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Missa de Diálogo - XXVI

Negando o Caráter Sacrificial da Missa

Dra. Carol Byrne, Grã-Bretanha
A história da Missa de Jungmann levanta questões na mente do leitor inquiridor: por que ele deveria ter gasto uma década de pesquisa diligente e meticulosa para produzir uma obra que depreciou a fé e a prática de praticamente toda a história da liturgia da Igreja? O que Jungmann estava tentando alcançar?

Sua preocupação era acumular “evidências” para mostrar que, logo após os primeiros anos do Cristianismo, a liturgia da Igreja havia se tornado “doutrinariamente corrompida” em sua teologia da Missa e do sacerdócio. Sua magnum opus foi um empreendimento de grandes proporções. Era como se ele tivesse decidido enterrar o Rito Romano sob uma complexa teia de falsidades e estivesse construindo um elaborado monumento funerário ou vasto palácio mortuário para comemorar sua passagem.

Mas, é claro, ele não teve sucesso, não mais do que os protestantes da Pseudo-Reforma que embarcaram na mesma busca. Pois a Missa tradicional tem confirmado infalivelmente ao longo dos tempos a Fé dos Apóstolos no verdadeiro significado do Santo Sacrifício, a Presença Real e seu próprio sacerdócio.

Uma frente para o neo-modernismo

Onde Jungmann conseguiu, no entanto, obter sucesso em influenciar os líderes da Igreja e formuladores de políticas a aceitar suas ideias progressistas ou neo-modernistas.

Mass

Pe. Josef Jungmann, o 'homem da hora' na Reforma Litúrgica

Mass
Seu trabalho é um exemplo proeminente de como o poder da falsa racionalização impulsionou o Movimento Litúrgico: Como veremos a seguir, ele forneceu teorias sobre como as doutrinas tradicionais deviam ser entendidas em uma perspectiva ecumênica, ou seja, de uma maneira aceitável para aqueles de fora da Igreja Católica e longe da verdadeira Fé.

Na verdade, o pensamento teológico de Jungmann revelou-se notavelmente semelhante ao dos protestantes do século 16, nada menos do que uma rejeição da doutrina da Missa como a Igreja Católica sempre a entendeu.

A posição privilegiada de Jungmann como consultor da Comissão Litúrgica de Pio XII garantiu a adoção de algumas de suas ideias para as reformas da Semana Santa de 1955. É da maior importância que o resto encontrasse uma pronta aceitação na Constituição da Liturgia do Vaticano II (ele era um membro da Comissão Preparatória) e na Missa Novus Ordo (ele era um membro do Consilium de Bugnini).

Assim fica revelado o vínculo direto entre o Modernismo condenado pelo Papa Pio X e o fatídico Artigo 7 da Instrução Geral do Novus Ordo de 1969, (1) que definia a Missa no sentido protestante, como “a Ceia do Senhor” e a reunião do Povo de Deus.

Ataque à Missa de dentro da Igreja

Os antecedentes teóricos para o Artigo 7 remontam aos primeiros anos do século 20 à publicação de um livro, Mysterium Fidei, (2) que foi extremamente influente no Movimento Litúrgico. Seu autor, Pe. Maurice de la Taille, SJ, propôs, ao contrário do ensino dos Padres da Igreja, (3) São Tomás de Aquino (4) e o Concílio de Trento, (5) que a Missa não contém nenhuma realidade de imolação.

Mysterium Fidei

À frente de seu tempo, de la Taille estabeleceu a estrutura para o Novus Ordo Missae

Podemos agora ver como essa teoria, apresentada em 1921, teve consequências potencialmente devastadoras para a Igreja. Pois sem a imolação mística do Cordeiro sacrificial no altar, não haveria necessidade de um sacerdote sacrificial. A Missa seria reduzida a uma simples oblação, uma oferta de louvor e ação de graças por parte da comunidade. Os primeiros agentes da Eucaristia seriam, portanto, o Povo de Deus que, pelo Baptismo, oferece a Missa por intermédio do seu representante, o sacerdote. (6)

Este modelo corporativo foi denominado por de la Taille o “sacrifício da Igreja” para substituir o sacrifício de Cristo realizado exclusivamente pelo ministro ordenado. (7) Tornou-se a perspectiva dominante do Movimento Litúrgico e foi promovido pelas figuras-chave da nouvelle théologie.

Crucialmente, foi visto como um grande avanço ecumênico porque removeu a objeção protestante à Missa como o meio de aplicar os méritos da Cruz às almas por meio da imolação mística de Cristo no altar. Foi por essa razão que o teólogo anglicano, Dr. Eric Mascall, astutamente observou que a teoria de de la Taille “gerou uma controvérsia tão violenta em sua própria comunhão e tanta admiração na nossa.” (8)

Alguém se pergunta como um título que soa Católico como Mysterium Fidei foi usado para um livro tão agradável aos protestantes. Mas, então, essa é a ação modernista no negócio.

Lambert Beauduin

Dom Lambert Beauduin

Lambert Beauduin foi um dos primeiros a declarar a tese de de la Taille um importante desenvolvimento teológico (9) (veja aqui) e a descreveu como um alívio bem-vindo de uma “obsessão onipresente” pela imolação. (10)

Karl Rahner considerou o trabalho de de la Taille tanto estimulante quanto iluminador. (11) Em sua opinião, Mysterium Fidei “deveria ter sido lido por todos os teólogos no campo da teologia nova e ativamente pesquisadora.” (12)

Henri de Lubac exultou em 1967, na véspera do lançamento da Missa Novus Ordo que a teologia litúrgica de de la Taille havia ganhado ascendência: “A imensa oposição que ele suscitou no Mysterium Fidei agora é apenas uma memória e a essência do que ele ensinou agora é comumente aceita.” (13)

Aceito por quem? Os termos de referência de De Lubac eram limitados ao estreito consenso de especialistas litúrgicos, mas a ampla faixa de Católicos fiéis continuava acreditando na Missa como um Monte Calvário místico, não uma “Ceia do Senhor” protestante como o Artigo 7 indicaria.

A teologia sacramental de Joseph Jungmann emprestou pesadamente de de la Taille das seguintes maneiras:

A teoria da 'não imolação'

Apesar do ensino de Pio XII (14) de que a Missa é a re-apresentação do Calvário e, portanto, contém uma imolação, Jungmann insistiu: “Esta reapresentação é de fato algum tipo de oferta (oferenda), mas não é propriamente uma oferta de sacrifício (sacrificari), uma imolação.” (15)

sacrifice

Jungmann rejeitou a noção central da Missa como uma renovação do sacrifício de Cristo no Calvário

Em outras palavras, ele estava dizendo que o sacrifício da Missa não é a mesma realidade que o sacrifício da Cruz e que a imolação mística que ocorre nele não é real e atual. Mas aqui está o veneno progressista: se a Igreja entrega sua autoridade infalível a uma doutrina que não tem base na realidade objetiva, então, como podemos acreditar que tudo o que ela ensina é verdade?

Como Jungmann procurou justificar seu afastamento do que o Concílio de Trento havia estabelecido como ensino de fide sobre a Missa? Ele alegou que a Igreja nunca se preocupou com uma distinção entre uma oblação e uma imolação (16) até que “a pressão da controvérsia” gerada pela Pseudo-Reforma forçou a Igreja a apresentar uma teoria da imolação. (17)

Jungmann afirmou: “Pensar na Missa quase exclusivamente como um sacrifício é uma atitude unilateral resultante das controvérsias doutrinárias do século 16.” (18) Aqui se injeta o veneno progressista: seus leitores levam para casa a mensagem de que a Missa, como verdadeiro sacrifício, não era de origem Apostólica.

O 'sacrifício da Igreja' (19)

Jungmann propôs sua própria (ou melhor, a de la Taille) doutrina da Missa:

“Mas quando os interesses apologéticos retrocederam e a questão se levantou mais uma vez sobre qual é o significado e o propósito da Missa na organização da vida eclesiástica, foi precisamente este ponto, o sacrifício da Igreja, que veio à tona. ... Não há nada mais claro do que o pensamento de que na Missa a Igreja, o povo de Cristo, a congregação aqui reunida, oferece o sacrifício ao Deus Todo-Poderoso.” (20)

Mas o uso da palavra “sacrifício” foi deliberadamente confundido para ocultar o que ele realmente queria dizer: uma oferta de louvor e ação de graças pela comunidade. (21)

Continua

  1. “A Ceia do Senhor, ou Missa, é a reunião sagrada ou congregação do povo de Deus reunido, o sacerdote que preside, para celebrar o memorial do Senhor.”
  2. M. de la Taille, Mysterium Fidei, Paris, G. Beauchesne, 1921.
  3. Santo Agostinho, por exemplo, ensinava que na Missa ocorre uma verdadeira imolação: “Não foi Cristo imolado apenas uma vez na sua própria pessoa? No sacramento, no entanto, Ele é imolado pelo povo não só em cada solenidade pascal, mas em todos os dias; e um homem não estaria mentindo se, quando questionado, respondesse que Cristo está sendo imolado” (Cartas 98:9).
  4. Com referência à Eucaristia, S. Tomás de Aquino afirma: “É próprio a este Sacramento que Cristo seja imolado na sua celebração,” pois o Antigo Testamento contém apenas figuras do Seu Sacrifício (Summa, III, 83, 1).
  5. A sessão 22 do Concílio de Trento, capítulo 2, afirmou: “Neste Sacrifício Divino, que é celebrado na Missa, aquele mesmo Cristo está contido e imolado de forma incruenta, que uma vez se ofereceu de forma sangrenta no altar da Cruz.”
  6. Pe. De la Taille afirmou: “Os autores do sacrifício, de forma que lhes é própria e pessoal, são os fiéis cujos dons são pelas mãos do sacerdote dirigidas a Deus sob a forma do Corpo e Sangue de Jesus Cristo”(The Mystery of Faith and Human Opinion, New York: Longmans, Green and Co., 1930, p. 134).
  7. Pe. de la Taille afirmou: “O poder e o ato de sacrificar passam da Cabeça para o corpo” (Mysterium Fidei, vol. 2, p. 193).
  8. E. L. Mascall, Christ, the Christian and the Church (Londres: Longmans, 1946), p. 168 apud Francis Clark, Eucharistic Sacrifice and the Reformation (Londres: Darton, Longman and Todd, 1960), pp. 263-264.
    Entre aqueles que se opuseram a de la Taille estavam proeminentes Pe. Alfred Swaby, “A New Theory of Eucharistic Sacrifice, American Ecclesiastical Review, 69 (1923), pp. 460-47 3; Pe. Vincent McNabb, “Uma Nova Teoria do Sacrifício da Missa,” Irish Ecclesiastical Review 23 (1924), pp. 561-573; e Dom Anscar Vonier, Abade da Abadia de Buckfast, Uma Chave para a Doutrina da Eucaristia (Londres: Burns, Oates & Washbourne, 1925).
  9. L. Beauduin, “Le Saint Sacrifice de la Messe: A propos d'un Livre Récent,” in Les questions liturgiques et paroissiales, vol. VII, 1922, pp. 197-198. He stated: “Le Christ n'a été immolé réellement qu'une seule fois: ce fut dans le sacrifice sanglant de la Passion. Par contre ni la Cène, ni la Messe ne contiennent une Immolation réelle et distincte d'aucune sorte.” (Cristo foi imolado na realidade apenas uma vez: isso foi no sacrifício sangrento da Paixão. No entanto, nem a Ceia nem a Missa contém uma Imolação real e distinta de qualquer tipo.”)
  10. Ibid., p. 202: “La thèse du P. de la Taille est une délivrance et un soulagement.” (A tese do Pe. De la Taille é uma libertação e um alívio.)
  11. Karl Rahner opinou: “O que torna o propriamente histórico em estudos como os de de Lubac ou de la Taille tão estimulante e direto? Certamente é a arte de ler textos de tal forma que eles se tornem não apenas votos a favor ou contra nossas posições atuais (posições assumidas há muito tempo), mas nos digam algo que nós em nosso tempo nem consideramos, ou não o suficiente sobre a própria realidade.” “The Prospects for Dogmatic Theology,” em Theological Investigations, vol. I (Baltimore: Helicon Press, 1961), pp. 9-10.
  12. Karl Rahner, “Latin as a Church language,” in Theological Investigations, vol. V (Londres: Darton, Longman and Todd, 1966), p. 397.
  13. H. de Lubac, O Mistério do Sobrenatural (Herder e Herder, 1967), p. 4.
  14. Pio XII havia dito na Mediator Dei, n. 91: “A imolação incruenta pelas palavras da Consagração, quando Cristo se torna presente sobre o altar na condição de vítima, é realizada pelo sacerdote e somente por ele, como representante de Cristo e não como representante dos fiéis.”
  15. Jungmann, A Missa do Rito Romano, vol. 1, p. 184.
  16. Ibid. Mas São Tomás de Aquino já havia refutado esse ponto na Summa ( q. 85, art. 3) quando disse que “toda imolação é uma oblação, mas não o contrário,” ou seja, nem toda oblação é uma imolação.
  17. Jungmann, A Missa do Rito Romano, vol. 1, p. 184.
  18. Jungmann, Anunciando a Palavra de Deus, trad. do alemão por Ronald Walls (Londres: Burns & Oates, 1967), p. 112.
  19. Jungmann estava ciente de sua dívida para com de la Taille nesse ponto. De fato, afirma Jungmann (cf. A Missa do Rito Romano, vol. 1, p. 182, note 21): “Nos últimos tempos, o sacrifício da Igreja recebeu ênfase teológica de M. de la Taille, Mysterium Fidei (Paris, 1921).”
  20. Ibid., p. 180.
  21. Jungmann acreditava que a Eucaristia "não é principalmente um objeto para nossa adoração, nem ainda para o alimento da alma, mas é, como seu nome indica, um sacrifício de ação de graças, de sacrifício dentro da congregação reunida." Ele também afirmou que esta celebração comunitária é a “função primária e verdadeira” da Missa (Anunciando a Palavra de Deus, p. 110)

“Dada a atualidade do tema deste artigo (2 de dezembro de 2015), TIA do Brasil resolveu republicá-lo - mesmo se alguns dados são antigos - para benefício de nossos leitores.”


Postado em 23 de março de 2022

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