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Lutero: não, absolutamente não!

Plinio Corrêa de Oliveira

No dia 18 de janeiro de 2008, no âmbito da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, Bento XVI recebeu uma delegação ecumênica de luteranos da Finlândia. Ele elogiou “a oração conjunta de luteranos e católicos” como uma “partilha humilde mas fiel na oração de Jesus.” Tal oração, de fato, disse ele, “é a porta real do ecumenismo.” (VIS, 18 de janeiro de 2008).

Ele também estimulou esforços contínuos de diálogo sobre a questão da justificação. Na verdade, foi o então Cardeal Ratzinger quem redigiu o Acordo de Augsburgo – assinado em Outubro de 1999 entre católicos e protestantes – que praticamente abandonou a doutrina da justificação infalivelmente definida pelo Concílio de Trento.

Tendo em vista a contínua protestantização da Igreja Conciliar, a TIA achou oportuno reimprimir dois artigos do Prof. Plinio (27 de dezembro de 1983; 10 de janeiro de 1984), que escreveu resistindo à visita de João Paulo II ao templo luterano em Roma, em 11 de dezembro de 1983. Nelas o Prof. Plinio expõe o espírito cheio de ódio do heresiarca protestante.
Tive a honra de ser o primeiro a assinar um manifesto publicado pelos principais jornais do Brasil e reproduzido nos países onde existiam as então 11 TFPs. O título era: “A Política da Détente (distensão) do Vaticano com os governos comunistas. Para a TFP: omitir-se? ou resistir?” (Folha de S. Paulo, 4 de abril de 1974) (Texto completo aqui)

Nele, essas organizações declararam seu respeitoso desacordo com a Ostpolitik dirigida por Paulo VI, dando uma explicação detalhada dessa oposição. Permitam-me observar de passagem que tudo foi apresentado de uma forma tão ortodoxa que ninguém levantou qualquer objeção.

Resumindo em várias linhas a sua veneração pelo Papado e, ao mesmo tempo, a sua firme resistência à Ostpolitik vaticana, as TFPs disseram ao Pontífice: “A nossa alma é vossa, a nossa vida é vossa. Ordene-nos que façamos o que você desejar. Só não nos ordene que não façamos nada diante do ataque do lobo vermelho. A isto, a nossa consciência se opõe.”

JPII preaching at the Protestant Temple, December 11 1983

JPII pregando no templo protestante em Roma em 11 de dezembro de 1983
L'Osservatore Romano, 12 a 13 de dezembro de 1983
Recordei esta frase com especial tristeza quando li a carta escrita por João Paulo II ao Cardeal Willebrands por ocasião do 500º aniversário do nascimento de Martinho Lutero, e assinada no passado dia 31 de outubro, data do primeiro ato de rebelião do heresiarca na igreja do Castelo de Wittenberg. Esta carta foi escrita com tanta benevolência e comodidade que me perguntei se o eminente remetente teria esquecido as terríveis blasfêmias que aquele frade apóstata lançara contra Deus, Seu Filho Jesus Cristo, o Santíssimo Sacramento, a Virgem Maria e o próprio Papado.

Certamente ele não os ignora, uma vez que estão registrados em qualquer livro sério sobre Lutero, prontamente disponível aos católicos hoje.

Tenho dois desses livros em mente. Um é Brasileiro, Igreja, Reforma e Civilização do erudito jesuíta Pe. Leonel Franca. Sobre este grande livro e sobre o seu autor, um silêncio eclesiástico oficial permitiu que caísse a poeira do esquecimento.

A outra é de um dos mais conhecidos historiadores franceses do século 20, Funck-Brentano, membro do Instituto Francês e fora de suspeita por ser protestante.

Começo citando alguns trechos escolhidos do livro de Funck-Brentano: Luther (Paris: Grasset, 1943). Vamos direto a esta blasfêmia indizível de Lutero, que diz:
“Cristo cometeu adultério pela primeira vez com a mulher junto à fonte, de quem fala João. As pessoas não murmuravam: 'O que Ele fez com ela?' Depois, com Madalena, e em seguida, com a mulher adúltera que Ele tão levianamente absolveu. Portanto, Cristo, tão piedoso, também teve que fornicar antes de morrer” (Propos de table [Conversa de mesa], n. 1472, edição Weimar, 2.107, apud ibid., p. 235).
Depois de ler isso, não nos surpreende que Lutero pensasse o seguinte, como observa Funck-Brentano:

The restoration of the statue of the Virgin

Restauração de uma estátua da Virgem
danificada pelos luteranos
“Certamente Deus é grande e poderoso, bom e misericordioso… mas também é estúpido – Deus é muitíssimo estúpido [Deus est stultissimus] (Ibid., n. 963, edição Weimar, I. 487). Deus é um tirano. Moisés agiu, movido por Sua vontade, como Seu delegado, um carrasco [de Deus] a quem ninguém superou ou mesmo igualou em amedrontar, aterrorizar e martirizar o mundo pobre” (ibid., p. 230).

Isto é consistente com outra blasfêmia que faz de Deus o verdadeiro responsável pela traição de Judas e pela revolta de Adão. Funck-Brentano comenta:

“Lutero chega ao ponto de declarar que quando Judas traiu Cristo ele agiu por uma decisão imperativa do Todo-poderoso. Sua vontade [de Judas] foi dirigida por Deus: Deus o moveu através de Sua onipotência. No paraíso terrestre, Adão também foi obrigado a agir como agiu. Ele foi colocado por Deus em tal situação que lhe era impossível não cair” (ibid., p. 246).

Seguindo a mesma linha dessas declarações abomináveis está um panfleto de Lutero intitulado Contra o Pontificado Romano Fundado pelo Diabo de março de 1545. Nele, em vez de chamar o Papa de Santíssimo [Santissimo], como de costume, ele o chamou de “Mais Infernal” (Infernalissimo), e acrescentou que o Papado sempre foi sanguinário (ibid., pp. 337-338).

Não é de surpreender que, movido por tais ideias, Lutero tenha escrito estas palavras a Melanchton a respeito das sangrentas perseguições de Henrique VIII contra os católicos na Inglaterra:

A depiction of the beheading of Queen Mary Stuart

Rainha católica Maria Stuart sendo decapitada por ordem da protestante Elizabeth da Inglaterra, filha de Henrique VIII
“É lícito ficar furioso quando se sabe que tipo de traidores, ladrões e assassinos são os Papas, Cardeais e Legados Pontifícios. Anseio que Deus permita que outros Reis da Inglaterra se esforcem para se livrar deles” (ibid., p. 254).

Por isso também exclamou: “Chega de palavras! É hora do ferro e do fogo!” Ele acrescentou:

“Já que punimos os ladrões com a espada, por que não deveríamos pegar o Papa, os Cardeais e toda a Sodoma Romana e lavar as mãos no sangue deles?” (ibid, p. 104)

Lutero manteve esse ódio até o fim da vida. Com efeito, Brentano afirma:

“Seu último sermão público em Wittenberg foi em 17 de janeiro de 1546. Foi seu último grito de maldição contra o Papado, o sacrifício da Missa e o culto à Virgem” (ibid, p. 340).

Não é de surpreender que grandes perseguidores da Igreja tenham comemorado a memória de Lutero. Notas de Funck-Brentano:
“Na Alemanha, Hitler proclamou o dia 31 de outubro de 1517 como festa nacional para comemorar o dia em que o revoltado frade agostiniano pendurou a sua famosa 95 teses contra a supremacia do Papa e as doutrinas pontifícias nas portas da igreja do Castelo de Wittenberg” (ibid., p. 272).
Benedict receives a framed Lutheran prayer from a protestant

Bento recebendo uma oração emoldurada de Lutero do protestante Mark Hanson
Apesar do ateísmo oficial professado pelo regime comunista, o Dr. Erich Honnecker, presidente do Conselho de Estado e do Conselho de Defesa Nacional, o primeiro homem na República Social Democrática Alemã, chefiou um comitê que organizou comemorações ostentosas de Lutero na Alemanha Vermelha em 1983 (“Comentários Alemães,” de Osnabruck, Alemanha Ocidental, abril de 1983).

Para o frade apóstata, nada seria mais natural do que suscitar tais sentimentos num líder Nazi e, mais recentemente, num chefe comunista.

Nada, porém, é mais desconcertante e surpreendente do que saber o que aconteceu num pequeno templo protestante em Roma, em 11 de dezembro [1983], na recente comemoração do nascimento de Lutero. Ali, [Karol Wojtyla], o Prelado que o Conclave de 1978 elegeu Papa, participou naquele ato festivo de amor e admiração pelo heresiarca. Aquele mesmo que tem a missão de defender os santos nomes de Deus e de Jesus Cristo, a Santa Missa, a Sagrada Eucaristia e o Papado contra as heresias e os hereges!

“Terrível, chocante,” lamentei, como um verdadeiro católico, ao mesmo tempo, porém, redobrando minha fé e veneração pelo Papado.

No próximo artigo citarei Igreja, Reforma e Civilização do grande Pe. Leonel Franca.



“Dada a atualidade do tema deste artigo (21 de janeiro de 2008), TIA do Brasil resolveu republicá-lo - mesmo se alguns dados são antigos - para benefício de nossos leitores.”

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Postado em 19 de agosto de 2024


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