Questões Tradicionalistas
Missa de Diálogo - XXIV
Terremotos e Rachaduras no
Discurso de Pio XII em Assis
Quando Pio XII se dirigiu aos participantes do Congresso de Assis em 1956 (aqui e aqui), ele fez mais do que lhes contar uma história agradável de progresso. A analogia com os sinais precursores de um terremoto iminente é adequada.
Seu discurso continha propostas que, quando postas em prática, iriam produzir mudanças sísmicas de proporções literalmente destruidoras na Igreja, causando o colapso dos bastiões da Tradição. No entanto, Pio XII não parecia perceber que o solo já estava se movendo sob ele ou que os tremores sob a crosta eclesiástica logo levariam ao “grande” (Vaticano II) cujo epicentro era em Roma.
Trataremos de cada um dos pontos de Pio XII sucessivamente, começando com sua surpreendente declaração de que:
“A liturgia atual se interessa também por uma série de problemas particulares relativos, por exemplo, à relação da liturgia com as ideias religiosas do mundo hoje, cultura contemporânea, questões sociais e psicologia profunda.” (1)
Independentemente de ter sido ou não previsto por Pio XII, a preocupação com outras religiões e ideias “psicossociais” na liturgia estava fadada a dar origem não só ao pluralismo religioso, mas também à secularização da Fé e da Moral Católica.
Ascensão da 'teologia litúrgica'
Ao dar luz verde ao ecumenismo, (2) a inculturação, a aceitação de fatores sociais e políticos, bem como a experimentação com a psicologia profunda na liturgia, Pio XII iniciou uma mudança tectônica na prática litúrgica. Foi um afastamento da ideia de liturgia como a expressão das verdades objetivas da Fé em favor de uma nova visão de mundo que apela às dimensões subjetivas da mente humana.
Em outras palavras, a teologia tradicional baseada na Revelação estava começando a ceder lugar a uma “teologia litúrgica” baseada nos modelos existenciais da pessoa humana como critério válido para a ortopraxe. A partir daí, foi apenas um pequeno passo para a liturgia como Culto do Homem e a descatolicização da Igreja através do santuário.
Como a história subsequente mostrou, uma liturgia moldada e influenciada pelas demandas de religiões estranhas (como aconteceria com a Missa Novus Ordo perderia sua identidade Católica como a expressão da única Fé verdadeira. E uma liturgia em que sentimentos, emoções e uma atitude de não julgamento da moralidade são enfatizados levaria à “abertura ao mundo” (como a Gaudium et Spes do Vaticano II mais tarde exigiu), preparando o cenário para a dissolução moral da sociedade.
O que a psicologia profunda tem a ver com a liturgia Católica?
A psicologia profunda, que pretendia ser um meio terapêutico de lidar com os problemas da mente humana, originou-se das teorias psicanalíticas de Sigmund Freud e Carl Jung - o primeiro um Judeu ateu, o último um fundador de uma religião esotérica e profundamente anticristã.
Em meados dos anos 1950, quando Pio XII deu sua bênção à psicologia profunda em seu discurso de Assis, um movimento para misturar as teorias Freudianas e Junguianas com a prática pastoral Católica estava no auge entre muitos padres e leigos na Igreja. (3) Um desses projetos felizmente falhou alguns anos antes com a tentativa abortada do padre Dominicano Victor White para integrar as teorias de Jung com a filosofia tomista. (4) Ele falhou porque ele tentou amalgamar duas posições contraditórias.
A 'psicologização' da liturgia
Vale a pena considerar que a aplicação prática da psicologia profunda à liturgia estava logicamente condenada desde o início, porque essas teorias psicológicas modernas ofereciam alternativas rivais à psicologia de base Cristã que existia desde o tempo das Escrituras, os Padres do Deserto, os Doutores da Igreja, dos Santos e dos Filósofos Escolásticos.
Pio XII não poderia ter integrado com sucesso a psicologia profunda na liturgia pelas seguintes razões:
Vamos agora considerar alguns dos resultados da confiança na “perícia” de psicólogos na busca do Movimento Litúrgico para adaptar a liturgia à mentalidade do homem moderno e fornecer uma sensação de bem-estar psicológico para os participantes.
A primeira vítima da “psicologização” da liturgia é a reverência a Deus. Como a psicologia profunda - mesmo nas mãos de praticantes Católicos - induz as pessoas a se voltarem para si mesmas e buscarem a “autodescoberta,” segue-se que apenas uma liturgia centrada nas pessoas seria considerada um meio adequado de adoração. Daí a virtual ausência na liturgia moderna de sinais exteriores de reverência na presença de Deus, como ajoelhar-se, genuflexão, silêncio, modéstia no vestir e no comportamento, etc.
Como uma sociedade hedonista não pode tolerar condenações dos pecados da carne, referências a ascetismo ou auto-mortificação, ou lembretes do Inferno, estes também tiveram que ser extirpados da liturgia porque foram considerados incompatíveis com a psicologia do homem moderno. Pela mesma razão, qualquer coisa muito ornamentada ou que cheirasse a "medievalismo" foram sumariamente rejeitadas. (6)
O mundo invade a Igreja
O discurso de Assis pode ser considerado um convite e incentivo para importar elementos do mundo para a liturgia. Mas onde quer que a psicologia humanística substitua o discernimento espiritual (a “psicologia dos santos,”) o resultado foi desastroso para as vocações religiosas e produziu uma situação da qual a Igreja ainda não se recuperou.
Isso causou estragos nas Ordens Religiosas Católicas nos Estados Unidos na década de 1960 porque encorajou a autonomia individual e promoveu o questionamento de toda autoridade, desafiando assim as hierarquias institucionais e seu poder de comandar a obediência em questões de Fé e Moral.
Todas as ordens religiosas e seminários que foram “arquitetados psicologicamente” sofreram um êxodo em massa de freiras e padres que buscavam a “libertação” de seus votos. Eles cavaram fundo em suas próprias psiques e emergiram de sua introspecção com conclusões previsíveis: eles não queriam mais ser limitados por “regras” que os impediam de liberar sua libido.
Isso aconteceu em primeiro lugar com os Jesuítas e, depois, com as Irmãs do Imaculado Coração de Maria na Califórnia, seguidas pelos Franciscanos, os Irmãos Cristãos e muitas outras Ordens de homens e mulheres em todo o mundo. (7)
Psicologia profunda: projetado para modificar o comportamento e alterar a crença
Liturgistas têm explorado a psicologia profunda na liturgia por décadas em uma escala massiva. Por meio da psicologia, eles pensaram que poderiam reprogramar indivíduos influenciando suas mentes subconscientes, coagindo-os furtivamente a aceitar o que queriam que aceitassem, mudar a Igreja e controlar o futuro da liturgia. Para piorar a situação, aqueles que se recusaram a ser coagidos e aderiram à liturgia tradicional foram psicanalisados como portadores de uma nova forma de transtorno mental.
Com sua recomendação para a psicologia profunda, Pio XII mudou as placas tectônicas da tradição litúrgica da Igreja. Pode parecer para algumas pessoas uma ação bastante inconsequente, mas como acontece com as mudanças tectônicas na ordem geológica, leva apenas um movimento de alguns metros para nivelar cidades inteiras.
Continua
“Dada a atualidade do tema deste artigo (25 de setembro de 2015), TIA do Brasil resolveu republicá-lo - mesmo se alguns dados são antigos - para benefício de nossos leitores.”
Postado em 9 de fevereiro de 2022
Iniciando um culto ao homem na Igreja Católica
Trataremos de cada um dos pontos de Pio XII sucessivamente, começando com sua surpreendente declaração de que:
“A liturgia atual se interessa também por uma série de problemas particulares relativos, por exemplo, à relação da liturgia com as ideias religiosas do mundo hoje, cultura contemporânea, questões sociais e psicologia profunda.” (1)
Independentemente de ter sido ou não previsto por Pio XII, a preocupação com outras religiões e ideias “psicossociais” na liturgia estava fadada a dar origem não só ao pluralismo religioso, mas também à secularização da Fé e da Moral Católica.
Ascensão da 'teologia litúrgica'
Em outras palavras, a teologia tradicional baseada na Revelação estava começando a ceder lugar a uma “teologia litúrgica” baseada nos modelos existenciais da pessoa humana como critério válido para a ortopraxe. A partir daí, foi apenas um pequeno passo para a liturgia como Culto do Homem e a descatolicização da Igreja através do santuário.
Como a história subsequente mostrou, uma liturgia moldada e influenciada pelas demandas de religiões estranhas (como aconteceria com a Missa Novus Ordo perderia sua identidade Católica como a expressão da única Fé verdadeira. E uma liturgia em que sentimentos, emoções e uma atitude de não julgamento da moralidade são enfatizados levaria à “abertura ao mundo” (como a Gaudium et Spes do Vaticano II mais tarde exigiu), preparando o cenário para a dissolução moral da sociedade.
O que a psicologia profunda tem a ver com a liturgia Católica?
A psicologia profunda, que pretendia ser um meio terapêutico de lidar com os problemas da mente humana, originou-se das teorias psicanalíticas de Sigmund Freud e Carl Jung - o primeiro um Judeu ateu, o último um fundador de uma religião esotérica e profundamente anticristã.
Em meados dos anos 1950, quando Pio XII deu sua bênção à psicologia profunda em seu discurso de Assis, um movimento para misturar as teorias Freudianas e Junguianas com a prática pastoral Católica estava no auge entre muitos padres e leigos na Igreja. (3) Um desses projetos felizmente falhou alguns anos antes com a tentativa abortada do padre Dominicano Victor White para integrar as teorias de Jung com a filosofia tomista. (4) Ele falhou porque ele tentou amalgamar duas posições contraditórias.
A 'psicologização' da liturgia
Vale a pena considerar que a aplicação prática da psicologia profunda à liturgia estava logicamente condenada desde o início, porque essas teorias psicológicas modernas ofereciam alternativas rivais à psicologia de base Cristã que existia desde o tempo das Escrituras, os Padres do Deserto, os Doutores da Igreja, dos Santos e dos Filósofos Escolásticos.
Pio XII não poderia ter integrado com sucesso a psicologia profunda na liturgia pelas seguintes razões:
- Foi concebida na mente de Carl Jung como uma “religião do eu” para dar rédea solta à libido e libertar a psique humana das restrições de uma Igreja “sujeita a regras,” especialmente na área da moralidade sexual;
- As ideias de Jung sobre religião foram extraídas de fontes gnósticas, ocultismo, misticismo Oriental, antigos cultos pagãos das deusas da terra, erotismo, alquimia medieval e várias filosofias da “Nova Era;”
- Jung considerava a Missa simplesmente uma invenção da psique humana e atribuiu seu poder transformador a um sonho vivido por um alquimista gnóstico do século III, Zósimo de Panópolis; (5)
- Jung rejeitou a ideia de um Deus transcendente e ensinou as pessoas a rejeitar toda autoridade externa e buscar o "deus interno;”
- A psicologia profunda reduziu as faculdades intelectuais ao nível da sensação, elevou os sentimentos e emoções como a fonte de toda a verdade e conduziu inevitavelmente ao Movimento Pentecostal e às liturgias carismáticas;
- Desnecessário dizer que não haveria lugar para a Missa Romana tradicional com sua ênfase nas rubricas e na verdade objetiva.
Uma Missa carismática na Universidade Steubenville
Vamos agora considerar alguns dos resultados da confiança na “perícia” de psicólogos na busca do Movimento Litúrgico para adaptar a liturgia à mentalidade do homem moderno e fornecer uma sensação de bem-estar psicológico para os participantes.
A primeira vítima da “psicologização” da liturgia é a reverência a Deus. Como a psicologia profunda - mesmo nas mãos de praticantes Católicos - induz as pessoas a se voltarem para si mesmas e buscarem a “autodescoberta,” segue-se que apenas uma liturgia centrada nas pessoas seria considerada um meio adequado de adoração. Daí a virtual ausência na liturgia moderna de sinais exteriores de reverência na presença de Deus, como ajoelhar-se, genuflexão, silêncio, modéstia no vestir e no comportamento, etc.
Como uma sociedade hedonista não pode tolerar condenações dos pecados da carne, referências a ascetismo ou auto-mortificação, ou lembretes do Inferno, estes também tiveram que ser extirpados da liturgia porque foram considerados incompatíveis com a psicologia do homem moderno. Pela mesma razão, qualquer coisa muito ornamentada ou que cheirasse a "medievalismo" foram sumariamente rejeitadas. (6)
O mundo invade a Igreja
As freiras modificam seus hábitos para se adaptarem ao mundo; abaixo, uma sessão de Eneagrama em um retiro das Irmãs Vicentinas
Isso causou estragos nas Ordens Religiosas Católicas nos Estados Unidos na década de 1960 porque encorajou a autonomia individual e promoveu o questionamento de toda autoridade, desafiando assim as hierarquias institucionais e seu poder de comandar a obediência em questões de Fé e Moral.
Todas as ordens religiosas e seminários que foram “arquitetados psicologicamente” sofreram um êxodo em massa de freiras e padres que buscavam a “libertação” de seus votos. Eles cavaram fundo em suas próprias psiques e emergiram de sua introspecção com conclusões previsíveis: eles não queriam mais ser limitados por “regras” que os impediam de liberar sua libido.
Isso aconteceu em primeiro lugar com os Jesuítas e, depois, com as Irmãs do Imaculado Coração de Maria na Califórnia, seguidas pelos Franciscanos, os Irmãos Cristãos e muitas outras Ordens de homens e mulheres em todo o mundo. (7)
Psicologia profunda: projetado para modificar o comportamento e alterar a crença
Liturgistas têm explorado a psicologia profunda na liturgia por décadas em uma escala massiva. Por meio da psicologia, eles pensaram que poderiam reprogramar indivíduos influenciando suas mentes subconscientes, coagindo-os furtivamente a aceitar o que queriam que aceitassem, mudar a Igreja e controlar o futuro da liturgia. Para piorar a situação, aqueles que se recusaram a ser coagidos e aderiram à liturgia tradicional foram psicanalisados como portadores de uma nova forma de transtorno mental.
Com sua recomendação para a psicologia profunda, Pio XII mudou as placas tectônicas da tradição litúrgica da Igreja. Pode parecer para algumas pessoas uma ação bastante inconsequente, mas como acontece com as mudanças tectônicas na ordem geológica, leva apenas um movimento de alguns metros para nivelar cidades inteiras.
Continua
- Cardeal Avery Dulles elogiou a superioridade de "tudo o que foi aprendido da psicologia profunda sobre o inconsciente, da sociologia sobre ideologias... da religião comparada sobre a fé de outras pessoas e da análise linguística sobre os perigos do discurso metafísico.” Ver A. Dulles, Preface to A History of Apologetics, Londres, Hutchinson, 1971, p. xviii.
- Foi Dom Lambert Beauduin quem primeiro deu ao Movimento Litúrgico um objetivo ecumênico. Ele fundou o Mosteiro de Chevetogne em 1925 para a unidade com as Igrejas “Ortodoxas” e propôs uma teoria para a Igreja Anglicana ser “unida, mas não absorvida” na Igreja Católica.
- Foi o Card. Mercier de Malines, Bélgica, um professor de filosofia na Universidade de Louvain no final do século 19, que primeiro propôs uma síntese entre a psicologia humanística e a Filosofia Tomista. Ele promoveu fortemente a psicologia humanística como uma “ciência” independente e trabalhou para que ela fosse aceita nos programas dos institutos Católicos de educação superior.
- Padre White era um colaborador próximo de Carl Jung e, juntos, planejaram integrar as teorias psicanalíticas de Jung à doutrina Católica e à prática pastoral. O fracasso de seu projeto não diminuiu em nada o entusiasmo dos devotos Católicos das teorias de Jung e resultou em uma enxurrada de espiritualidade da “Nova Era” Junguiana em todos os níveis. Isso pode ser visto na popularidade do Eneagrama, yoga, meditação transcendental, wicca, espiritualismo, druidismo, grupos de encontro, treinamento de sensibilidade, etc.
- Carl Gustav Jung, 'Transformation Symbolism in the Mass' (Collected Works, vol. 11, Psychology and Religion: West and East, Nova York: Pantheon, 1958, (publicado pela primeira vez em 1940), pp. 201-298)
- O Arcebispo Piero Marini, Mestre de Cerimônias Papal, fez isso com uma franqueza brutal: “Em vista da psicologia dos homens e mulheres modernos, para os quais a mistura de etiqueta da corte e ritos religiosos é quase incompreensível, foi decidido que o tipo de a vida na corte que até então cercava o Papa durante as celebrações litúrgicas deve ser abolida.” (Liturgia e Beleza: experiências de renovação em certas Celebrações Litúrgicas Papais) [grifo nosso]
- Liturgia e Beleza, documentos on-line do Vaticano
- Dois psicólogos, Carl Rogers e seu associado, William Coulson, um Católico que mais tarde se arrependeria de sua participação no caso, criou um programa de terapia de grupo na década de 1960 para as freiras do Imaculado Coração de Maria e seus estabelecimentos de ensino. Coulson admitiu que havia provocado uma crise de má conduta sexual entre as irmãs IHM que destruiu sua Ordem. Ver William Coulson, 'Nós superamos suas tradições, superamos sua fé,' entrevista em The Latin Mass: Chronicles of a Catholic Reform, janeiro-fevereiro de 1994.
“Dada a atualidade do tema deste artigo (25 de setembro de 2015), TIA do Brasil resolveu republicá-lo - mesmo se alguns dados são antigos - para benefício de nossos leitores.”
Postado em 9 de fevereiro de 2022
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