Virtudes Católicas
Caminhos Verdadeiros e Falsos para a Felicidade - IV
O Conceito de Inocência Primeva
A inocência é um conceito que não é apenas negativo. Costuma-se dizer que uma consciência limpa traz felicidade, e isso é verdade. Mas é preciso ir mais longe e descrever a inocência primeva de uma alma.
Nocens é um adjetivo Latino que significa prejudicial. Innocens, portanto, é o oposto, significa não ofensivo, não prejudicial. Uma coisa prejudicial é algo que faz o mal. Isso nos leva a perguntar: a inocência nada mais seria do que ser inofensiva, assim como sem cor significa não ter cor? É claro que o significado etimológico é este. Mas existe uma inocência mais plena, que vai além do simplesmente não prejudicial, vai além de não fazer o mal.
Então, o que é inocência? É um privilégio da infância? Um estado proibido para adultos? Simplesmente não é pecar por falta de idade ou condições? Um estado meramente negativo, que consiste apenas em não fazer algo?
Inocência: a harmonia de todas as faculdades da alma
A criança ignora as leis da transmissão da vida, razão pela qual na linguagem atual a criança é considerada inocente. Quando um adulto é acusado de um crime que não cometeu, é considerado inocente. Esses são os usos corretos do termo.
No entanto, pode-se entender a expressão inocência primeva em um significado específico que vai além do significado usual e se aplica a todas as idades.
O homem de qualquer idade é inocente quando adere ao primeiro estado de espírito de equilíbrio e temperança com que foi criado; por isso ele permanece aberto a toda forma de justiça e ao maravilhoso.
A inocência é uma harmonia interna de todas as faculdades da alma. Por causa dessa harmonia, o homem tem uma noção fácil e imediata das coisas como deveriam ser e, portanto, do modelo ideal de todas as coisas.
Este conceito de inocência, portanto, vai muito além do uso atual da palavra. Não se trata apenas de não fazer o mal, mas, sobretudo, de aderir fortemente à harmonia do Verdadeiro, do Bem e do Belo. O homem inocente é aquele que não pecou contra o seu primeiro estado de espírito de equilíbrio e harmonia e, por isso, permanece aberto a todas as formas do maravilhoso e tem apetite por elas.
A posição da alma do homem inocente é como a de quem, por assim dizer, acaba de deixar as mãos de Deus. Essa inocência é quase a inocência da mão de Deus. É um estado de conteúdo na relação da alma com Deus, que necessitaria de estudos especiais no terreno filosófico e depois no campo teológico.
Visto que existe a tendência de considerar a inocência primeva como algo que diz respeito principalmente à infância, será útil analisar a expressão nas diferentes fases da vida de um homem. Este primeiro conhecimento das coisas tem profundidades racionais surpreendentes, bem como percepções não racionais surpreendentes. Não é bem compreendido como essas características coexistem. Mas, na verdade, elas funcionam juntas perfeitamente.
Inocência e as diferentes fases da vida
A marcha da inocência na vida tem várias fases. Primeiro, há uma fase de brinquedo; depois a criança desperta para os encantos (e riscos) da sociabilidade. Mais tarde, chega-se à idade adulta e, finalmente, ao ocaso da vida e da morte. Sendo assim, podemos adotar uma designação mnemônica: 'meus brinquedos; meus amigos; minha carreira e muito mais.'
Primeira etapa: A criança, até certa idade, presta muito mais atenção aos objetos que a rodeiam do que às pessoas que a rodeiam.
Segunda etapa: Em um determinado momento, outros aparecem no horizonte, sua psicologia, sua alma. “Outros,” neste caso, são os meninos ou meninas com quem ela brinca, e não o pai ou a mãe.
A criança nasce com a necessidade de conhecer outras pessoas, de estabelecer comparações e diferenças entre ela e elas.
Em determinado momento, os companheiros falam muito mais com ele do que o brinquedo. O brinquedo é substituído pelo outro menino ou meninos e se torna muito mais do que aquilo com que brincam. O instinto de sociabilidade se abre.
Terceira etapa: Nessa fase, o que domina o indivíduo é a ideia de fazer algo nesta Terra. A pessoa começa a pensar na sua biografia, o que ela quer, o que vai acontecer com ela, o que ela vai ser. É um novo horizonte que lhe dá uma ideia arquitetônica de si e do tempo que a espera, mas onde tende a se dissociar daqueles primeiros pássaros e borboletas.
Por outro lado, a inocência também pode culminar em algo. Seria como a seta da Igreja de Notre Dame, apontando para cima.
Quarta etapa: toda a existência é um modelo que Deus está fazendo, ao qual cada um pode resistir ou aceitar, para que se torne semelhante a ele. No momento final, Deus concede à pessoa uma última chance de ser como ele.
Se ele aceitar, ele vai para o Céu e é bem-vindo por toda a eternidade. Se ele se recusar, ele será rejeitado por Deus para sempre.
Toda a biografia de uma pessoa é a modelagem a partir dessa primeira imagem recebida na infância e desenvolvida ao longo de sua existência até chegar à imagem final. Entre essa primeira imagem e a última, passa a vida de cada pessoa.
Depois de apresentar essa visão geral, passaremos a considerar as venturas e aventuras da inocência em cada um dos estágios listados acima.
Continua
Nocens é um adjetivo Latino que significa prejudicial. Innocens, portanto, é o oposto, significa não ofensivo, não prejudicial. Uma coisa prejudicial é algo que faz o mal. Isso nos leva a perguntar: a inocência nada mais seria do que ser inofensiva, assim como sem cor significa não ter cor? É claro que o significado etimológico é este. Mas existe uma inocência mais plena, que vai além do simplesmente não prejudicial, vai além de não fazer o mal.
Então, o que é inocência? É um privilégio da infância? Um estado proibido para adultos? Simplesmente não é pecar por falta de idade ou condições? Um estado meramente negativo, que consiste apenas em não fazer algo?
Inocência: a harmonia de todas as faculdades da alma
A criança ignora as leis da transmissão da vida, razão pela qual na linguagem atual a criança é considerada inocente. Quando um adulto é acusado de um crime que não cometeu, é considerado inocente. Esses são os usos corretos do termo.
No entanto, pode-se entender a expressão inocência primeva em um significado específico que vai além do significado usual e se aplica a todas as idades.
Adão sendo moldado por Deus
A inocência é uma harmonia interna de todas as faculdades da alma. Por causa dessa harmonia, o homem tem uma noção fácil e imediata das coisas como deveriam ser e, portanto, do modelo ideal de todas as coisas.
Este conceito de inocência, portanto, vai muito além do uso atual da palavra. Não se trata apenas de não fazer o mal, mas, sobretudo, de aderir fortemente à harmonia do Verdadeiro, do Bem e do Belo. O homem inocente é aquele que não pecou contra o seu primeiro estado de espírito de equilíbrio e harmonia e, por isso, permanece aberto a todas as formas do maravilhoso e tem apetite por elas.
A posição da alma do homem inocente é como a de quem, por assim dizer, acaba de deixar as mãos de Deus. Essa inocência é quase a inocência da mão de Deus. É um estado de conteúdo na relação da alma com Deus, que necessitaria de estudos especiais no terreno filosófico e depois no campo teológico.
Visto que existe a tendência de considerar a inocência primeva como algo que diz respeito principalmente à infância, será útil analisar a expressão nas diferentes fases da vida de um homem. Este primeiro conhecimento das coisas tem profundidades racionais surpreendentes, bem como percepções não racionais surpreendentes. Não é bem compreendido como essas características coexistem. Mas, na verdade, elas funcionam juntas perfeitamente.
Inocência e as diferentes fases da vida
A marcha da inocência na vida tem várias fases. Primeiro, há uma fase de brinquedo; depois a criança desperta para os encantos (e riscos) da sociabilidade. Mais tarde, chega-se à idade adulta e, finalmente, ao ocaso da vida e da morte. Sendo assim, podemos adotar uma designação mnemônica: 'meus brinquedos; meus amigos; minha carreira e muito mais.'
Primeira etapa: A criança, até certa idade, presta muito mais atenção aos objetos que a rodeiam do que às pessoas que a rodeiam.
Crianças medievais brincando
A criança nasce com a necessidade de conhecer outras pessoas, de estabelecer comparações e diferenças entre ela e elas.
Em determinado momento, os companheiros falam muito mais com ele do que o brinquedo. O brinquedo é substituído pelo outro menino ou meninos e se torna muito mais do que aquilo com que brincam. O instinto de sociabilidade se abre.
Terceira etapa: Nessa fase, o que domina o indivíduo é a ideia de fazer algo nesta Terra. A pessoa começa a pensar na sua biografia, o que ela quer, o que vai acontecer com ela, o que ela vai ser. É um novo horizonte que lhe dá uma ideia arquitetônica de si e do tempo que a espera, mas onde tende a se dissociar daqueles primeiros pássaros e borboletas.
Por outro lado, a inocência também pode culminar em algo. Seria como a seta da Igreja de Notre Dame, apontando para cima.
Quarta etapa: toda a existência é um modelo que Deus está fazendo, ao qual cada um pode resistir ou aceitar, para que se torne semelhante a ele. No momento final, Deus concede à pessoa uma última chance de ser como ele.
Se ele aceitar, ele vai para o Céu e é bem-vindo por toda a eternidade. Se ele se recusar, ele será rejeitado por Deus para sempre.
Toda a biografia de uma pessoa é a modelagem a partir dessa primeira imagem recebida na infância e desenvolvida ao longo de sua existência até chegar à imagem final. Entre essa primeira imagem e a última, passa a vida de cada pessoa.
Depois de apresentar essa visão geral, passaremos a considerar as venturas e aventuras da inocência em cada um dos estágios listados acima.
Continua
Postado em 18 de outubro de 2021