Questões Socio-políticas
Stalinismo no Brasil - II
De Prestes a Lula, espelhando
o cenário Russo
Eu acredito que em muitos aspectos o Comunismo Brasileiro espelhou o cenário Russo da primeira parte do século 20, descrito no meu último artigo.
As três primeiras décadas do século na Rússia foram o palco que incitou uma constante turbulência social necessária para a implantação do Comunismo. Houve inúmeras batalhas armadas entre o grupo de resistência dos Russos Brancos contra o Exército Vermelho. Além disso, houve as lutas pelo poder entre Lenin, Stalin e Trotsky.
O Partido Comunista Brasileiro – PCB, foi fundado em 1922 tendo Luiz Carlos Prestes como um de seus fundadores.
No que agora é chamado de Rebelião dos Tenentes, ele liderou um grupo de oficiais inferiores para se rebelar contra a estrutura agrária do país, mas sem sucesso.
Em 1924, esse militante comunista liderou um grupo de tenentes a cavalo pelo interior de vários Estados do Brasil - a Coluna de Prestes - contra o que chamou de “oligarquia” do país. Por causa dessas duas iniciativas, ambas fracassadas, ele foi exilado por volta de 1930 na Argentina.
Um ano depois, ele foi para a Rússia, onde se tornou mais enraizado na ideologia comunista. Em 1935 voltou ao Brasil com o objetivo de derrubar o governo nacionalista de Getúlio Vargas.
Uma manifestação expressiva do Stalinismo no Brasil ocorreu no ano da volta de Prestes, em 1935. Inspirado pelo Comunista Internacional, Prestes comandou um grupo de militantes em um coup d’état (golpe de estado), para implantar o Comunismo no país. Os rebeldes atuavam em três Estados - Rio Grande do Norte, Pernambuco e Rio de Janeiro - na tentativa de assumir o governo.
Dois episódios dramáticos aconteceram na cidade do Rio de Janeiro, então capital do Brasil, no que hoje é chamado de Levante Comunista de 1935. Os rebeldes atacaram a Academia Militar da Praia Vermelha matando muitos oficiais enquanto dormiam. Outros capturaram aviões e tentaram decolar para bombardear a cidade do Rio. Em ambos os casos, os comunistas não tiveram sucesso em suas tentativas e o levante foi reprimido.
Como consequência deste coup (golpe), Prestes foi preso durante 10 anos. Em 1945, ele foi libertado e eleito senador. Logo depois, porém, o Partido Comunista foi novamente banido e Prestes, que continuava na linha dura, entrou na clandestinidade.
Em 1958, ele foi autorizado a retornar à cena política, mas em 1964, como consequência da tomada anticomunista pelos militares, ele voltou para a União Soviética. Retornou ao Brasil em 1979, beneficiando de uma anistia geral.
Embora continuasse sendo declarado comunista, ele rompeu com o Partido Comunista Brasileiro e apoiou o Partido Democrático Trabalhista do Brasil.
Nesse ínterim, a disputa na Rússia pelo programa de “desestalinização” de Kruschev nos anos 60 teve repercussão no Brasil. O Partido Comunista Brasileiro (PCB) adotou a linha de Kruschev, enquanto os Maoístas - que adotaram a doutrina comunista mais radical de Mao Tsé Tung - formaram o Partido Comunista do Brasil (PC do B).
Durante aquele período, houve muitas disputas entre os líderes do Comunismo no Brasil sobre a direção que ele deveria seguir: um lado defendeu uma rota política com uma aliança com a “burguesia nacional;” o outro queria assumir o governo por meio de guerrilhas urbanas e revolução armada.
Surgiram cerca de 25 organizações diferentes, todas propondo soluções diferentes, a maioria delas violentas; alguns defendendo ações claramente terroristas. Essas organizações causaram grande inquietação no Brasil por várias décadas, resultando em inúmeros ataques a bomba, sequestros de personalidades para troca de resgate, roubos de instalações militares por armas e assaltos a bancos. Ao mesmo tempo, o conflito de guerrilhas foi perseguido implacavelmente.
É impossível não comparar esta fratura do Partido Comunista com o que ocorreu entre Lenin, Stalin e Trotsky. Esses três líderes frequentemente atacavam uns aos outros enquanto cada um tentava adquirir mais poder e dirigir o movimento comunista. Foi Stalin quem prevaleceu e, após a morte de Lenin em 1924, ele assumiu o controle total do Partido Comunista Russo e do governo.
O papel da esquerda Católica
Nos anos 60, Bispos Católicos Brasileiros e o clero se posicionaram contra o Capitalismo e a estrutura de produção agrícola e pecuária do país. Muitos adotaram o jargão Marxista sobre como os ricos exploravam os pobres e começaram a clamar por “reformas nas estruturas.” À frente desse movimento estava o carismático líder Helder Câmara, o “Arcebispo Vermelho” das cidades de Olinda e Recife.
Os religiosos adotaram uma "linha reformista" ou uma "linha revolucionária." Na primeira, os padres, monges e freiras instigavam e organizavam greves e participavam de manifestações públicas sobre questões sociais e econômicas. O segundo era mais diretamente comunista e pregava a luta armada. Essas duas correntes prepararam o caminho para a Teologia da Libertação, que em 1968 foi “batizada” por Paulo VI em Medellín, na Colômbia, e trouxe tantos prejuízos para as Américas do Sul e Central.
Foi sob a influência tanto do PC do B Stalinista, que se infiltrou em quase todos os sindicatos operários, quanto da Teologia da Libertação, que contou com o apoio do clero, que Lula da Silva veio à luz nas últimas décadas do século 20. Líder sindical, foi beneficiário das Comunidades Eclesiais de Base - CEBs - que contavam com o apoio de Prelados Católicos como o Cardeal de São Paulo Evaristo Arns e o Bispo de Santo André, Cláudio Hummes (posteriormente Arcebispo de São Paulo). As CEBs tornaram-se uma força nacional e, com base neles e com o apoio do PC do B, Lula da Silva fundou o Partido dos Trabalhadores em 1980 (Partido dos Trabalhadores - PT) e candidatou-se três vezes sem sucesso à presidência antes de obter a vitória na eleição de 2002.
Em 1980, Lula dizia: “Só partidos e sindicatos fortes podem impedir que pequenos grupos tomem o país e se perpetuem no poder.”
Mostrando sua tendência comunista, Lula declarou: “Quando falamos de Socialismo, logo surge a pergunta: que tipo de Socialismo? Algumas pessoas têm modelos prontos em suas mentes: o Soviético, o Cubano, eu poderia até dizer que tenho um modelo em mente. ... Mas para isso ainda é muito difícil fazer essas pessoas simples discutirem o Socialismo, porque o que normalmente acontece é que aqueles que têm ideias fixas na mente tentam enfiá-las goela abaixo dos trabalhadores.”
Nessa ocasião, ele expressou um dos princípios de sua carreira de agitador: “Não podemos esperar eternamente o momento propício para uma greve. Quem cria o momento é o trabalhador.”
Com esses poucos exemplos, meu leitor tem uma ideia da dívida de Lula da Silva tanto com o Comunismo Stalinista quanto com a Teologia da Libertação das CEBs.
Espero em meu próximo artigo me aprofundar mais nessa dependência.
Continua
“Dada a atualidade do tema deste artigo (15 de março de 2019), TIA do Brasil resolveu republicá-lo - mesmo se alguns dados são antigos - para benefício de nossos leitores.”
Postado em 16 de abril de 2021
As três primeiras décadas do século na Rússia foram o palco que incitou uma constante turbulência social necessária para a implantação do Comunismo. Houve inúmeras batalhas armadas entre o grupo de resistência dos Russos Brancos contra o Exército Vermelho. Além disso, houve as lutas pelo poder entre Lenin, Stalin e Trotsky.
Prestes, sentado com barba, com um grupo de tenentes insurgentes que liderava
No que agora é chamado de Rebelião dos Tenentes, ele liderou um grupo de oficiais inferiores para se rebelar contra a estrutura agrária do país, mas sem sucesso.
Em 1924, esse militante comunista liderou um grupo de tenentes a cavalo pelo interior de vários Estados do Brasil - a Coluna de Prestes - contra o que chamou de “oligarquia” do país. Por causa dessas duas iniciativas, ambas fracassadas, ele foi exilado por volta de 1930 na Argentina.
Um ano depois, ele foi para a Rússia, onde se tornou mais enraizado na ideologia comunista. Em 1935 voltou ao Brasil com o objetivo de derrubar o governo nacionalista de Getúlio Vargas.
Uma manifestação expressiva do Stalinismo no Brasil ocorreu no ano da volta de Prestes, em 1935. Inspirado pelo Comunista Internacional, Prestes comandou um grupo de militantes em um coup d’état (golpe de estado), para implantar o Comunismo no país. Os rebeldes atuavam em três Estados - Rio Grande do Norte, Pernambuco e Rio de Janeiro - na tentativa de assumir o governo.
Dois episódios dramáticos aconteceram na cidade do Rio de Janeiro, então capital do Brasil, no que hoje é chamado de Levante Comunista de 1935. Os rebeldes atacaram a Academia Militar da Praia Vermelha matando muitos oficiais enquanto dormiam. Outros capturaram aviões e tentaram decolar para bombardear a cidade do Rio. Em ambos os casos, os comunistas não tiveram sucesso em suas tentativas e o levante foi reprimido.
Prestes, mais tarde eleito Senador,
festejado como 'um Comunista Brasileiro'
Em 1958, ele foi autorizado a retornar à cena política, mas em 1964, como consequência da tomada anticomunista pelos militares, ele voltou para a União Soviética. Retornou ao Brasil em 1979, beneficiando de uma anistia geral.
Embora continuasse sendo declarado comunista, ele rompeu com o Partido Comunista Brasileiro e apoiou o Partido Democrático Trabalhista do Brasil.
Nesse ínterim, a disputa na Rússia pelo programa de “desestalinização” de Kruschev nos anos 60 teve repercussão no Brasil. O Partido Comunista Brasileiro (PCB) adotou a linha de Kruschev, enquanto os Maoístas - que adotaram a doutrina comunista mais radical de Mao Tsé Tung - formaram o Partido Comunista do Brasil (PC do B).
'Partidos Comunistas no Brasil: Duas faces da mesma moeda'
Surgiram cerca de 25 organizações diferentes, todas propondo soluções diferentes, a maioria delas violentas; alguns defendendo ações claramente terroristas. Essas organizações causaram grande inquietação no Brasil por várias décadas, resultando em inúmeros ataques a bomba, sequestros de personalidades para troca de resgate, roubos de instalações militares por armas e assaltos a bancos. Ao mesmo tempo, o conflito de guerrilhas foi perseguido implacavelmente.
É impossível não comparar esta fratura do Partido Comunista com o que ocorreu entre Lenin, Stalin e Trotsky. Esses três líderes frequentemente atacavam uns aos outros enquanto cada um tentava adquirir mais poder e dirigir o movimento comunista. Foi Stalin quem prevaleceu e, após a morte de Lenin em 1924, ele assumiu o controle total do Partido Comunista Russo e do governo.
O papel da esquerda Católica
Nos anos 60, Bispos Católicos Brasileiros e o clero se posicionaram contra o Capitalismo e a estrutura de produção agrícola e pecuária do país. Muitos adotaram o jargão Marxista sobre como os ricos exploravam os pobres e começaram a clamar por “reformas nas estruturas.” À frente desse movimento estava o carismático líder Helder Câmara, o “Arcebispo Vermelho” das cidades de Olinda e Recife.
Helder Camara, o 'Arcebispo Vermelho' preparou o caminho para a Teologia da Libertação
Foi sob a influência tanto do PC do B Stalinista, que se infiltrou em quase todos os sindicatos operários, quanto da Teologia da Libertação, que contou com o apoio do clero, que Lula da Silva veio à luz nas últimas décadas do século 20. Líder sindical, foi beneficiário das Comunidades Eclesiais de Base - CEBs - que contavam com o apoio de Prelados Católicos como o Cardeal de São Paulo Evaristo Arns e o Bispo de Santo André, Cláudio Hummes (posteriormente Arcebispo de São Paulo). As CEBs tornaram-se uma força nacional e, com base neles e com o apoio do PC do B, Lula da Silva fundou o Partido dos Trabalhadores em 1980 (Partido dos Trabalhadores - PT) e candidatou-se três vezes sem sucesso à presidência antes de obter a vitória na eleição de 2002.
Em 1980, Lula dizia: “Só partidos e sindicatos fortes podem impedir que pequenos grupos tomem o país e se perpetuem no poder.”
Lula, ao centro, apoiado por Frei Beto e o Card. Claudio Hummes
Nessa ocasião, ele expressou um dos princípios de sua carreira de agitador: “Não podemos esperar eternamente o momento propício para uma greve. Quem cria o momento é o trabalhador.”
Com esses poucos exemplos, meu leitor tem uma ideia da dívida de Lula da Silva tanto com o Comunismo Stalinista quanto com a Teologia da Libertação das CEBs.
Espero em meu próximo artigo me aprofundar mais nessa dependência.
Continua
“Dada a atualidade do tema deste artigo (15 de março de 2019), TIA do Brasil resolveu republicá-lo - mesmo se alguns dados são antigos - para benefício de nossos leitores.”
Postado em 16 de abril de 2021
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