A Igreja ensina que a plenitude da santidade é alcançada quando a virtude é praticada em grau heroico. A honra do altar não é concedida a almas hipersensíveis, fracas, que fogem dos pensamentos profundos, do sofrimento pungente, da luta, enfim, da Cruz de Cristo. Seguindo as palavras do seu Divino Fundador: “O reino dos céus é tomado pelos violentos” (Mt 11,12), a Igreja canonizou apenas aqueles que em vida combateram verdadeiramente o bom combate, cortando o próprio olho ou o pé quando causaram escândalo e sacrificaram tudo para seguir somente Nosso Senhor Jesus Cristo.
Com efeito, a santificação implica o maior heroísmo, porque supõe não só a resolução firme e séria de sacrificar a própria vida se for necessário para permanecer fiel a Jesus Cristo, mas também de viver uma existência prolongada nesta terra, se assim agrada a Deus, renunciando em cada momento o que mais ama para se apegar apenas à vontade divina.
Uma certa iconografia, infelizmente muito utilizada hoje, apresenta os Santos de uma forma muito diferente: como criaturas suaves, sentimentais, sem personalidade nem força de carácter, incapazes de ideias sérias, sólidas e coerentes, almas movidas apenas pelas suas emoções e, portanto, totalmente inadequado para as grandes batalhas que sempre fazem parte desta vida terrena.
A figura de Santa Teresinha do Menino Jesus foi especialmente deformada por esta má iconografia. Rosas, sorrisos, um sentimentalismo inconsistente, a vida branda, o espírito despreocupado, ossos de açúcar e sangue de mel – esta é a ideia que recebemos do grande, do incomparável pequena Santa.
Quão diferente isso é do espírito que encontramos ao ler A História de uma Alma, uma alma tão ampla e profunda como o firmamento, tão brilhante e ardente como o sol, e ao mesmo tempo tão humilde e filial!
Nossos dois quadros apresentam, por assim dizer, duas Teresas diferentes e até opostas. A primeira nada tem de heroico: é a Teresa insignificante, superficial, perfumada da iconografia romântica e sentimental.
A segunda é a autêntica Teresa, fotografada em 7 de junho de 1897, pouco antes de sua morte, ocorrida em 30 de setembro do mesmo ano. O rosto está marcado pela paz profunda das grandes e irrevogáveis renúncias. Os traços têm uma clareza, força e harmonia que só as almas de lógica férrea possuem. O olhar fala de sofrimentos tremendos, vividos no mais íntimo da alma, mas ao mesmo tempo mostra o fogo e o ardor de um coração heroico, decidido a ir em frente custe o que custar.
Contemplando esta fisionomia forte e profunda, como só a graça de Deus pode fazer a alma humana, pensa-se num outro Rosto: o do Santo Sudário de Turim, que nenhum homem poderia imaginar ou descrever. Entre aquele Rosto morto de Nosso Senhor, que tem uma paz, uma força, uma profundidade e um sofrimento que as palavras humanas não conseguem expressar, e o rosto de Santa Teresinha, há uma semelhança imponderável, mas real. E por que deveríamos nos surpreender que a Sagrada Face imprimisse algo de si no rosto e na alma daquela que na religião escolheu ser chamada de Teresinha do Menino Jesus e da Sagrada Face?
Traduzido do Catolicismo n. 30 - junho de 1953
Postado em 11 de dezembro de 2023
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