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Ao se Rebelar contra as Obrigações de seu Cargo, um Papa cai no Cisma

A TIA traz hoje aos nossos leitores um texto do Card. Charles Journet comentando uma opinião do Pe. Thomas Caietano, OP, (1469-1534). Este último afirmou que um Papa que se rebela contra as obrigações de seu cargo e se recusa a dar à Igreja a orientação espiritual que ela tem o direito de receber dele, incorre em cisma.

Nós nos perguntamos se este é o caso de Francisco, que se recusa a usar os símbolos e títulos do Papado. Ele também está substituindo o cuidado espiritual que os fiéis deveriam receber dele por um cuidado ecológico.

Card. Charles Journet (1891-1975)

“1. Os antigos teólogos (Torquemada, Caietano, Bañez), que pensavam, de acordo com o Decreto‖ de Graciano (parte I, dist. XV, c. VI), que o Papa infalível como Doutor da Igreja, podia entretanto pessoalmente pecar contra a fé e cair em heresia (ver L’Eglise du Verbe Incarne, t. I, p. 596), com maior razão admitiam que o Papa podia pecar contra a caridade, mesmo enquanto esta realiza a unidade da comunhão eclesiástica, e assim cair no cisma (1).

“A unidade da Igreja, segundo eles diziam, subsiste quando o Papa morre. Portanto, ela poderia subsistir também quando um Papa incidisse em cisma (Caietano, II-II, q. 39, a. 1, n.º VI).

Eles se perguntavam, entretanto, de que maneira pode o Papa tornar-se cismático. Pois ele não pode separar-se nem do chefe da Igreja, isto é, de si próprio, nem da Igreja, porque onde está o Papa, está a Igreja.

“A isso Caietano responde que o Papa poderia romper a comunhão renunciando a comportar-se como chefe espiritual da Igreja, decidindo por exemplo agir como mero príncipe temporal. Para salvar sua liberdade, ele fugiria assim aos deveres de seu cargo; e se fizesse isso com pertinácia, haveria cisma (2). Quanto ao axioma "onde está o Papa está a Igreja," vale quando o Papa se comporta como Papa e chefe da Igreja; em caso contrário, nem a Igreja está nele, nem ele na Igreja (Caietano, ibid.).

“2. Diz-se às vezes que o Papa, não podendo desobedecer, tem apenas uma porta de entrada para o cisma (3). Das análises a que procedemos resulta, pelo contrário, que também ele pode pecar de duas maneiras contra a comunhão eclesiástica:
  1. Quebrando a unidade de conexão, o que suporia de sua parte a vontade de se subtrair à invasão da graça enquanto esta é sacramental, e realiza a unidade da Igreja;

  2. Quebrando a unidade de direção, o que se produziria, conforme a penetrante análise de Caietano, se ele como pessoa privada se rebelasse conta os deveres de seu cargo e recusasse à Igreja (tentando excomungá-la toda ou simplesmente resolvendo, de modo deliberado, viver como mero Príncipe temporal) a orientação espiritual que ela tem o direito de esperar dele em nome de Alguém que é maior do que ele: do próprio Cristo e de Deus” (4).
  1. Em nota de rodapé, o Card. Journet faz a seguinte observação: “Essa possibilidade não é admitida universalmente. Não obstante, afirma MJ Congar, “considerado de uma forma puramente teórica, não parece duvidoso” (Dictionnaire de Theologie Catolique, artigo 'Schisme', col. 1306). É o que ensina Suarez (De Caritate, disp. 12, sect. I, n. 2, t. XII, p. 733)”.
  2. Em nota de rodapé, o Card. Journet cita o texto Latino de Caietano, que traduzimos: “A pessoa do Papa pode recusar-se a submeter-se às [obrigações] do encargo Papal (...). E se ele fizesse isso com pertinácia de espírito, ele se tornaria cismático ao se separar da unidade da cabeça. Com efeito, sua pessoa está vinculada, diante de Deus, pelas leis de sua responsabilidade (ibid.).”
  3. Em nota de rodapé, o Card. Journet cita um tópico do texto de Suarez que citamos acima, e faz o seguinte comentário: “Segundo Suarez, o Papa, portanto, não poderia pecar contra a unidade de direção. Mas apresenta como exemplo o que consideramos justamente um pecado contra a unidade de direção”.
  4. Card. Charles Journet, L’Eglise du Verbe Incarne, Bruges: Desclee, 1962, vol. II, pp. 839-840.

(Arnaldo V.X. Silveira, A Hipótese Teológica de um Papa Herege,
disponível aqui, p. 36)

Postado em 11 de setembro de 2021


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