O 'arrependimento' de Judas
A Semana Santa acabou de passar e nossos pensamentos ainda estão voltados para a traição de Judas. É lamentável que o Papa Francisco, os escritores do L'Osservatore Romano e muitos outros progressistas estejam constantemente tentando absolver Judas, apresentando-o como um homem fraco, mas bom, que se arrependeu sinceramente antes de morrer.
Temos até lido comentários de católicos conservadores e tradicionalistas que caíram nessa posição herético-sentimental.
Portanto, é oportuno repreender esse erro lembrando aos nossos leitores a Tradição que por 2.000 anos ensinou consistentemente que o Traidor morreu impenitente. Para confirmar esta Tradição, nada mais adequado do que transcrever um trecho das Visões e Revelações da Venerável Anna Catharina Emmerich, na qual ela dá uma descrição detalhada do que aconteceu com Judas desde sua traição até seu suicídio.
Irmã Anna Catharina Emmerich
Desespero de Judas
Enquanto levavam Jesus à casa de Pilatos, o traidor Judas ouviu o que se dizia na cidade, palavras como estas: “Agora vão levá-Lo a Pilatos; o Conselho supremo condenou-O à morte; vai ser crucificado; também não pode mais viver, nesse horrível estado em que O deixaram os maus tratos. Tem uma paciência incrível, não diz nada, apenas que é o Messias e se sentará à direita de Deus; outra coisa não disse e por isso vai morrer na cruz.”
“O patife que O vendeu, foi seu discípulo e pouco antes ainda comeu com ele o cordeiro pascal; eu não queria ter parte nesta ação; seja como for, o Galileu pelo menos nunca entregou um amigo à morte por dinheiro. Deveras, esse patife de traidor merece também ser enforcado.”
Então o arrependimento tardio, a angústia e o desespero começaram a lutar na alma de Judas. O demônio impeliu-o a correr. O molho das trinta moedas de prata, no cinto, sob o manto, era-lhe como uma espora do inferno: segurou-o com a mão, para que não fizesse tanto barulho, batendo-lhe na perna ao correr.
Correu a toda a pressa, não atrás do cortejo, para lançar-se aos pés de Jesus, pedindo perdão ao Salvador misericordioso, não para morrer com Ele, nem para confessar a culpa diante de Deus; mas para se limpar diante dos homens da culpa e desfazer-se do prêmio da traição.
Correu como um insensato ao Templo, aonde diversos membros do supremo conselho como chefes dos sacerdotes em exercício e alguns dos anciãos se tinham dirigido, depois do julgamento de Jesus. Olharam-se mutuamente, admirados e com um sorriso desprezível, dirigiram olhares altivos a Judas que, impelido pelo arrependimento do desespero e fora de si, correu para eles.
Arrancou o feixe das moedas de prata do cinto e, estendendo-Ihes a mão direita com o dinheiro, disse, em tom de violenta angústia: “Tomai aqui o vosso dinheiro, com o qual me seduzistes a entregar-vos o Justo; retomai o vosso dinheiro e soltai Jesus; eu rompo o nosso pacto; pequei gravemente, traindo sangue inocente.”
Mas os sacerdotes mostraram-lhe então todo o seudesprezo; retiraram as mãos do dinheiro que Ihes oferecia, como se não quisessem manchar-se com o prêmio da traição, dizendo: “Que nos importa que pecasses? Se julgas ter vendido sangue inocente, é lá contigo; sabemos o que compramos de ti e julgamo-Lo réu de morte; é teu dinheiro, não temos nada com isso.”
Disseram-lhe essas palavras no tom que usam os homens que estão muito ocupados e querem livrar-se de um importuno e viraram as costas a Judas. Esse, vendo-se assim tratado, foi tomado de tal raiva e desespero, que ficou como louco; eriçaramse-lhe os cabelos e rompendo com as duas mãos o molho das moedas de prata, espalhou-as com veemência no templo e fugiu para fora da cidade.
Vi-o de novo, correndo como louco, no vale de Hinom e o demônio em figura horrível ao seu lado, segredando-lhe ao ouvido, para levá-Io ao desespero, todas as maldições dos profetas sobre esse vale, onde antigamente os judeus sacrificavam os próprios filhos aos deuses.
Parecia lhe que todas essas palavras o indicavam com o dedo, dizendo, por exemplo: “Eles sairão para ver os cadáveres daqueles que contra mim pecaram, cujo verme não morre, cujo fogo não se apaga,” Depois lhe soou aos ouvidos.: “Caim, onde está Abel, teu Irmão? Que fizestes? O sangue de teu irmão clama a mim; agora, pois, serás maldito sobre a terra, vagabundo e fugitivo.”
Quando chegou à torrente doe Cedron e olhou na direção do monte das Oliveiras, estremeceu e virou os olhos. Então ouviu de novo as palavras: “Amigo, para que vieste? Judas, é com um beijo que entregas o Filho do homem?”
Então um imenso horror lhe penetrou no fundo da alma, confundiram-se-Ihe os sentidos e o inimigo segredou-lhe ao ouvido: "Aqui sobre o Cedron, fugiu também Davi diante de Absalão; Absalão morreu pendurado numa árvore; Davi referia-se também a ti no salmo: “Retribuíram o bem com o mal, ele terá um juiz severo; Satanás estará à sua direita, todo o tribunal o condenará; os seus dias serão poucos; outro lhe receberá o episcopado; o Senhor recordar-se-á sempre da maldade dos seus pais e dos pecados de sua mãe, porque sem misericórdia perseguiu os pobres e matou os aflitos; ele amava a maldição e esta virá sobre ele; revestia-se da maldição como de uma veste, como água lhe entrou ela nos intestinos, como óleo nos ossos; como uma veste o cobre a maldição, como um cinto que o cinge eternamente.”
Entre esses terríveis remorsos da consciência, chegara Judas a um lugar deserto, pantanoso, cheio de lixo e imundície, a sudeste de Jerusalém, ao pé do monte dos Escândalos, onde ninguém o podia ver. Da cidade se ouvia ainda mais forte o tumulto e o demônio disse-lhe: “Agora O conduzem à morte; vendeste-O; sabes o que está escrito na lei? "Quem vender uma alma entre seus irmãos, os filhos de Israel, morrerá. Acaba com isto, miserável, acaba com isto!”
Então tomou Judas desesperado o cinto e enforcou-se numa árvore que crescia em vários troncos, numa cavidade daquele lugar. Quando se enforcou, rebentou se-Ihe o ventre e os intestinos caíram-lhe sobre a terra.
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