Sociedade Orgânica
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O povo e as massas
Você pode encontrar uma magnífica enumeração das diferenças entre um Estado orgânico e um Estado inorgânico num texto de Pio XII sobre o que é um povo e uma massa. Na mensagem ele ensina que existem sociedades humanas formadas de tal forma que todo o poder está concentrado no detentor supremo do poder do Estado. Nesta sociedade ninguém toma iniciativas, ninguém tem vontade, todos são abúlicos, apáticos. (Radiomensagem, 24 de dezembro de 1944) (1)
Abulia ou apatia é um tipo de doença mental onde a pessoa não tem vontade de fazer nada, não se preocupa com nada – o Rei Luís XVI pertencia a esta escola. Quando o indivíduo é abúlico, todo o conjunto do seu organismo não funciona bem porque a vontade não conduz o corpo. Às vezes isso pode até causar a morte. Se aplicarmos isto a um Estado socialista omnipresente, temos todo um povo que se torna apático; temos o que Pio XII chama de “as massas.”
Pelo contrário, quando o poder é distribuído organicamente, todas as partes do corpo social são estimuladas a agir e o organismo cresce. Isto é o que ele chama de “o povo.” Nestas relações orgânicas o princípio da subsidiariedade é aplicado de forma brilhante.
O indivíduo habitualmente age sem pedir ajuda ao Estado ou ao Município. Ele faz o que pode sozinho, mesmo quando é muito difícil. Só depois de tentar todos os meios possíveis para realizar determinada tarefa necessária à sua subsistência e ainda assim não conseguir é que pede a ajuda do Município.
No Município ocorre algo análogo a esta relação indivíduo/município em relação ao Estado. Uma aldeia, vila ou cidade deve fazer por si mesma tudo o que for possível para o seu bem, sem pedir a ajuda do Estado. Então, se algo necessário para a sua subsistência se tornar impossível de ter por si só, pelo princípio da subsidiariedade tem o direito de pedir a intervenção do Estado, e o Estado tem a obrigação de vir em seu auxílio.
Este é o princípio da subsidiariedade, que estabelece limites ao poder do Estado.
Alguém poderia perguntar: “O Estado em tese tem poder para fazer tudo?”
Teria o poder de fazer tudo caso ninguém pudesse fazer nada, ou seja, a sociedade estaria morta. Mas quando este dia chegar o Estado já não será necessário, pois ninguém pode governar um cadáver.
Ação do bem sobre o mal
Como pode um grupo bem estabelecido exercer a sua influência para trazer ordem a uma sociedade que não é bem ordenada?
Não tomemos a abordagem de muitos sociólogos que perguntam desde o início: Como podem os bons impor o seu programa bom aos maus?
Respondemos: muitas vezes não é possível impor o bem. Se pudessem impor, deveriam, mas muitas vezes não conseguem.
A solução simplista seria: basta ordenar à Inquisição que suprima um Lutero aqui e ali e a sociedade estará em paz. As coisas não são tão fáceis. Na situação da Igreja da época de Lutero, se ele tivesse sido eliminado, outro Lutero apareceria depois de algum tempo, e toda a sociedade ficaria pior.
Na verdade, se a sociedade tivesse continuado com aquela mentalidade indulgente e otimista de Leão X, a Igreja não teria tido a Contra-Reforma. Somente uma Contra-Reforma poderia ter evitado a Reforma. Contudo, surgiria uma Contra-Reforma antes da Reforma?
Então, vemos que impor nem sempre é a solução.
Condições para que o bem prevaleça
Então, como uma entidade orgânica e saudável cria condições para que o bem prevaleça sobre o mal? Deveria usar a força para conter o mal, se possível. Mas este uso da força nem sempre é suficiente e, por vezes, essa entidade carece de meios para empregar a força.
Então, o que deveria fazer? Deveria dar o exemplo de todos os tipos de bem. Deve dar a noção do que é a verdadeira ordem social. Assim, deve ter um relacionamento amável e eficiente com os indivíduos que são bons, bem como um relacionamento forte e inflexível com os que são maus. Se os maus não se converterem, acabarão no Inferno; além disso, mesmo na Terra, mais cedo ou mais tarde, esse grupo ruim será derrotado. Por outro lado, os maus que receberam dos bons tudo o que podiam dar, podem ser tocados pela graça de Deus e converter-se.
São Pio X tem um texto muito bonito comentando como os povos católicos assumiram a primazia sobre os povos não católicos ao longo da História. Este é o espetáculo dos frutos do bem atraindo o mal. Esta é a política do bem.
Há algo nos caminhos da Divina Providência que às vezes pode nos deixar um pouco perplexos. Considerando a miséria humana, a Providência Divina faz por algumas de Suas instituições o que Sem e Jafé, filhos de Noé, fizeram por seu pai: cobriram Noé que estava bêbado com um pano porque não queriam que outros o vissem naquele estado de degradação.
Às vezes, a Divina Providência coloca um véu sobre os defeitos de algumas instituições, o que faz com que quem está de fora tenha uma visão resplandecente daquela instituição. Os de fora são atraídos por uma visão brilhante que é menos brilhante para os de dentro. Isto não é uma mentira da Providência Divina, mas sim uma forma que Ela usa para fazer com que quem está de fora veja uma realidade ideal que por dentro é menos visível.
Assim, os bons às vezes fazem um bem maior do que a bondade que possuem por causa da assistência da graça. Os bons deveriam ter isso em mente diante de uma realidade que veem que às vezes é Noé sem véu.
Criando um consenso
Agora, quais são as regras da opinião pública que devemos conhecer para que esta ação de bom exemplo, boa pregação, bom ensino e boa controvérsia alcance a sua plena eficácia?
A sociedade humana pode ser considerada como um grande tecido esponjoso onde dentro dos alvéolos formam um labirinto. Se pegarmos uma esponja natural vemos que ela é composta por uma série de labirintos. Se molhássemos aquela esponja com uma seringa em vez de a atirarmos para um balde de água, notaríamos que se injetássemos água em certos buracos, toda a esponja ficaria mais facilmente molhada. Existem também alguns métodos de injeção que facilitam o processo.
A técnica de moldar a opinião pública consiste em analisar o labirinto do pensamento coletivo de uma sociedade e depois firmar-se no que ela tem de bom e atacar o que ela tem de ruim com esse bem. Através desta ação labiríntica, pode-se assim alcançar mais facilmente a vitória do bem.
Se a ação da seringa for bem-sucedida, cria-se um consenso, que aqui é diferente do que o mundo normalmente chama de consenso.
Se chamarmos consenso ao fato de todos sentirem a mesma coisa porque partem de princípios análogos e chegam às mesmas conclusões, este é um consenso saudável, bom e orgânico, na medida em que se relaciona com o bem.
Se o consenso é fruto de órgãos de propaganda que atuam sobre a opinião pública, impedindo-a de forma sub-reptícia de conhecer algumas verdades e desfigurar outras, anestesiando a vontade de agir e de falar para criar um estado de espírito mórbido, então este é um mau consenso.
Pior ainda é um consenso ecumênico. É a ilusão de que podemos chegar a um consenso criando uma adesão insincera de todas as partes a uma posição intermediária. Isto não é um consenso; não obstante, é o que o progressismo considera como consenso. É um amortecimento hipócrita da verdade e do erro para professar uma opinião que no fundo ninguém aceita verdadeiramente.
Postado em 29 de janeiro de 2024
O Rei Luís XVI não teve vontade de parar a
Revolução que lhe tiraria a vida
Pelo contrário, quando o poder é distribuído organicamente, todas as partes do corpo social são estimuladas a agir e o organismo cresce. Isto é o que ele chama de “o povo.” Nestas relações orgânicas o princípio da subsidiariedade é aplicado de forma brilhante.
O indivíduo habitualmente age sem pedir ajuda ao Estado ou ao Município. Ele faz o que pode sozinho, mesmo quando é muito difícil. Só depois de tentar todos os meios possíveis para realizar determinada tarefa necessária à sua subsistência e ainda assim não conseguir é que pede a ajuda do Município.
No Município ocorre algo análogo a esta relação indivíduo/município em relação ao Estado. Uma aldeia, vila ou cidade deve fazer por si mesma tudo o que for possível para o seu bem, sem pedir a ajuda do Estado. Então, se algo necessário para a sua subsistência se tornar impossível de ter por si só, pelo princípio da subsidiariedade tem o direito de pedir a intervenção do Estado, e o Estado tem a obrigação de vir em seu auxílio.
Este é o princípio da subsidiariedade, que estabelece limites ao poder do Estado.
Alguém poderia perguntar: “O Estado em tese tem poder para fazer tudo?”
Teria o poder de fazer tudo caso ninguém pudesse fazer nada, ou seja, a sociedade estaria morta. Mas quando este dia chegar o Estado já não será necessário, pois ninguém pode governar um cadáver.
Ação do bem sobre o mal
Como pode um grupo bem estabelecido exercer a sua influência para trazer ordem a uma sociedade que não é bem ordenada?
Não tomemos a abordagem de muitos sociólogos que perguntam desde o início: Como podem os bons impor o seu programa bom aos maus?
Respondemos: muitas vezes não é possível impor o bem. Se pudessem impor, deveriam, mas muitas vezes não conseguem.
A solução simplista seria: basta ordenar à Inquisição que suprima um Lutero aqui e ali e a sociedade estará em paz. As coisas não são tão fáceis. Na situação da Igreja da época de Lutero, se ele tivesse sido eliminado, outro Lutero apareceria depois de algum tempo, e toda a sociedade ficaria pior.
Na verdade, se a sociedade tivesse continuado com aquela mentalidade indulgente e otimista de Leão X, a Igreja não teria tido a Contra-Reforma. Somente uma Contra-Reforma poderia ter evitado a Reforma. Contudo, surgiria uma Contra-Reforma antes da Reforma?
Então, vemos que impor nem sempre é a solução.
Condições para que o bem prevaleça
Então, como uma entidade orgânica e saudável cria condições para que o bem prevaleça sobre o mal? Deveria usar a força para conter o mal, se possível. Mas este uso da força nem sempre é suficiente e, por vezes, essa entidade carece de meios para empregar a força.
Então, o que deveria fazer? Deveria dar o exemplo de todos os tipos de bem. Deve dar a noção do que é a verdadeira ordem social. Assim, deve ter um relacionamento amável e eficiente com os indivíduos que são bons, bem como um relacionamento forte e inflexível com os que são maus. Se os maus não se converterem, acabarão no Inferno; além disso, mesmo na Terra, mais cedo ou mais tarde, esse grupo ruim será derrotado. Por outro lado, os maus que receberam dos bons tudo o que podiam dar, podem ser tocados pela graça de Deus e converter-se.
São Pio X tem um texto muito bonito comentando como os povos católicos assumiram a primazia sobre os povos não católicos ao longo da História. Este é o espetáculo dos frutos do bem atraindo o mal. Esta é a política do bem.
Os filhos de Noé
escondem respeitosamente a vergonha do pai
Às vezes, a Divina Providência coloca um véu sobre os defeitos de algumas instituições, o que faz com que quem está de fora tenha uma visão resplandecente daquela instituição. Os de fora são atraídos por uma visão brilhante que é menos brilhante para os de dentro. Isto não é uma mentira da Providência Divina, mas sim uma forma que Ela usa para fazer com que quem está de fora veja uma realidade ideal que por dentro é menos visível.
Assim, os bons às vezes fazem um bem maior do que a bondade que possuem por causa da assistência da graça. Os bons deveriam ter isso em mente diante de uma realidade que veem que às vezes é Noé sem véu.
Criando um consenso
Agora, quais são as regras da opinião pública que devemos conhecer para que esta ação de bom exemplo, boa pregação, bom ensino e boa controvérsia alcance a sua plena eficácia?
A sociedade humana pode ser considerada como um grande tecido esponjoso onde dentro dos alvéolos formam um labirinto. Se pegarmos uma esponja natural vemos que ela é composta por uma série de labirintos. Se molhássemos aquela esponja com uma seringa em vez de a atirarmos para um balde de água, notaríamos que se injetássemos água em certos buracos, toda a esponja ficaria mais facilmente molhada. Existem também alguns métodos de injeção que facilitam o processo.
A técnica de moldar a opinião pública consiste em analisar o labirinto do pensamento coletivo de uma sociedade e depois firmar-se no que ela tem de bom e atacar o que ela tem de ruim com esse bem. Através desta ação labiríntica, pode-se assim alcançar mais facilmente a vitória do bem.
Se a ação da seringa for bem-sucedida, cria-se um consenso, que aqui é diferente do que o mundo normalmente chama de consenso.
Os regimes totalitários são famosos por manipular a população através de propaganda
Se o consenso é fruto de órgãos de propaganda que atuam sobre a opinião pública, impedindo-a de forma sub-reptícia de conhecer algumas verdades e desfigurar outras, anestesiando a vontade de agir e de falar para criar um estado de espírito mórbido, então este é um mau consenso.
Pior ainda é um consenso ecumênico. É a ilusão de que podemos chegar a um consenso criando uma adesão insincera de todas as partes a uma posição intermediária. Isto não é um consenso; não obstante, é o que o progressismo considera como consenso. É um amortecimento hipócrita da verdade e do erro para professar uma opinião que no fundo ninguém aceita verdadeiramente.
Postado em 29 de janeiro de 2024
- Estas foram as palavras de Pio XII: “O povo e uma multidão disforme (ou, como é chamada, “as massas”) são dois conceitos distintos. O povo vive e se move pela sua própria energia vital; as massas são inertes por si mesmas e só podem ser movidas de fora. O povo vive da plenitude de vida dos homens que o compõem, cada um dos quais – no seu devido lugar e à sua maneira – é uma pessoa consciente da sua própria responsabilidade e dos seus próprios pontos de vista. As massas, pelo contrário, esperam o impulso externo, um brinquedo fácil nas mãos de quem explora os seus instintos e impressões; pronto para seguir por sua vez, hoje esta bandeira, amanhã outra. Da vida exuberante de um povo verdadeiro, uma vida rica e abundante se difunde no Estado e em todos os seus órgãos, incutindo-lhes com um vigor que se renova sempre, a consciência da própria responsabilidade, o verdadeiro instinto do bem comum. O poder elementar das massas, habilmente gerido e utilizado, o Estado também pode utilizar: nas mãos ambiciosas de um ou de vários que foram artificialmente reunidos para fins egoístas, o próprio Estado, com o apoio das massas, reduzido a o estatuto mínimo de uma mera máquina, pode impor os seus caprichos à melhor parte das pessoas reais: o interesse comum permanece gravemente, e durante muito tempo, ferido por este processo, e a lesão é muitas vezes difícil de curar.”
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