Inflexibilidade Católica é Caridade Católica 
Nestes dias em que qualquer ataque a um erro ou a uma pessoa má é tachado de falta de caridade, é bom ouvir o ensinamento tradicional da Igreja, que nos instrui a combater esta opinião liberal. Mesmo quando essa opinião pode parecer atraente, no fundo é o desprezo pelo bem dos homens, os direitos da verdade e o amor autêntico de Deus. É isso que o Pe. Sardá y Salvany nos ensina.
  
Pe. Felix Sardá y Salvany 
Sucede frequentemente que é preciso desgostar a um, não em seu próprio bem, mas para livrar de um mal a outro a quem o primeiro procura causá-lo. Neste caso é lei de caridade defender o agredido da agressão injusta do agressor, e pode-se fazer mal a este quanto seja preciso ou conveniente para defesa daquele. Assim sucede quando em defesa do viandante a quem o ladrão acomete, se mata este. E então incitar ou danificar, ou ofender de qualquer outro modo o injusto agressor, é ato de verdadeira caridade.
  
O bem sobre todos os bens é a glória Divina, como o próximo sobre todos os próximos é para o homem o seu Deus. Por conseguinte, o amor que se deve aos homens como próximos, deve entender-se sempre subordinado ao que devemos todos ao nosso comum senhor. Para seu maior serviço, pois, se deve (se é necessário) desgostar os homens, e se (se ainda é necessário) ferí-los e matá-los. Atenda-se à força dos parêntesis − se é necessário − para indicar claramente o caso único em que exige tais sacrifícios o serviço de Deus.
  
A caridade é principalmente o amor de Deus, secundariamente o amor do nosso próximo por amor a Deus. Sacrificar o primeiro é abandonar o último. Portanto, ofender o próximo por amor de Deus é um verdadeiro ato de caridade. Não ofender o próximo pelo amor de Deus é pecado.
  
Não o entende assim o Liberalismo moderno, porém entende mal. Por isso tem e dá aos seus uma falsa noção de caridade, e ataranta e apostrofa a todas as horas os Católicos firmes com a decantada acusação de intolerância e intransigência.
  
A nossa fórmula é muito clara e concreta. É a seguinte: − a suma intransigência Católica e a suma caridade Católica.
  
Esta caridade é praticada para com o nosso próximo quando por seu próprio bem se confunde, envergonha, ofende ou se castiga; em ordem ao bem alheio, quando para livrar o próximo do contágio de um erro, se desmascaram seus autores e fautores, se lhes chama por seus verdadeiros nomes de maus e malvados, se fazem aborrecer e desprezar como devem ser, se denunciam à execração pública e se é possível, ao zelo da força social encarregada de reprimi-los e castigá-los; em ordem, finalmente, a Deus, quando para sua glória e serviço se torna necessário prescindir de todas as considerações, saltar todas as valas, afrontar todos os respeitos, ferir todos os interesses, expor a própria vida e a dos que seja preciso para tão alto fim.
  
Tudo isso é inflexibilidade Católica e Catolicidade inflexível na prática daquele amor puro que constitui a caridade soberana.
   
  
(Pe. Felix Sardá y Salvany, Liberalismo é Pecado, Rockford: TAN, 1993, pp. 94-95, Santa Cruz, 2020, pp. 84-85)
  
Postado em 17 de abril de 2021  
  
 
  
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