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Missa de Diálogo - XV

Uma Reforma Litúrgica autocontraditória

Dra. Carol Byrne, Grã-Bretanha
Com a Mediator Dei de 1947, Pio XII preparou o terreno para a “participação ativa” dos leigos. Ele não apenas encorajou fortemente a “Missa Dialogada” e o canto congregacional nesta encíclica, mas também exortou os Bispos a estabelecer comitês diocesanos para garantir que essas medidas revolucionárias “nas quais o povo participa da liturgia” fossem promovidas em todos os lugares como “apostolado litúrgico” para os leigos. (1)

Aqui vemos a primeira sugestão da “teologia do ministério litúrgico leigo” que seria ordenada pelo Vaticano II, em que toda a assembleia compartilha a responsabilidade de celebrar a Missa. Assim, Pio XII minou efetivamente seu próprio ensino sobre o sacerdócio Católico encontrado em outra parte do mesmo documento. Com tanta confusão entre ordenados e não ordenados, não é de se admirar que tenha surgido uma crise de identidade sacerdotal?

Lay minister of Eucharist

Os ministros eucarísticos leigos de hoje atuam como participantes do sacerdócio - Diocese de Austin, Texas

Quase imediatamente após a encíclica, Pio XII colocou o Pe. Annibale Bugnini encarregado de uma Comissão para a Reforma Geral da Liturgia composta por alguns sátrapas “progressistas” escolhidos a dedo. (2)

O primeiro resultado do trabalho da comissão foi a reestruturação do rito da Vigília Pascal (1951) com o objetivo de promover a “participação ativa,” levando a uma revisão completa da liturgia da Semana Santa em 1955. Isso, por sua vez, geraria todas as reformas litúrgicas antes e depois do Vaticano II, com o mesmo raciocínio em mente.

Não havia dúvidas que nas mentes dos dois membros mais influentes da Comissão, Pe. Bugnini e Pe. Ferdinando Antonelli, que as reformas que planejaram na década de 1950 foram baseadas nos mesmos princípios das reformas pós-conciliares.

Bugnini fez várias declarações no sentido de que as reformas de 1955 foram um estágio de transição de uma reforma litúrgica mais geral, “o primeiro passo em direção a medidas de escopo mais amplo,” “uma seta” apontando para a frente. (3) Pe. Antonelli, futuro Secretário da Comissão Litúrgica do Vaticano II e Secretário da Congregação dos Ritos, afirmou que sua revisão do rito Romano sob Pio XII era simplesmente uma “espécie de noviciado” para as reformas oficiais do Vaticano II e posteriores. (4)

Quando as galinhas de Bugnini voltaram para o poleiro

antonelli JPII

Um primeiro reformador, Pe. Antonelli recebeu um chapéu de cardeal e prestígio dos Papas

Que irônico que Pe. Antonelli (mais tarde Cardeal), a quem foi atribuída a responsabilidade principal na Comissão de Pio XII para a reforma da Semana Santa, mais tarde lamentou o resultado do que ele havia iniciado nos anos 1950. Em suas memórias, ele observou:

“Muitos dos que influenciaram a reforma ... e outros, não têm amor e nenhuma veneração por aquilo que nos foi transmitido. Eles começam desprezando tudo o que realmente existe. Essa mentalidade negativa é injusta e perniciosa ... com essa mentalidade eles só puderam demolir e não restaurar.” (5)

Precisamente. Ainda assim, naquele ponto crítico da história em que o apoio papal para a proteção dos ritos tradicionais era essencial, Pio XII estava do lado errado, alinhando-se com aqueles que pretendiam demolir a Tradição.

A hermenêutica da ruptura

Continuidade com a Tradição era exatamente o que a Comissão de Pio XII não desejava, como ficou bem claro no Decreto de 1951 (6) introduzindo um serviço experimental da Vigília Pascal e também no Decreto de 1955 (7) fazendo-o (e todas as reformas da Semana Santa) obrigatórias para o rito Romano. Ambos os decretos, como veremos a seguir, contêm críticas injustificadas aos ritos tradicionais; também são acompanhados de Instruções para novos ritos, nas quais a ênfase foi colocada na “participação ativa” dos leigos.

horizontal church

A igreja "horizontal" refletida em uma arquitetura e liturgia igualitária

Aqui vemos os primeiros vislumbres de uma nova abordagem da liturgia - conhecida mais tarde como “horizontalismo.” A ordem e o significado do culto Católico estavam agora nas mãos dos reformadores que começaram a substituir sistematicamente os rituais que transmitiam um senso de reverência e temor na presença de Deus por construções “simplificadas” centradas no homem, promovendo a “participação ativa.”

Em 1955, com o Decreto Maxima Redemptionis, a forma da mais antiga das vigílias (que Santo Agostinho chamou de “Mãe de todas as vigílias”) foi reformulada e alguns textos foram massivamente reduzidos. E novos arranjos foram inventados para o padre enfrentar o povo, envolvendo o “diálogo” com ele no vernáculo. Pode-se dizer que o declínio do sentido do sagrado começou de forma embrionária com as mudanças de 1951-1955.

Falso alvorecer da reforma da Vigília Pascal

Sob pressão dos Bispos Franceses e Alemães, Pio XII fez uma nova regra de que a Igreja não deveria mais realizar a Vigília Pascal durante o dia, como acontecia desde os séculos 7 ou 8, mas deveria voltar à prática dos primeiros Cristãos que a mantiveram depois de escurecer.

Nenhuma razão convincente foi dada pela Congregação dos Ritos para explicar por que a noite deveria ser considerada a “hora apropriada” para o serviço da Vigília. Na verdade, não existe uma hora “adequada” para uma vigília. O mistério da liturgia da Igreja não está, em sua essência, limitado pelo relógio. Em termos litúrgicos, a vigília refere-se à véspera de um dia de festa e pode ser celebrada com propriedade a qualquer hora do dia.

No entanto, Maxima Redemptionis insistiu arbitrariamente que as cerimônias “não podem começar antes do crepúsculo, ou certamente não antes do pôr do sol.” Mas o tempo da Vigília Pascal nunca foi definido por cálculos astronômicos, como se tudo dependesse de quantos graus o sol está acima ou abaixo do horizonte.

A natureza autocontraditória da reforma da Vigília Pascal

A Igreja foi ordenada a retornar às catacumbas. É perplexo que o mesmo Papa que havia condenado tal passo retrógrado nos termos mais fortes como “antiquarianismo” apenas quatro anos antes, pudesse ter permitido essa reversão de seu próprio ensino:

“A liturgia dos primeiros tempos é certamente digna de toda veneração. Mas o uso antigo não deve ser considerado mais adequado e apropriado, seja em seu próprio direito ou em seu significado para tempos posteriores e novas situações, pelo simples fato de que carrega o sabor e o aroma da antiguidade. Os ritos litúrgicos mais recentes também merecem reverência e respeito. Eles também devem sua inspiração ao Espírito Santo, que assiste a Igreja em todas as épocas, até a consumação do mundo. Eles são igualmente os recursos usados pela majestosa Esposa de Jesus Cristo para promover e obter a santidade do homem.” (8)

vigil

Uma celebração da Vigília Pascal pós-Vaticano II na Catedral de Los Angeles

Mas o que interessa a respeito de seu Decreto Maxima Redemptionis de 1955 é que afirmava que a Vigília Pascal Cristã primitiva era “mais adequada e apropriada” do que o que havia se desenvolvido ao longo dos séculos intermediários; e fez rejeitar o princípio de que “os mais recentes ritos litúrgicos da mesma forma merecem reverência e respeito.” Não há dúvidas quanto à linguagem usada no Decreto para denegrir a tradição litúrgica tal como ela se desenvolveu até a década de 1950. Maxima Redemptionis trazia uma nota de reprovação do que havia sido aprovado e mantido como prática Católica por séculos, com a implicação mal velada de que na maior parte de sua história a Igreja conduziu seu culto de maneira errada.

Nele se acusava de que a Vigília Pascal havia perdido a clareza original e o sentido de suas palavras e símbolos ao ser “arrancada” de seu “próprio” ambiente noturno e não estar mais de acordo com os relatos Evangélicos. Segundo os reformadores, até se tornou “prejudicial” ao significado simbólico da Vigília. (9) Qualquer um pensaria que eles estavam se referindo a uma iniquidade monstruosa que deve ser removida da Igreja.

Em outras palavras, a Santa Sé (ecoando os reformadores) estava afirmando que as orações públicas da Igreja celebradas continuamente por muitos séculos, santificadas pelo longo uso e codificadas pelo Concílio de Trento eram teologicamente defeituosas e liturgicamente “impróprias.”

É concebível que a maneira tradicional de celebrar a Vigília Pascal durante o dia tenha sido um erro desastroso e que a Igreja teve de esperar 14 séculos para que Bugnini e seus capangas corrigissem o assunto?

Claro que não, e no próximo capítulo examinaremos as razões espúrias para as mudanças da Vigília Pascal, publicadas nos Decretos de 1951 e 1955.


Continua

  1. ““Por isso, exortamo-vos, Veneráveis Irmãos, que cada um na sua diocese ou jurisdição eclesiástica supervisione e regule a forma e o método de participação do povo na liturgia, de acordo com as rubricas do Missal e de acordo com as injunções que a Sagrada Publicação da Congregação de Ritos e do Código de Direito Canônico.… É também Nosso desejo que em cada diocese seja estabelecida uma comissão consultiva para promover o apostolado litúrgico.” (Mediator Dei, n. 109)
  2. Os membros da Comissão em 1948 eram: Card. Clemente Micara, Pró-Prefeito da Sagrada Congregação dos Ritos (Presidente); Pe. Annibale Bugnini CM (Secretário); Mons. Alfonso Carinci, Secretário da Congregação dos Ritos; Pe. Agostino Bea SJ; Pe. Ferdinando Antonelli OFM; Pe. Joseph Löw CSSR; Dom Anselmo Albareda OSB, Prefeito da Biblioteca do Vaticano.
  3. A. Bugnini, A Simplificação das Rubricas: Espírito e Consequências Práticas do Decreto da Sagrada Congregação dos Ritos de 23 de março de 1955, com um Prefácio de Ferdinando Antonelli, Collegeville, MN: Doyle & Finegan, 1955.
  4. Cf. Nicola Giampietro, O Desenvolvimento da Reforma Litúrgica: Como Visto pelo Cardeal Ferdinando Antonelli de 1948-1970, Fort Collins CO: Roman Catholic Books, 2009, p. 69. Giampietro colheu suas informações da pesquisa nos escritos pessoais de Antonelli, bem como do material de arquivo das atas das Comissões nas quais o Cardeal havia servido.
  5. Ibid., p. 192. Isso não significa que o Card. Antonelli queria preservar intacta a tradição litúrgica da Igreja. Foi Secretário da Comissão Litúrgica do Concílio Vaticano II, membro do Concilium pós-conciliar e se tornou Secretário da Sagrada Congregação para os Ritos em 1965.
  6. De solemni vigilia paschali instauranda, Acta Apostolicae Sedis, 1951, pp. 128-37. Não existe tradução para o Inglês.
  7. Maxima Redemptionis, Acta Apostolicae Sedis, 1955, pp. 838-847.
  8. Mediator Dei, 1947 n. 61.
  9. Maxima Redemptionis: “profecto non sine detrimento liturgici sensus, nec sine confusione inter evangélicas narrationes et ad eas pertinentes liturgicas repraesentationes. Solemnis praesertim paschalis vigiliae liturgia, a propria nocturna sede avulsa, nativam perspicuitatem ac verborum et symbolorum sensum amisit.” (certamente não sem prejuízo do significado litúrgico, criando confusão entre os relatos dos Evangelhos e cerimônias litúrgicas relacionadas. Principalmente a liturgia solene da Vigília Pascal, arrancada de seu tempo noturno apropriado, perdeu sua clareza inata, bem como o significado das palavras e símbolos) A expressão avulsa (“arrebatado”) é ofensiva e injustificada, pois tem uma conotação particularmente violenta em Latim, descritiva de roubo, rapto etc.

“Dada a atualidade do tema deste artigo (19 de janeiro de 2015), TIA do Brasil resolveu republicá-lo - mesmo se alguns dados são antigos - para benefício de nossos leitores.”


Postado em 1 de setembro de 2021

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