Sim, por favor
Não, obrigado
Personalidades
donate Books CDs HOME updates search contact

Dom Vital – II

Prisão e Condenação pelo
Governo Imperial

Plinio Corrêa de Oliveira
Depois que os jornais do Recife publicaram a lista dos padres que pertenciam à Maçonaria (veja o último artigo), Dom Vital convocou esses padres para uma reunião e perguntou a cada um se a acusação era verdadeira. Ele, então, pediu àqueles que confirmaram sua adesão que abjurassem.

Alguns se recusaram, e Dom Vital implorou de joelhos, por amor à dignidade sacerdotal, que abandonassem a Maçonaria e renunciassem a ela. Muitos deles não o fizeram. Não podendo colocá-los no bom caminho, levantou-se e, com grande majestade, declarou: “Nestas condições, devo excomungá-los.”

Ele adotou o mesmo procedimento com as irmandades religiosas. Ele pediu aos líderes Maçônicos das irmandades religiosas que renunciassem à Maçonaria. Quando eles não obedeceram, ele os excomungou e emitiu uma série de decretos arruinando a Maçonaria.

Vemos que Pastor colossal que foi: empregou todos os meios ditados pela prudência, teve toda a caridade e mansidão possíveis, mas quando não produziram o efeito desejado, munido das devidas provas, não hesitou em iniciar, como um leão, o grande combate de sua vida.

Portraits of Dom Vital and the Baron of Rio

Os dois polos da disputa: Dom Vital, à esquerda, e Barão do Rio Branco, Primeiro-Ministro e Grão-Mestre da Maçonaria

Essas medidas causaram grande turbulência no Império Maçônico do Brasil. O ponto de discórdia era que Dom Vital baseava suas ações nos documentos pontifícios de Pio IX e o governo imperial sustentava que esses documentos não eram aplicáveis no Brasil até que o Imperador os aprovasse oficialmente.

Essa tese era teologicamente incorreta, pois, se o Papa exigisse a licença de imperadores ou presidentes de repúblicas para que seus atos entrassem em vigor, ele não teria jurisdição direta e universal sobre os fiéis. Então, a unidade da Igreja seria quebrada.

Dom Vital trocou correspondência com o governo imperial defendendo a Igreja e também seu direito de atacar a Maçonaria, mas essa troca terminou com sua prisão. Uma ordem imperial foi expedida para prendê-lo e levá-lo do Recife ao Rio de Janeiro para ser julgado por um tribunal imperial.

Dom Vital recebeu essa encomenda em cena famosa que tenho o prazer de relatar aqui. Um juiz, um policial e um coronel do Exército foram designados para proferir a ordem de prisão. Dom Vital sabia que seria preso e aguardou os oficiais vestidos com trajes solenes de Bispo acompanhados de seu clero.

Os oficiais entraram no Palácio Episcopal e Dom Vital apareceu diante deles com mitra e báculo.

O policial disse: “Excelência, tenho o dever de prendê-lo.”

Dom Vital respondeu: “Bem, aqui estou.”

O oficial: “Vossa Excelência deve se considerar preso”.

Dom Vital: “Só quando você colocar a mão em mim para que eu tenha a prova de que você cometeu violência contra a minha vontade.”

O oficial se aproximou dele, colocou sua mão blasfema no ombro do Bispo e disse: “Vossa Excelência está preso.”

Dom Vital: “Já que sofri violência do Estado, vou acompanhá-lo, mas irei a pé.”

The Cathedrals of Olinda and Recife

Dom Vital teve duas co-catedrais, uma de Olinda, no alto, e outra de Recife, cidade-irmã voltada para os negócios

Não me lembro da distância entre o Palácio da Soledade e o porto onde o navio o esperava, mas ele sabia que, se andasse a pé, certamente seria seguido por uma parte da população. As pessoas inevitavelmente espalhariam a notícia: “O Império está prendendo o Bispo.”

Isso produziria reações de bola de neve que prejudicariam muito o prestígio do Império. Se tal ação não pudesse ocorrer no Brasil hoje sem gerar grande turbulência sociopolítica, podemos imaginar como seria muito mais viva a reação naquele momento. Assim, temendo que o povo se reunisse para apoiar Dom Vital e o governo se tornasse mais impopular, as autoridades civis proibiram o Prelado de ir a pé.

Algo semelhante aconteceu a caminho do Rio. As autoridades o trocaram do primeiro navio por outro em Salvador para evitar que a população recebesse o Dom Vital com uma recepção calorosa no Rio. Em vez disso, ele entrou secretamente e foi transferido diretamente para uma prisão da Marinha, onde permaneceu até o dia do julgamento.

Ele entrou no tribunal e foi conduzido a um pequeno banco indigno designado para ele. Um dos juristas, favorável a Dom Vital, pegou na sua cadeira e levou-a ao Bispo para que se sentasse com honra.

Dois famosos advogados foram escolhidos para defendê-lo: Zacarias de Gois, senador e renomado estadista, e Cândido Mendes de Almeida. Antes do início da defesa, Dom Vital fez esta declaração perante o tribunal: “Recuso a defesa que me foi oferecida porque nego o direito deste tribunal civil de julgar um Bispo da Igreja Romana, Católica e Apostólica. Um Bispo só pode ser julgado pelo Papa. Portanto, declaro minha oposição a esta defesa.”

No banco dos réus estavam dois outros Bispos que escolheram acompanhar Dom Vital neste julgamento injusto: o Bispo do Rio, Dom Pedro Maria de Lacerda, um homem sem valor, e um Bispo Americano que por acaso estava no Rio e queria sentar-se com ele. As galerias do tribunal estavam repletas de pessoas que aplaudiram com entusiasmo o Prelado.

Ele foi condenado a quatro anos de prisão com trabalhos forçados. O Imperador dispensou-o do trabalho por temer que o governo caísse diante da indignação do povo. Seu companheiro de prisão era Dom Macedo Costa, um pré-progressista, um Bispo covarde e medíocre que sempre buscava concessões e obediências. Acredito que tê-lo como companheiro de prisão foi um dos maiores sofrimentos de Dom Vital.

a photograph of the Ilhas das Cobras, the island of serpents

No alto da Ilha das Cobras, acima, havia uma fortaleza onde Dom Vital foi mantido prisioneiro

Na prisão, sofreu enorme pressão para suspender as excomunhões que havia proferido em Recife. Se ele tivesse concordado, ele teria sido liberado. Mas Dom Vital sempre foi inflexível e recusou.

Ele começou todas as cartas que escreveu da prisão com as seguintes palavras: “Da minha prisão na Ilha das Cobras," seguido da data. Desta forma, ele documentou o tempo que permaneceu na prisão.

Durante a prisão de Dom Vital, sua popularidade cresceu como uma grande onda por todo o Brasil e a fortaleza tornou-se um local de peregrinação. Seguindo a moda do Liberalismo da época, o governo autorizou um serviço especial para conduzir as pessoas que quisessem visitá-lo na Ilha das Cobras. Da serra mineira, por exemplo, famílias inteiras, inclusive mulheres e crianças, vinham a cavalo visitar Dom Vital e pedir sua bênção. Foi uma peregrinação constante. Estou relatando aqui apenas alguns episódios que minha memória ruim reteve.

Dom Vital recebeu com bondade todas essas pessoas.

Continua


Postado em 6 de agosto de 2021


Tópicos relacionados de interesse
Trabalhos relacionados de interesse