Uma verdadeira democracia, afirmava Pio XII, deveria ter instituições com tônus aristocrático (cf. Alocução de 16 de janeiro de 1948 à Nobreza Romana). Se não tivesse sido o ilustre Pontífice quem o disse, o escárnio, as difamações e as perseguições do igualitarismo revolucionário teriam caído furiosamente sobre quem ousasse fazer tal afirmação.
Caves de sal; abaixo, epergne
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Mas, uma vez que foi Pio XII quem o disse, o democratismo revolucionário faz tudo o que pode para esconder esta frase e lançá-la no esquecimento. Se for citado, o revolucionário mantém um silêncio constrangido, mas furioso, voltando um olhar que poderia matar qualquer um tão insolente a ponto de ousar exumar este incômodo texto pontifício.
Como estamos acostumados a desconsiderar completamente o furor dos partidários de um democratismo revolucionário, não apenas exumaremos este texto, mas o comentaremos. Mais do que comentar, faremos algo que irrita ainda mais o revolucionário, vamos ilustrar.
De certo ponto de vista, aquele tônus aristocrático de que fala Pio XII constitui a mais alta afirmação da dignidade humana, a manifestação do que nela é profundamente honroso.
Neste sentido, as instituições literárias, artísticas, sociais (e mesmo, a seu modo, as corporações de trabalhadores) que se impregnam de um tônus aristocrático ao estimularem a formação de elites autênticas nos diversos domínios da atividade humana, valorizam, elevam e dignificam o conjunto de todo o corpo social. Essas instituições constituem um fator de dignificação do homem qualquer que seja o seu lugar na hierarquia social.
Um homem se senta à mesa não só para alimentar o seu corpo, mas também para descansar tranquilamente com a sua família num convívio calmo, agradável e sereno.
Porcelanas;abaixo, anel de guardanapo Irlandês
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Por isso, os objetos que a rodeiam durante as refeições devem convidá-lo ao repouso, relaxamento e afabilidade próprios de uma decorosa intimidade doméstica.
Nossas fotografias mostram uma série de pequenos objetos de mesa do século 18. Os leitores que apreciam a arte reconhecerão prontamente que esses pequenos objetos são autênticas obras-primas concebidas para proporcionar um prazer espiritual ao homem que os vê ou os usa a serviço da mesa. A delicadeza, a distinção e o encanto que possuem atestam a presença de um tônus verdadeiramente aristocrático e indicam um alto respeito pelas conveniências espirituais do homem, mesmo na existência prosaica de sua vida diária.
Naturalmente, naquela época, esses elevados padrões de cultura se difundiam proporcionalmente por todo o corpo social, com as devidas nuances. Não era monopólio da nobreza, mas, ao contrário, representou um estímulo que inspirou a todos na devida medida. Daí vem a beleza dos objetos de mesa, mesmo nas camadas modestas da sociedade.
As peças aqui expostas são uma prova do quanto esse espírito esteve presente em todo o corpo social.
De fato, mesmo quando estes objectos eram para uso das classes mais altas, exprimiam não só o tônus que os nobres transmitiam à vida, mas também o gosto maravilhoso dos artistas e artesãos - que habitualmente provinham do povo - que conceberam e executou essas pequenas obras-primas.
Traduzido de Catolicismo, n.162 - junho de 1964
Postado em 10 de maio de 2021
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