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A Personalidade de Santa Teresinha de Lisieux - II

Seu olhar e sua alma contemplativa

Prof. Plinio Corrêa de Oliveira
No artigo anterior, notamos as primeiras impressões geradas pela fotografia de Santa Teresinha do Menino Jesus aos 8 anos. Vimos nesta menina uma grande pureza e uma preservação da inocência batismal. Continuemos com essa análise olhando mais profundamente para o seu olhar.

Os olhos

St Therese eyes

Os olhos de Santa Teresinha

Como observamos, uma espécie de sorriso reside nesse olhar. Vê-se que na expressão da fisionomia, na expressão do olhar, há também algo daquilo que os franceses chamam espiègle – astúcia lúdica. Concentrando a atenção nos olhos, percebemos que há neste olhar todo um firmamento, um mundo de reflexão que começa a desabrochar.

Contemplação

Para quem se dirige este olhar? Não é olhar para nenhuma pessoa ou coisa definida. Olha para um ponto vago e indefinido, mas com uma espécie de consideração profunda, uma contemplação elevada, amável e respeitosa. Em última análise, é um espírito muito contemplativo. Ainda está nascente, é primavera, é verdade, mas é um olhar fortemente contemplativo, meditativo, interior, já voltado para o olhar para as coisas do espírito, para as coisas metafísicas, para horizontes mentais mais ou menos infinitos.

É um olhar que paira no infinito, numa esfera completamente diferente do pensamento normal das pessoas. Nas suas Confissões, Santo Agostinho, refletindo sobre a sua infância, disse: “Eu era apenas uma criança pequena, mas já era um grande pecador.” Sobre ela pode-se dizer: “Ela era apenas uma menina, mas já era uma grande santa.” Porque o seu olhar tem algo difícil de expressar adequadamente, mas um foco de alma em coisas totalmente superiores. Não indiferente, hostil ou alheio, mas superior ao concreto, contingente, transitório e individual.

St. Therese's contemplation

Uma alma de santa já em tenra idade

Ela não é uma pessoa que se preocupa com o que você pensa dela. Ela não se importa com o efeito que causa no fotógrafo; ela fica lá do jeito que está. Disseram-lhe que posasse para uma fotografia e ela o fez, obediente como os filhos do Evangelho que Nosso Senhor acariciou e aos quais está reservado o Reino dos Céus (Mt 18,3).

Ela não é uma criança filósofa, de forma alguma. Isso seria uma caricatura. Ela olha para a câmera, mas é como se fosse uma parte do térreo de sua alma. Em cima deste rés-do-chão, que funciona perfeitamente, existe toda uma outra construção. Naquela tenra idade ela poderia nos dizer o que Nosso Senhor disse pela boca do profeta Isaías, uma das frases mais tristes, uma de suas mais belas queixas que mais magnificamente revelou sua superioridade divina: “Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os teus caminhos são os meus caminhos” (Is 55,8).

É magnífica esta ligação das ideias de pensamentos e caminhos: os pensamentos de uma pessoa que dirige o seu caminho, e atua como arauto de todas as harmonias ao longo do caminho. Quão elevados eram seus pensamentos! Pense um pouco sobre o Santo Sudário. Que pensamentos! Que maneira! Aquele rosto no Santo Sudário não poderia nos falar as mesmas palavras de Isaías? Poderia, e perfeitamente.

Dado que Christianus alter Christus est (um cristão é outro Cristo), nesta foto Santa Teresinha também poderia nos dizer: "Meus pensamentos não são os seus pensamentos, nem os seus caminhos são os meus caminhos." Ela poderia muito bem dizer isso. Por quê? Porque o dela é um estado de alma que é supremamente meditativa e extraordinariamente sagrada. A sua meditação não é a de um filósofo ou de um teólogo, mas de um santo.

Infância meditativa

No livro História de uma Alma isso é confirmado em vários lugares. Ela tinha, por exemplo, o hábito de subir até o topo de sua casa para observar as estrelas à noite, entre outras coisas. Esse livro fala das infinitudes do seu pensamento, das vastas extensões da sua alma.

Tem-se a impressão de que Santa Teresinha tinha em seu espírito toda a doutrina contrarrevolucionária, mas não tinha a missão de explicitá-la. Ela teve a missão de morrer pelos contrarrevolucionários, de viver e traçar a Pequena Via, que torna a Contra-Revolução acessível à maior parte dos que a seguem. Mas havia todo um firmamento de ideias no seu espírito, que já se delineava desde tenra idade.

Buissonnets

Os Buissonnets, casa onde Santa Teresinha passou a infância

Ela era uma criança extremamente meditativa. No final da vida, quando já estava madura para o céu e, portanto, quando havia alcançado a santidade a que o desígnio da Providência a destinava, ela falou das conversas que teve com a irmã. Quando ela tinha uns 10 anos – ou seja, um pouco mais velha do que tem na foto aqui – ela ia para um mirante lá nos Buissonnets, e eles tinham conversas onde ela recebia mais graças do que as recebidas por Santo Agostinho e Santa Mônica nos famosos colóquios na pousada de Ostia, pouco antes da morte de Santa Mônica. Foi quando a santidade de Santa Mônica atingiu o auge e ela estava pronta para ir para o Céu.

Percebe-se isso no pano de fundo de seu olhar. É um olhar que as palavras não conseguem descrever. Se perguntassem a São Pedro o que o olhar do Senhor lhe dizia, o que ele poderia dizer? Ele responderia: “Disse algo que me fez chorar pelo resto da minha vida. Chorei as lágrimas mais amargas e doces que já chorei, perdendo apenas para as de Nossa Senhora.” E não teria mais nada a dizer porque o olhar é algo inefável.

Ou se vê e sente esse olhar ou não, não há nada a ser feito se não o fizermos. Num relance revela-se algo de suprema excelência: ver, olhar com as pálpebras caídas. Este é o olhar do Santo Sudário. Ali está Nosso Senhor com as pálpebras caídas, mas ainda olha para nós. E que aspecto! Não choramos só porque não somos São Pedro.

Continua

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Postado em 6 de maio de 2024