Em sua meditação sobre a Sagrada Eucaristia, Santo Inácio escreve: “O que dirão os Anjos do Céu, que conhecem tão bem tanto a extrema liberalidade de Cristo quanto a excessiva estreiteza do seu coração?”
Isso é algo que deveria nos confundir. Será que prestamos atenção ao fato de que os mais altos Anjos do Céu não têm o tipo de união com Nosso Senhor que temos quando recebemos a Sagrada Eucaristia? Um Anjo não pode receber a Eucaristia. Ele não tem corpo. Ele tem a visão beatífica; ele vê Deus face a face; ele é inundado com todas as graças do Céu, mas não tem o Santíssimo Sacramento.
 Anjos adorando Nosso Senhor na elevação da Hóstia
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Já pensamos nessas coisas? Já consideramos que os Anjos do Céu nos olham com inveja, por assim dizer, porque temos essa graça. Não deveríamos, então, receber essa graça com mais respeito e mais preparação?
Quando alguém recebe a Sagrada Comunhão, vê apenas um pequeno pedaço redondo de farinha e água. Mas nossa Fé Católica nos ensina que todos os Anjos e Santos do Céu, que adoram continuamente cada partícula do Santíssimo Sacramento que existe na Terra, testemunham nossas Comunhões com cânticos e louvores a Nosso Senhor. Nossa Senhora também louva Nosso Senhor porque Ele se entrega a cada um que O recebe. Todo o Céu está olhando e pedindo a Nosso Senhor que ajude a pessoa que recebe a Sagrada Eucaristia.
Deve ser muito encorajador para nós, quando recebemos a Comunhão, perceber que todo o Céu está nos observando e rezando por nós. Se eu pudesse usar a palavra, diria que todo o Céu está "torcendo" por nós, pedindo a Nossa Senhora que tenha piedade de nós, que nos ajude. Que alegria e beleza há na cena de uma única Comunhão!
Se meditássemos sobre isso antes de receber a Comunhão, não nos comunicaríamos com mais esperança, confiança e alegria? Claro que sim. Portanto, cabe a nós mantermos essas coisas em mente enquanto preparamos nossas almas para receber a Comunhão.
Este exercício de Santo Inácio é tão profundo, tão rico, que cada parte do texto poderia ser estendida em um comentário muito mais amplo. Mas, como Santo Inácio o apresenta esquematicamente, sigo seu método e me limito ao que acredito ser indispensável para a sua formação.
Nossa ingratidão nos confunde
Santo Inácio então diz: “Os senhores devem se confundir com a sua ingratidão; os senhores devem também lembrar que os benefícios que recebem definem a medida dos castigos que virão sobre os senhores se não corresponderem a eles. Os senhores devem dar tudo Àquele que lhes dá tudo sem reservas. Deem graças ao Senhor por tão grande magnificência demonstrada aos senhores peçam a Ele que lhes dê um novo coração e um novo espírito para estimá-Lo e corresponder a Ele como os senhores devem.”
Este é um pensamento muito profundo. Ele diz estas palavras: “Os senhores deveriam ficar confundidos por sua ingratidão.” Ou seja, deveríamos pensar em nossas comunhões passadas e ficar confusos diante de nossa ingratidão.
 São Jerônimo recebendo sua última Comunhão |
Qual é o significado geral de “estar confuso”? É não saber o que dizer, não ter palavras para nos expressar. Mas observe bem o que é estar confuso na doutrina católica. É estar confuso, mas também cheio de confiança, como alguém que se ajoelha aos pés de Nosso Senhor e diz:
“Meu Senhor, não encontro palavras para falar a Ti. Vejo que me desviei, mas confio em Ti porque Tu és a solução para tudo. Tu és o Caminho, a Verdade e a Vida. Como Santa Maria Madalena, prostro-me aqui a teus pés com os meus pecados. Confiando em ti, sei que não me rejeitarás nem me abominarás.
“Com confiança, peço-te que me mudes, que me emendes. Já que Tu és Aquele que emenda tudo e cura a todos, cura-me e emende-me também. Estou aqui como o cego, o paralítico, o leproso do Evangelho. Cura-me destas doenças da alma como curaste as doenças do corpo daqueles homens.” Pela intercessão de Vossa Mãe, que nunca Vos negou nada e a quem Vós nada negais, eu Vos suplico, curai-me.”
Isto é o que significa estar confuso, uma confusão confiante, uma perplexidade repleta de esperança de sermos ajudados. Este é o tipo de confusão que devemos ter diante do Santíssimo Sacramento. É assim que devemos receber a Comunhão.
Para mudar o nosso espírito
Santo Inácio também recomenda que peçamos a Deus que mude o nosso espírito. Nosso Senhor pode mudar o espírito de um homem de um momento para o outro. A história registra muitos casos de conversões repentinas. Ele também pode mudar o espírito de um homem lentamente, passo a passo, ao longo de um período de muitos anos.
Se pedirmos a Nosso Senhor todos os dias, ao recebermos a Comunhão, que nos converta, que nos mude, um dia Ele o fará. Diz-se que São Francisco de Sales – não tive tempo de confirmar a história – dava a Comunhão todos os dias a um homem que se confessava diariamente com o Santo. Esse homem era muito fraco e caía repetidamente nos mesmos pecados. São Francisco o absolveu e deu-lhe a Comunhão todos os dias durante aqueles 30 anos. Ao final desse tempo, o homem se corrigiu e viveu uma vida exemplar.
Como isso aconteceu? Foi através da Sagrada Eucaristia que ele a recebeu com santa confusão, com confiante perplexidade. A cada dia, aquele homem melhorava um pouco, se elevava um pouco. Por quê? Porque a Sagrada Eucaristia é a alma da nossa vida espiritual; é o centro e o foco da nossa vida espiritual. É assim que devemos considerar a Comunhão que recebemos.
Continua
Extraído dos registros pessoais de Atila S. Guimarães,
resumido e traduzido para o site da TIA Postado em 15 de setembro de 2025

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