Quando a misericórdia é um perigo…
Num país com uma mentalidade saturada de liberalismo e protestantismo como o nosso, é bastante comum ouvir católicos dizerem que Deus perdoa sempre o pecador, não importa o que ele faça e o quanto peque. Aqui estão algumas considerações de Santo Afonso de Ligório que pretende dar um pouco de reflexão aos nossos católicos liberais brasileiros – ou a nós mesmos, na medida em que partilhamos essa mentalidade.
Santo Afonso de Ligório
Diz Santo Agostinho que o demônio seduz os homens por duas maneiras: “Com desespero e com esperança.” Depois que o pecador cometeu o delito, arrasta-o ao desespero pelo temor da justiça divina; mas, antes de pecar, excita-o a cair em tentação pela esperança na misericórdia divina. É por isso que o Santo nos adverte, dizendo: “Depois do pecado tenha esperança na misericórdia divina; antes do pecado tema a justiça divina.”
E assim é, com efeito. Porque não merece a misericórdia de Deus aquele que se serve da mesma para ofendê-lo. A misericórdia é para quem teme a Deus e não para o que dela se serve com o propósito de não temê-lo. “Aquele que ofende a justiça — diz o Abulense — pode recorrer à misericórdia; mas a quem pode recorrer o que ofende a própria misericórdia?”
Será difícil encontrar um pecador a tal ponto desesperado que queira expressamente condenar-se. Os pecadores querem pecar, mas sem perder a esperança da salvação. Pecam e dizem: Deus é a própria bondade; mesmo que agora peque, mais tarde confessar-me-ei. Assim pensam os pecadores, diz Santo Agostinho. Mas, meu Deus, assim pensaram muitos que já estão condenados.” …
“Acautelai-vos — diz São João Crisóstomo — quando o demônio (não Deus) vos promete a misericórdia divina com o fim de que pequeis.” Ai daquele — acrescenta Santo Agostinho — que para pecar confia na esperança!... A quantos essa vã ilusão tem enganado e levado à perdição. Desgraçado daquele que abusa da bondade de Deus para ofendê-lo mais!”
Em suma: se Deus espera com paciência, não espera sempre. Pois, se o Senhor sempre nos tolerasse, ninguém se condenaria; ora, é larga a porta e espaçoso o caminho que leva à perdição, e muitos são os que entram por ele (Mt 7,13).
O laço com que o demônio arrasta quase todos os cristãos que se condenam é, sem dúvida, esse engano com que os seduz, dizendo-lhes: “Pecai livremente, porque, apesar de todos os pecados, haveis de salvar-vos.” O Senhor, porém, amaldiçoa aquele que peca na esperança de perdão.
Preparação para a Morte: Considerações sobre as Verdades Eternas,
Consideração XVII, Abuso da misericórdia divina, Ponto 1
Postado em 9 de novembro de 2024
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