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O valor da solidão

Em nossa era tecnológica moderna, onde cada vez mais pessoas parecem estar sempre “ligadas” a algum tipo de mídia social, parece oportuno apresentar a importância da solidão.

O homem espiritual, ensina-nos Santo Afonso de Ligório, não só sabe estar sozinho, mas gosta disso, sabendo que a solidão e o silêncio dão oportunidade à alma de se conhecer e de se aproximar de Deus e de Nossa Senhora.


Santo Afonso de Ligório


Todas as almas que amam a Deus sentem em si um forte atrativo para a solidão, porque sabem que Deus trata com muita familiaridade aqueles que evitam quanto possível o tumulto do mundo. “Ó feliz solidão, exclama S. Jerônimo, na qual Deus se entretém com grande amor, familiaridade e afabilidade com as almas que ama.” ...

O Senhor não está na agitação (3 Rs 19,11). Mas onde Ele é encontrado? Levá-la-ei à solidão e aí falarei a seu coração (Os 2,14). Deus fala com a alma na solidão e de um modo especial a seu coração, fazendo-lhe ouvir palavras que a inflamam em seu santo amor. Minha alma derreteu-se quando me falou o meu Amado. (Cânt 5,6)

Como conta S. Euquério, perguntou uma vez uma pessoa que tendia à perfeição a um diretor espiritual o que deveria fazer para alcançar seu fim. Este deu-lhe a seguinte resposta: “A solidão é o lugar onde se acha Deus!” Com essas palavras, ele quis dizer que Deus não é encontrado em meio ao tumulto do mundo, mas na solidão.

Na solidão facilmente se guarda a virtude; no trato com o mundo, porém, facilmente a perdemos onde Deus é pouco conhecido e, portanto, Seu amor e os tesouros que Ele dá àqueles que deixam todas as coisas por Sua causa são pouco estimados. ...

Os mundanos fogem da solidão, e isso com toda a razão, porque no recolhimento são atormentados pelos remorsos de sua consciência. Eles procuram a sociedade e o tumulto do mundo, para que o rumor que ali existe os preocupe e encubra a voz de sua consciência. Não deixa de ser verdade que o homem preza o trato com os outros; mas existe talvez coisa mais bela que o comércio com Deus?

Ah! Não se sente nenhuma amargura e nenhum enfado se se afasta da companhia dos homens para se entreter com Deus, nosso Criador. A sua conversação nada tem de desagradável e a sua companhia nada de fastidioso, mas o que nela se acha é satisfação e prazer. (Sab 8,16) …

Isso nos ensina expressamente S. Jerônimo, que fugiu de Roma para se recolher a uma gruta em Belém, para aí gozar da solidão. “A solidão é meu paraíso,” escrevia ele depois.

Pode parecer-nos que os santos, na solidão, se acham inteiramente sós; mas não é assim. “Nunca estou menos só que quando estou só, diz S. Bernardo, porque então estou na companhia de Deus, que mais me contenta do que a companhia de todas as criaturas juntas.” …

Para gozares dessa deliciosa solidão, alma cristã, não é preciso que te retires para uma caverna ou para um deserto. O rei David sabia criar-se essa solidão no meio das mais importantes ocupações de seu governo: Eis que me retirei fugindo e permaneci na solidão. (Sl 54,8) São Filipe Néri alimentava por algum tempo o pensamento de se retirar para um deserto; Deus, porém, recomendou-lhe que não abandonasse a cidade de Roma, mas que aí vivesse como se estivesse em um deserto. ...

Até aqui só falamos da solidão corporal. Vamos agora falar da espiritual, que é mais necessária que aquela, pois São Gregório diz: “Que aproveita a solidão do corpo, se falta a do espírito?”

Que adianta, quer o santo dizer, habitar corporalmente um deserto, se a alma se apega às coisas deste mundo? “Uma alma livre de apego às coisas terrenas, diz São Pedro Crisólogo, encontra a solidão até nas ruas e praças públicas.” Doutro lado, que adianta permanecer sozinho em casa ou em uma igreja, se nosso coração se ocupa com as coisas deste mundo, que, com seu barulho, nos impedem de ouvir a voz de Deus?

Disse uma vez o Senhor a Santa Teresa: “Oh! com quanto gosto não falaria eu com muitas almas! o mundo, porém, faz tanto barulho em seus corações, que elas não ouvem a minha voz! Oh! se elas se afastassem um pouco do mundo!”

Procuremos, por isso, conhecer em que consiste a solidão do coração. Ela consiste nisso, que arranquemos de nosso coração todas as afeições que não se referem a Deus e que em todas as nossas ações tenhamos em vista o seu santo agrado. O salmista exprime essa verdade da seguinte forma: Que tenho eu no céu? E fora de ti, que desejo eu sobre a terra?… Vós sois o Deus do meu coração e minha partilha, Deus, para sempre. (Sl 72,25) ...

Em um vaso de cristal, que está cheio de terra, não poderá penetrar a luz do sol; do mesmo modo não pode brilhar a luz divina em um coração que está cheio de amor pelas alegrias, riquezas e honras deste mundo. Por isso o Senhor diz: Parai, reconhecei que sou o Deus. (Sl 45,11) A alma, então, que deseja ver a Deus deve remover o mundo de seu coração e mantê-lo fechado contra todas as afeições terrenas.

Isso nos dá Cristo a entender pela parábola da porta fechada, quando disse: Quando rezares, busca teu quarto, fecha a porta e ora a teu Pai em segredo. (Mt 6,6) Com outras palavras: Para se poder unir a Deus na oração, deve-se recolher a seu próprio coração, que, segundo Santo Agostinho é o quarto de que fala o Senhor, e fechá-lo a todas as afeições terrenas.



Trecho das Meditações e Leituras de Santo Afonso,
24º Domingo depois de Pentecostes, LDo Amor à Solidão.

Publicado em 4 de fevereiro de 2023



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Animus Injuriandi II

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