O clã é uma entidade viva. Então, seja qualitativa ou quantitativamente, ela está sempre produzindo mais. Seguindo os desígnios da Providência Divina, um clã saudável produz líderes. Fazendo isso, ele gera sua própria força de propulsão.
Um clã medieval cheio de vitalidade |
Como toda autoridade autêntica, a autoridade de um clã não força uma orientação que ninguém deseja, nem obriga todos a seguir esse caminho. Esta não é uma característica de uma autoridade autêntica. O chefe do clã é aquele que conhece todos os apetites legítimos de seus membros e os satisfaz de maneira ordenada que ajuda a fortalecer as boas tendências. Nesse sentido, o chefe do clã é o propulsor de um verdadeiro progresso, no sentido positivo da palavra. Tal progresso estimula primeiro a santificação e, então, toda perfeição humana. O chefe do clã, portanto, é antes de tudo um apóstolo, assim como o pai e a mãe de uma família simples devem ser apóstolos de seus filhos.
Porém, à medida que um clã perdura ao longo dos tempos, ele pode perder sua propensão para seguir em frente e melhorar, e passar a manter apenas o instinto de preservação, ou seja, pode se tornar estático. A partir desse momento, os líderes se tornam mantenedores do status quo. O clã pode começar a se desintegrar e, eventualmente, levar à morte desse clã.
Para sustentar um clã, é sempre necessário ter pessoas que o melhorem e o façam avançar na sociedade. Nem sempre é o chefe do clã que tem essa vocação. Se não o fizer, ele deve procurar os membros que podem melhorar o clã e dar-lhes orientação e atenção especial.
Distribuindo posições de prestígio
Imagine, por exemplo, uma região do Estado de Goiás que ainda está em processo de formação. Goiás ainda é insuficientemente povoado, mas possui imensos recursos. Suponhamos que naquela região estejam se desenvolvendo organicamente três clãs, cada um com uma origem étnica diferente, como é comum no Brasil. Um é composto por famílias do Oriente Médio: Libaneses, Sírios, Armênios e Judeus. Outro clã é formado por Escandinavos e ainda outro por Portugueses vindos direto de Portugal. Cada um desses clãs forma uma unidade orgânica para proteger seus membros, suas fazendas, seus respectivos produtos e ter uma vida social comum.
O prestígio da Inglaterra desapareceria sem sua Monarquia. Acima, a Rainha Elizabeth abre o Parlamento em 2006
Point de Vue, 22 de novembro de 2006 |
Se o Brasil ainda fosse um Império, qual seria o papel do Imperador em relação àquela região de Goiás? Certamente ele não deve escolher um de seus amigos, conceder-lhe um título de nobreza e, em seguida, entregar-lhe o governo daquela área. Ele definitivamente não deveria fazer isso. A distribuição de cargos de prestígio é um assunto muito delicado no governo de um Estado. O que ele deve fazer é procurar pessoas qualificadas desses clãs para liderar aquela área e, então, gradualmente elevá-los a posições de proeminência. Essa seria a maneira certa de fazer aquela área crescer com união, força e estabilidade.
A arte de distribuir posições de prestígio é um dos atributos mais importantes de uma monarquia sonora. A arte de governar também envolve saber distribuir poder, riqueza e terras, e então organizar essas pessoas e dirigi-las para o bem comum do país. Mas conceder prestígio é importante porque ajuda a orquestrar a unidade do país.
O prestígio é uma coisa imponderável, que um tolo pode dizer que não tem valor. Eu penso diferente Considere se a monarquia Inglesa fosse abolida amanhã e a Inglaterra apareceria como qualquer outro país republicano de nossos dias. Perderia muito em sua representação. Essa perda é chamada de prestígio, prestígio monárquico. Acredito que se a monarquia desaparecesse, a Inglaterra não só apareceria nua, por assim dizer, mas talvez pudesse perder sua própria identidade.
Acredito que só um tolo negaria a importância do prestígio na sociedade, e a importância estratégica de poder distribuir ou coordenar as posições de prestígio.
A morte do clã
Como um clã pode morrer?
A cidade colonial de Ouro Preto no Brasil destila seu charme histórico pelo país |
Independentemente de fatores mórbidos, um clã pode envelhecer. Perecer é um mal, mas é um mal do qual nenhuma coisa terrena pode escapar. Uma regra geral dita que tudo, por mais necessário, saudável e excelente que seja, não durará além de um certo tempo. Os clãs não podem escapar desta regra.
Um clã pode desaparecer, com sua descendência morrendo até que sua memória desapareça. Também pode morrer porque as relações entre seus membros murcharam e secaram. Da cabeça aos pés, a vitalidade do clã tornou-se seca.
Em todos os lugares - tenho certeza também nos Estados Unidos - existem áreas que foram muito prósperas por um certo período, e então essa prosperidade morreu. A fonte de riqueza de um lugar passou para outro. Algumas cidades, por exemplo, se desenvolveram durante a corrida do ouro. Após um período de exploração geral, as fontes morreram e os garimpeiros se mudaram para outros lugares. Então a busca pelo ouro pode ser substituída, digamos, pelo plantio de milho, que gera muito menos movimento para a economia da cidade. Assim, a área entra em decadência, mesmo quando não morre.
Uma decadência doentia: a cidade fantasma de Jerome, Arizona |
Na História há coisas que desbotam de forma saudável, preservando ao longo dos séculos os perfumes do passado. Eles pertencem ao passado cultural de um país. Eles existem e é bom que o façam.
Por exemplo, no Brasil existem muitas cidades históricas antigas que não produzem mais nada de novo. A vida deles os deixou, por assim dizer, mas eles permanecem lá, mandando sua mensagem sobre o passado e espalhando seu perfume. Seria uma perda evidente se em uma dessas cidades charmosas se descobrisse petróleo e a cidade voltasse a experimentar o progresso.
As mulheres costumam colocar pequenos sacos de ervas secas chamados sachês em seus armários para perfumar suas roupas. Essas cidades são como sachês na história de seus países; eles estão secos e mortos, mas ainda espalham seu aroma para tornar as outras cidades e regiões do país perfumadas e agradáveis de se viver.
Existe, então, um tipo de decadência que corresponde à ordem natural e ajuda a preservar o que está vivendo. Também auxilia no crescimento da virtude. Por outro lado, existe uma forma prejudicial à saúde de perecer que não é orgânica e produz putrefação.
Normalmente, o clã desaparece organicamente.
Postado em 19 de outubro de 2020
| Prof. Plinio |
Sociedade Orgânica foi um tema caro ao falecido Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. Ele abordou este tema em inúmeras ocasiões durante a sua vida - às vezes em palestras para a formação de seus discípulos, às vezes em reuniões com amigos que se reuniram para estudar os aspectos sociais e história da cristandade, às vezes apenas de passagem.
Atila S. Guimarães selecionou trechos dessas palestras e conversas a partir das transcrições das fitas e de suas anotações pessoais. Ele traduziu e adaptou-os em artigos para o site da TIA. Nestes textos, a fidelidade às idéias e palavras originais é mantida o máximo possível.
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