueles que defendem Judas. Amanhã eles podem estar defendendo o mestre de Judas, aquele mesmo que entrou em sua alma depois que ele recebeu a Comunhão na Quinta-feira Santa.
Esta é a minha contribuição para uma meditação da Semana Santa dois dias antes de começar.
“Dada a atualidade do tema deste artigo (31 de março de 2023), TIA do Brasil resolveu republicá-lo - mesmo se alguns dados são antigos - para benefício de nossos leitores.”
O órgão do Vaticano sugere que Judas teve um arrependimento sincero - L'Osservatore Romano 29/03/2023
Francisco está tão convencido da “inocência” de Judas que declarou publicamente que mantém uma foto retratando seu suicídio atrás de sua mesa de trabalho papal. Ele expressou em várias ocasiões suas novas opiniões sobre o Traidor – a quem a Igreja pela Tradição condena ao Inferno. A TIA analisou algumas das declarações de Francisco (aqui, aqui e aqui)
Essa tendência não é nova. Pe. Hans Urs von Balthasar, o mentor de João Paulo II e Bento XVI, considerou que Judas era o “lado negro” da Redenção, enquanto Nosso Senhor Jesus Cristo era o “lado luminoso” dela. Ele chegou a sugerir que a Redenção foi feita simultaneamente por Jesus suspenso na cruz e Judas pendurado na figueira. Jesus com os dois ladrões Dimas e Gesdras e o traidor Judas constituiriam a Igreja dos Condenados, a melhor expressão da missão de Cristo.
Segundo von Balthasar, a Igreja mais verdadeira que representa o aspecto mais profundo da realidade não é nem a Igreja Petrina, a Igreja Oficial dos Apóstolos – que fugiram na Paixão – nem a Igreja Joanina, a Igreja do Amor representada por São João, Nosso Senhora e as Santas Mulheres ao pé da Cruz. Esses dois modos de Igreja refletem apenas o lado positivo do sofrimento. A Igreja mais unida a Nosso Senhor e una com Jesus Cristo é a Igreja de Judas, a Igreja dos Condenados.
Analisei extensivamente esta teoria macabra com a devida documentação – junto com outras ofensas contra a Nossa Santa Madre Igreja – em um dos volumes de minha coleção sobre o Vaticano II. (1)
Este é o pensamento por trás do artigo mencionado no L’Osservatore Romano.
Este artigo “Nosso irmão Judas,” bem como a posição de Francisco e a tese falha de von Balthasar, são baseados em uma interpretação distorcida de uma passagem de São Mateus, que diz:
“Então Judas, que o traiu, vendo que Ele foi condenado, arrependendo-se, trouxe de volta as trinta moedas de prata aos principais sacerdotes e anciãos, dizendo: Pequei ao trair sangue inocente. (Mt 27,3-4)
Uma interpretação extremamente sentimental desta passagem está sendo apresentada hoje aos católicos para convencê-los de que Judas realmente foi sincero em seu arrependimento. No entanto, a interpretação da Igreja dessas palavras tem sido exatamente o oposto por muitos séculos. De fato, o mais famoso exegeta Pe. Cornélio a Lapide, S.J., refletindo este ensinamento católico multissecular, afirma:
Judas no Inferno sendo comido por Satanás
Este é um ensinamento bastante severo da Igreja, que por si só mostra como fora de lugar a interpretação sentimental de Francisco, von Balthasar e Caleffi é. Às vezes, esses autores progressistas citam a maldição de Nosso Senhor sobre Judas, mas tentam descartá-la dizendo que depois Ele tratou Judas como um amigo no Jardim do Getsêmani.
Na verdade, essa maldição não pode ser descartada, pois no Horto, Judas, ao negar aquela última graça, realizou sua infame traição.
Comentando a passagem em que Nosso Senhor amaldiçoa Judas , “Ai daquele por quem o Filho do Homem será traído: melhor seria para ele, se esse homem não tivesse nascido.” (Mt 26,24), a Lapide afirma:
O Diabo leva a alma de Judas para o Inferno
Também comentando o ai de Nosso Senhor, São Jerônimo diz que “tanto a condenação quanto o Inferno estavam ameaçados; pois é muito melhor não existir, do que existir a ponto de ser sempre miserável e perpetuamente queimando no Inferno.” (Apud a Lapide, ibid., p. 553)
Esses autores progressistas também ignoram a passagem mais severa sobre Judas em que São João afirma que o Diabo se apossou da alma de Judas depois que ele recebeu a Comunhão na Última Ceia:
“Respondeu Jesus: É aquele a quem eu der o bocado que vou molhar. Molhando, pois, o bocado, deu-o a Judas Iscariotes, filho de Simão. Atrás do bocado, entrou nele Satanás.” (Jo 13,26-27)
De fato, a Lapide explica:
“Judas, sendo ingrato a este amor de Cristo, tomou o pão molhado [a Comunhão] de maneira errada: pois ele pensou que Cristo, por ódio e desprezo, para revelar seu crime aos Apóstolos, daria a ele o pão molhado. Portanto, Judas, tendo então se afastado da vocação de Apóstolo de Cristo e do Colégio dos Apóstolos, foi para a família de Satanás e dos judeus, como desertor e apóstata.” (Jo 13,27, a Lapide, ibid, vol 16, p. 532)
Santo Ambrósio, por sua vez, comenta a mesma passagem:
“Quando o próprio Satanás entrou no coração de Judas, Cristo retirou-se dele, e no momento em que ele recebeu Ele [na Eucaristia], ele O perdeu. Assim, está escrito: Depois da Comunhão, Satanás entrou nele.” (Apud ibid.)
A Lapide lista alguns santos famosos para explicar os diferentes motivos pelos quais o Diabo se apossou de Judas:
O Diabo tomando posse de Judas
“Em segundo lugar, porque o Diabo já sabia por aquelas palavras [anteriores] do Senhor e pelos sinais que Judas era obstinado no mal e abandonado pelo Senhor, como diz Crisóstomo.
Em terceiro lugar, visto que o próprio Judas percebeu que já estava revelado a todos, e isolado dos discípulos e do Mestre, e por isso foi confirmado no mal e, no desespero, claramente entregou seu coração ao Diabo... diz Eutímio segundo São João Crisóstomo.” (ibid)
Estes textos são apenas uma amostra da severidade de Nosso Senhor, dos Evangelistas e do Magistério Tradicional da Igreja em relação a Judas e à infame traição que ele fez do Messias. Servem para mostrar quão errônea é a interpretação de que Judas foi um homem sincero que se converteu no fim da vida.
O Papa Francisco e esses autores não conhecem o Magistério sobre este tema? Eles obviamente sabem disso. Eles propositalmente avançam em sua agenda com o claro desejo de reverter esse ensinamento e impor seu próprio novo pensamento, que é totalmente contrário à fé católica.
Sugiro ao meu leitor que desconfie daqueles que defendem Judas. Amanhã eles podem estar defendendo o mestre de Judas, aquele mesmo que entrou em sua alma depois que ele recebeu a Comunhão na Quinta-feira Santa.
Esta é a minha contribuição para uma meditação da Semana Santa dois dias antes de começar.
- Coleção Lamma sabacthani, vol. III, Animus Injuriandi II, Los Angeles: TIA, 2011, pp.161-176.
“Dada a atualidade do tema deste artigo (31 de março de 2023), TIA do Brasil resolveu republicá-lo - mesmo se alguns dados são antigos - para benefício de nossos leitores.”