RELIGIOSO - A graça da contrição e o Reino de Maria

Sim, por favor

Não, obrigado

Virtudes Católicas

A graça da contrição e o Reino de Maria

Marian Horvat, Ph.D.

No século XVII, Nossa Senhora do Bom Sucesso apareceu a uma irmã concepcionista em Quito, Equador, e pediu-lhe que reparasse a grande crise religiosa do século XX, que afetaria todos os Sacramentos. É significativo que, como símbolo dessa crise, a luz do tabernáculo da Igreja se apagou.

Ela prometeu sua intercessão. “No exato momento em que o mal aparecer triunfante e quando a autoridade abusar do meu poder,” disse ela, “isso marcará a chegada da minha hora em que eu, de maneira maravilhosa, destronarei o orgulhoso e o amaldiçoado Satanás, pisoteando-o sob meus pés e acorrentando-o no abismo infernal.”

No século XVIII,São Luís de Montfort, o profeta do Reino de Maria, previu a era dos homens e mulheres que virão, que não serão grandes por seus próprios méritos, mas porque são moldados por Maria “com o propósito de estender seu império sobre o dos ímpios, dos idólatras e dos muçulmanos.” (1) No seu apaixonado e comovente apelo abrasado pelos Apóstolos Marianos, ele clama:

“Fogo! Fogo! Fogo! Socorro! Socorro! Socorro! Fogo na casa de Deus! Fogo nas almas! Fogo até mesmo dentro do Santuário!” Ele fala longamente sobre “uma congregação, uma assembleia, uma escolha, uma seleção de almas predestinadas, por cujas obras a face da terra pode ser renovada e a Igreja reformada.” (2)

No século XIX,Santa Catarina Labouré previu uma era de paz na qual Cristo reinaria como Rei na Terra e na qual Maria desempenharia um papel especial.

No início do século XX, Nossa Senhora apareceu em Fátima, Portugal, e disse a três pastorinhos que os erros do comunismo se espalhariam como um castigo para a humanidade e declarou um castigo universal se o homem não se convertesse. Mas, depois que essa sucessão de eventos ocorreu, ela predisse seu triunfo e um tempo de paz.

Agora, as promessas de Nossa Senhora são irreversíveis e perfeitas. E como não acho que alguém possa dizer que vimos esse triunfo, temos todos os motivos para esperá-lo. Precisamos confiar neste triunfo, que seria o mais perfeito e o mais completo.

Pois, como diz São Luís de Montfort em sua primeira linha de Verdadeira Devoção a Maria, foi através da Santíssima Virgem Maria que Jesus Cristo veio ao mundo e é também através d’Ela que Ele tem que reinar no mundo.

O Reino de Maria

O que será o Reino de Maria? O Reino de Maria será o conjunto de pessoas, nações, instituições, costumes e leis que se conformarão completamente e agirão de acordo com a lei de Deus. Nossa Senhora será Rainha somente onde Deus for Rei.

Assim, o Reino de Maria será o restabelecimento da Realeza de Cristo na Terra, nas esferas espiritual e temporal. Será o triunfo de Cristo em Maria, ou o triunfo de Maria em Cristo, como diz São Luís. Será a restauração da Cristandade.

Essas ideias são belas, mas só têm significado na definição de uma era futura de luz e glória, na qual a grande maioria dos homens viverá em estado de graça, cumprindo a lei de Deus. Assim, o Reino de Maria terá dois elementos essenciais. Um é interno e pessoal, pelo qual as almas individuais amarão a Deus, Nossa Senhora e a Igreja e seguirão as leis de Deus.

O outro é resultado disso: povos e nações serão organizados e viverão de acordo com a lei de Deus. Ou seja, famílias, grupos sociais, sociedades e nações serão ordenados e viverão de acordo com as leis de Deus e da Igreja. É por este Reino de Maria que devemos lutar e viver.

Um problema de desproporção

Aqui entra um problema crucial. Quando consideramos o estado atual do mundo e da Igreja, bem como o estado atual de nossas próprias almas e nossas escassas capacidades, percebemos que há um grande abismo a ser transposto daqui até o Reino de Maria. Olhamos para esse conjunto e pode ser desanimador encarar a extrema gravidade do mal ao nosso redor. Pode até parecer, às vezes, que a Revolução conquistou tudo.

E então olhamos para nós mesmos – infiéis e fracos, irresolutos e incertos, meras sombras do que deveríamos ser e precisamos ser para uma tarefa tão grandiosa como a restauração da Cristandade. É óbvio que nossa virtude não é proporcional ao problema que enfrentamos.

i001_VirginOfNotreDame.jpg - 65625 Bytes

O Reinado de Maria será a restauração da Realeza de Cristo nas esferas espiritual e temporal

Assim, parece que devemos estar próximos de um tempo em que Nossa Senhora concederá uma graça muito grande à humanidade para nos tornar o que deveríamos ser, o que desejamos ser, mas que ainda não somos. Esta é a solução que pode resolver tal desproporção.

Podemos apenas conjecturar aqui como seria tal graça. Será como uma segunda vinda do Espírito Santo, quando uma coragem jubilosa permeou a assembleia no Cenáculo, a ponto de os Apóstolos se perguntarem depois: "O que éramos? O que somos agora?" Ou será algo mais sutil, um grande retorno da inocência, uma espécie de graça que nos doura como ouro para nos tornar capazes da grande restauração?

O que parece essencial, seja como for, é que devemos pedir agora certa graça de contrição para nos preparar. A atitude errônea seria de presunção: “Ah, agora vou à missa em latim e estudei este tratado ou aquele catecismo. Que católico superior me tornei. Vejam como sou digno.”

Ou, “em nossa casa não há TV, vestimo-nos modestamente, rezamos o Rosário inteiro e três novenas todos os dias. Certamente somos muito melhores do que fulano, etc.” Se tomarmos tais atitudes, imitamos a presunção de São Pedro, que se vangloriou diante de Nosso Senhor: “Talvez os outros, mas não eu, Senhor, te neguem.”

Parece-me que a graça da contrição nos transformará, nos atrairá para dentro de nós mesmos, para nos vermos objetivamente como realmente somos. Pois nenhum de nós foi o que deveríamos ser. Nenhum de nós, no fundo, quer ver a profundidade do mal, a realidade das transgressões contra o Imaculado Coração de Maria. Precisamos da graça da contrição para nos transformar, assim como o olhar de Cristo transformou Pedro no pátio de Caifás.

Esta graça da contrição é necessária para que façamos parte do Reino de Maria. Pois num mundo que toma Nosso Senhor Jesus Cristo como modelo de perfeição, a sua Cruz deve estar presente; nada terá valor sem este elemento essencial. A norma de vida para o homem moderno é que devemos ser felizes sem a cruz.

Tudo ao nosso redor insinua que devemos evitar todo sofrimento; ninguém deveria ter que sofrer, nenhum de nós merece sofrer. Essa tendência a evitar todo sofrimento está tão profundamente arraigada em nossa mentalidade que pode parecer parte de nossa própria pessoa — como o nariz, braço ou perna.

No entanto, parece-me que podemos esperar que, com a graça da contrição, os resquícios dessa atitude em nossas almas se dissipem. Com a graça da contrição, entra a disposição de carregar a cruz e até mesmo o desejo de reparar nossos pecados. Tal graça não apenas nos prepararia para aceitar um grande castigo, mas também para abraçá-lo.

Há momentos para todos nós em que o caminho para o Reino de Maria pode parecer irremediavelmente distante ou impossível. Então, precisamos lembrar que o caminho da Providência é que Deus concede suas grandes vitórias depois do momento em que tudo parece perdido. E Ele o faz por meio de pequenos instrumentos — como Davi com sua funda e Moisés com seu cajado — para provar que foi Ele, e somente Ele, quem concedeu a vitória.

Há, além disso, a grande ferramenta que Deus reservou para moldar esta era futura. É o segredo de Maria, que formará os grandes santos dos últimos tempos. Temos que considerar que vivemos em um período que se encontra no fim de uma era histórica, em uma situação em que o mal atingiu tal extremo que visa destruir a Santa Igreja de dentro e da cúpula mais alta.

Dada a extrema gravidade do mal que estamos testemunhando, parece apropriado que confiemos que Nossa Senhora manifestará a extrema gravidade de sua bondade de uma maneira jamais vista. Portanto, temos de confiar em sua misericórdia e confiar completamente n’Ela. Faremos nossa resistência com coragem, convicção e confiança. E é certo que a sua bondade e misericórdia nos abrirão as portas do Reino de Maria e da restauração da civilização cristã de uma forma inesperada e maravilhosa.

1. A Verdadeira Devoção a Maria, n. 58.
2. Veja A Oração Abrasada de São Luís Maria Grignion de Montfort

Compartilhe

Siga-nos

Postado em 26 de dezembro de 2025