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Missa de Diálogo - XII

O Ataque dos Bispos Alemães,
Pio XII Capitulado

Dra. Carol Byrne, Grã-Bretanha
Logo depois de se tornar Papa, Pio XII teve que enfrentar uma Frente Unida de Bispos Alemães que foi inflexível em promover a “participação ativa” na liturgia em desafio à lei eclesiástica.

Numerosos abusos litúrgicos já estavam florescendo sem controle em suas dioceses, alimentados pelos esforços subversivos de liturgistas e teólogos progressistas das terras de língua Alemã: notavelmente o Abade Herwegen e Dom Odo Casel da Abadia Beneditina Maria Laach, Padres Augustin Bea, Romano Guardini, Karl Rahner, Joseph Jungmann e Pius Parsch. Apesar da anarquia litúrgica reinante, a Conferência Episcopal Alemã, chefiada pelo Card. Bertram, assumiu o Movimento Litúrgico em 1940 e criou sua própria Comissão Litúrgica, que funcionava independentemente da Santa Sé.

Conrad Grober

O Arcebispo Gröber denunciou veementemente as inovações progressistas, mas perdeu a batalha...

Para ter uma ideia de até que ponto os amotinados Bispos Alemães mergulharam suas dioceses no caos litúrgico, podemos consultar o Memorandum (1) de 1943, escrito pelo Arcebispo Conrad Gröber de Freiburg dirigido aos Bispos Alemães e Austríacos e à Cúria Romana.

O Arcebispo Gröber rompeu relações com seus confrades na Conferência Episcopal e denunciou com veemência as inovações radicais na doutrina e liturgia praticadas pelos reformadores. Ele estava expressando as queixas de muitos Católicos Alemães que se opunham às mudanças litúrgicas em suas paróquias.

Em seu memorando ele mostrou como o Movimento Litúrgico era uma vitrine para a corrupção litúrgica diretamente relacionada à adoção dos princípios Protestantes, (2) criando assim uma cultura de cisma mortalmente divisora dentro do clero. (3) É digno de nota, embora não seja surpreendente, que todos os desvios doutrinários que o Arcebispo Gröber mencionou como predominantes em 1943 foram uma réplica exata daqueles que influenciaram a criação do Novus Ordo de 1969. Afinal, muitas das principais figuras do Movimento Litúrgico seria promovido como periti (experts) no Vaticano II.

Quanto aos abusos litúrgicos, podemos considerar um dos mais notórios - o canto de hinos em língua vernácula durante a Missa, que era um costume antigo na Alemanha. Segundo o Arcebispo Gröber, os Bispos Alemães insistiram na participação vocal da congregação - até ao ponto de torná-la obrigatória - e no uso do Alemão na Missa.

O fato de ter sido expressamente proibido pelos Papas Leão XIII e Pio X e confirmado no Código de Direito Canônico (4) foi completamente ignorado. Ainda que a Santa Sé, desde o Concílio de Trento, se reservasse o direito de legislar no domínio da liturgia, as ordens de Roma eram consideradas pelos Bispos Alemães como uma intrusão intolerável da legislação papal e uma ameaça à sua suposta autonomia.

Pio XII içou a bandeira branca

Em 1943, as seguintes demandas foram feitas à Santa Sé pelo Card. Adolf Bertram em nome dos Bispos Alemães:
  • Aprovação da Missa a ser cantada pela Congregação em língua vernácula;

  • Um saltério Latino novo e mais simples para o Breviário;

  • Uso extensivo do vernáculo no Ritual (para uso nos Sacramentos, Bênçãos, Exorcismos etc.);

  • Celebração das cerimônias da Vigília Pascal à noite.
Cardinal Bertram

Card. Bertram, segundo à esquerda, um adepto de Hitler,
e das mudanças progressistas na liturgia

Pio XII devia estar ciente de que esses abusos já estavam em voga na Alemanha, pois, além da análise do Arcebispo Gröber, fortes objeções foram publicadas por padres conservadores que representam as preocupações dos leigos. (5) Não obstante, o Card. Bertram esperava pressionar Pio XII para que autorizasse essas reformas e, como os eventos mostraram, suas esperanças foram realizadas

Ele recebeu uma resposta imediata do Vaticano permitindo que a Missa Solene (Deutsches Hochamt) fosse cantada em Alemão pela congregação. Portanto, o que havia sido feito ilicitamente em desafio ao Direito Canônico até 1943 de repente tornou-se uma prática aprovada.

Era o mesmo princípio pelo qual Paulo VI capitulava à pressão pela Comunhão nas mãos, Missa voltada para o povo, laicização dos padres etc. Os regulamentos estavam sendo amplamente desprezados, então por que se preocupar em tentar mantê-los?

Uma liturgia 'roll your own' - 'de enrolar'

Quanto às outras demandas, as seguintes concessões foram prontamente feitas:
  • A Santa Sé aprovou a Missa de Diálogo (Gemeinschaftsmesse) e deixou a “Missa Comunitária” vernacularizada (Betsingmesse) ao critério dos Bispos Alemães;

  • Um ritual em Alemão foi aprovado;

  • Padre Augustin Bea foi nomeado para supervisionar a produção de um novo Saltério não tradicional, que Pio XII aprovou pessoalmente em 1945; (6)

  • A reforma da Vigília Pascal logo seria concedida. As cerimônias tradicionais foram drasticamente reduzidas e uma oportunidade para "participação ativa" foi fornecida por uma inovação completa, a "Renovação das Promessas Batismais" recitada em vernáculo
1943 ficará para a história como o ano em que a Igreja finalmente cedeu ao Zeitgeist ou espírito do Progressismo que ameaçava engolfá-la desde a época de Pio X. Os Bispos Alemães exigiam a liberdade de “fazer a sua própria coisa.” E assim a autoridade do Romano Pontífice e a sacralidade da liturgia tradicional tiveram que ser deixadas de lado para acomodar uma liturgia mutante e mundana dita em vernáculo, que iria consagrar o Culto do Homem.

Não nos esqueçamos do impacto dessas concessões papais sobre os Católicos de mentalidade tradicional da Alemanha: o tapete foi puxado sob seus pés quando eles se viram rejeitados pelo Santo Padre.

Pescando em águas perigosas

Todo o empreendimento foi um desastre eclesiástico em formação. O Papa tentou controlar a Conferência Episcopal Alemã repreendendo os abusos litúrgicos, impondo restrições caóticas e períodos experimentais. Mas os Bispos Alemães colocaram todos de lado para se permitirem a liberdade ilimitada de regular suas próprias liturgias.

pius XII

Um aparente conservador Pio XII capitulou aos Bispos Alemães

É óbvio que essas ações papais contra os reformadores dissidentes, embora tolerassem seus abusos, eram totalmente ilógicas: a mensagem foi fatalmente misturada. Se infringir a Lei Canônica e desobedecer às ordens papais poderia ser tão facilmente tolerado na Alemanha, por que os progressistas em outros lugares deveriam ser alvo de crítica papal? E se o uso do vernáculo nas terras de língua Alemã era amplamente permitido, por que os habitantes de outros países deveriam ser impedidos de usar suas próprias línguas na liturgia?

Embora o Latim permanecesse “oficialmente” a língua da liturgia, a situação rapidamente se tornou um caos ridículo. Seguiu-se um esforço concentrado na década de 1940 para invadir o Vaticano. Sobrecarregado com pedidos de muitos países, Pio XII permitiu cada vez mais o uso do vernáculo na liturgia. (7) Para aqueles que decidiram curto-circuitar o sistema e não se preocuparam em pedir permissão, nenhuma ação seria tomada contra eles por infringir a lei.

O mesmo cenário seria repetido após o Vaticano II com permissão para coroinhas, Comunhão sob ambas as espécies, etc., quando os Papas recompensaram a desobediência e encorajaram o desprezo pela lei eclesiástica.

Um movimento de pinça Francês e Alemão

A década de 1940 também foi uma época em que as hierarquias nacionais - particularmente a Francesa e a Alemã - estavam reunindo suas forças combinadas para montar um ataque total ao controle Romano da liturgia. Pode parecer para algumas pessoas surpreendente ou um pouco hiperbólico que a linguagem da batalha deva ser empregada para caracterizar a situação, mas não se pode negar que os reformadores pré-Vaticano II viam sua missão nesses termos.

Um dos companheiros de armas de Dom Beauduin, Pe. Pie Duployé, afirmou em 1951 após participar da Primeira Semana Litúrgica Internacional na Abadia Beneditina Alemã de Maria Laach: “se eles soubessem em Roma que Paris e Trier [os centros dos movimentos reformistas Francês e Alemão] estavam marchando juntos, isso seria o fim da hegemonia da Congregação dos Ritos.” (8)

Estas são certamente palavras de luta, revelando a intenção do Movimento Litúrgico de arrancar o controle da liturgia da Santa Sé, mas não foram correspondidas por nenhuma ação conjunta ou espírito de oposição correspondentemente militante do Vaticano. Não havia ninguém lá para lutar as batalhas que precisavam ser travadas.

Confrontado com a pressão crescente dos líderes de várias cabalas litúrgicas, Pio XII tocaria uma “trombeta incerta” (9) na Mediator Dei e seguiria uma política de apaziguamento.

Continua

  1. Hubert Jedin, History of the Church, Londres: Burns and Oates, 1981, vol. 10, p. 303.
  2. Estas incluíam apresentar a essência da Missa como uma Refeição; exagerar o sacerdócio dos leigos e promover a noção de que “é a comunidade que celebra”; depreciar o sacerdócio ministerial e reduzir o papel do sacerdote a um delegado pela paróquia para presidir a Missa; rejeitar Missas privadas e orações devocionais (Rosário, Estações, etc.); estender os limites da Igreja para incluir os protestantes, considerando as seitas heréticas como parte da Igreja; redefinindo a fé como não mais uma crença em verdades reveladas, mas uma experiência, uma emoção.
  3. Os sentimentos aumentaram em ambos os lados da divisão. Seguindo as instruções do Card. Innitzer da Áustria, Karl Rahner, então em Viena, escreveu uma carta de protesto de 53 páginas ao Arcebispo Gröber, uma cópia da qual foi enviada a todos os Bispos Alemães e Austríacos. (Ver William Dych, Karl Rahner, Continnuum 3 PL, New York, 2000, p. 9)
    Romano Guardini também tentou se opor às críticas do Arcebispo Gröber ao Movimento Litúrgico em uma carta ao Bispo Stohr de Mainz. (Ver La Maison-Dieu, Paris: Editions du Cerf , 1945, vol. 3, pp. 7-25) O Bispo Stohr era o chefe da Comissão Litúrgica Alemã, uma organização que havia sido criada em 1940 independentemente da Santa Sé. Forneceu um veículo de comunicação entre os membros líderes do Movimento Litúrgico Alemão e uma frente comum contra os ataques ao Movimento.
  4. O canto de hinos em língua vernácula durante a Missa havia sido expressamente proibido por Leão XIII no Decreto Geral da Congregação dos Ritos de 22 de maio de 1894.
    São Pio X afirmava: “A língua própria da Igreja Romana é o Latim. Portanto, é proibido cantar qualquer coisa em vernáculo em funções litúrgicas solenes.” (Motu proprio Tra le Sollecitudini, 1903, § 7)
    As prescrições do Motu proprio e São Pio X foram confirmadas também pelo Codex Juris Canonici de 1917. O Cânon 2 prescreve: “Todas as leis litúrgicas ainda estão em vigor.” (Omnes liturgicae leges vim suam retinent); Canon 1264, n.1: “Devem ser observadas as leis litúrgicas relativas à música sacra,” (Leges liturgicae circa musicam sacram serventur);
  5. Veja Pe. Max Kassiepe OMI, Irrwege und Umwege im Frömmigkeitsleben der Gegenwart, (voltas e desvios errados na vida espiritual contemporânea), Kevelaer, vol. 1 (1939), vol. 2 (1940). e Kassiepe mencionou especificamente as mudanças no Confiteor e no Agnus Dei, a Vigília Pascal realizada no sábado à noite, os padres que usaram o Alemão na liturgia para a Missa Cantata e a Missa Recitata e as críticas injustas aos fiéis que recitaram o Rosário ou fizeram as Estações da Cruz.
    Veja também Pe. August Dörner, Sentire cum Ecclesia. Ein dringender Aufruf und Weckruf an Priester (Um Chamado de Despertar Urgente para os Padres), Kühlen, Mönchengladbach, 1941);
  6. Isso não satisfez os Bispos Alemães. A pedido da Conferência Episcopal Alemã, Pe. Romano Guardini produziu um novo Saltério (Deutscher Psalter) em 1950 no vernáculo.
  7. Versões vernáculas do Ritual foram permitidas pelo Vaticano na Alemanha (1943 e 1950), França (1946 e 1947) e nos EUA (1954), Liège (1948). Em 1949, foi concedida permissão à China para a Missa em Chinês. Em 1950, a Índia recebeu permissão para usar o Hindu para a celebração dos Sacramentos.
  8. Apud Denis Crouan, A História e o Futuro da Liturgia Romana, Ignatius Press, 2005, p. 136. O Congresso de 1959 foi patrocinado conjuntamente pelo Centre de Pastorale Liturgique em Paris e pelo Instituto Litúrgico de Trier, Alemanha. O principal tema de discussão no Congresso foi “O Problema do Missal Romano”. Muitas ideias discutidas nas Semanas Litúrgicas Internacionais encontraram seu caminho na Constituição sobre a Liturgia e na Gaudium et spes do Vaticano II.
  9. 1 Cor 14:8: “E, se a trombeta der um som confuso, quem se preparará para a batalha?”
“Dada a atualidade do tema deste artigo (15 de outubro de 2014), TIA do Brasil resolveu republicá-lo - mesmo se alguns dados são antigos - para benefício de nossos leitores.”


Postado em 23 de junho de 2021

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