Ambientes e Tendências
O Anjo da Guarda é menos Inteligente
que o Demônio?
A Igreja ensina que Deus criou os Anjos muito superiores a nós. Com inteligência lúcida e grande poder, esses espíritos puros por sua natureza superam até os homens mais dotados. Com sua revolta, os anjos maus perderam sua virtude, mas não sua inteligência ou poder. Habitualmente Deus restringe suas ações – às vezes mais, às vezes menos – de acordo com os desígnios de Sua Providência. Mas, por si mesmos e de acordo com sua natureza, esses anjos maus continuam a ser muito superiores ao homem.
Por isso, a Igreja sempre aprovou artistas que retratam o Demônio como um ser inteligente, sagaz, astuto e poderoso, mas cheio de malícia em todas as suas tramas. Ela até aprovou que essa arte apresentasse o Demônio como um ser com encantos fascinantes, para significar que o espírito das trevas pode assumir formas atraentes para seduzir os homens.
* * *
Em nosso primeiro clichê, temos um exemplo dessa apresentação do demônio. Mefistófeles, com o semblante agudo e astuto de um psicólogo cheio de lábia, sugere suaves e profundos pensamentos de perdição ao sonhador Doutor Fausto, que está descansando em sua cadeira.
Esse tipo de representação tornou-se tão frequente que o demônio dificilmente é imaginado de outra forma.
Tudo isso é, como dissemos, perfeitamente ortodoxo.
* * *
O que podemos fazer de uma certa iconografia dos Anjos bons?
Eles nos são mostrados como seres eminentemente bem-intencionados, felizes e sinceros. Tudo isso está em conformidade com a santidade, bem-aventurança e pureza que eles possuem no mais alto grau.
Mas, essas representações são excessivas. Ao tentar acentuar, por um lado, a bondade e pureza dos Anjos fiéis e, por outro, sem saber expressar sua inteligência, sua força e sua admirável majestade, essas representações retratam, ao invés, seres insípidos e sem valor.
Nosso segundo clichê mostra uma criança atravessando um riacho em uma ponte. Um Anjo da Guarda a protege. O quadro, comum e despretensioso, não deixa de suscitar legítimas simpatias, pois evoca agradavelmente um panorama campestre com o campanário da aldeia ao fundo, uma cena impregnada de inocência da vida que se conserva mais facilmente no campo do que nas cidades. Ao mesmo tempo, traz à tona a comovente ideia de uma criança que segue seu caminho despreocupado, protegida por um Príncipe celestial, que a acolhe carinhosamente.
Mas, consideremos a face deste Príncipe: não parece ele completamente carente daquela força, daquela inteligência, daquela intensidade e daquela sutileza própria da natureza angélica e com a qual Satanás sempre é representado? Prestemos atenção ao corpo atribuído ao Anjo bom: uma atitude suave, fluida e pouco inteligente. Comparemos com a figura esbelta e ágil e a fisionomia altamente expressiva de Mefistófeles: pode haver maior diferença?
Em tudo isso surge uma séria desvantagem. Representando insistentemente o Demônio como inteligente, vivo e capaz, e sempre representando os Anjos bons como seres suaves, inexpressivos e quase tolos – como faz certa iconografia açucarada – que impressão isso causa na alma das pessoas? A impressão de que a virtude produz seres rasos e de aparência estúpida e, ao contrário, o vício forma espíritos inteligentes e viris.
Nisto encontramos outro aspecto daquela doçura sentimental que o romantismo exerceu tão profundamente, e ainda continua a exercer, em muitos meios religiosos.
Em nosso primeiro clichê, temos um exemplo dessa apresentação do demônio. Mefistófeles, com o semblante agudo e astuto de um psicólogo cheio de lábia, sugere suaves e profundos pensamentos de perdição ao sonhador Doutor Fausto, que está descansando em sua cadeira.
Esse tipo de representação tornou-se tão frequente que o demônio dificilmente é imaginado de outra forma.
Tudo isso é, como dissemos, perfeitamente ortodoxo.
O que podemos fazer de uma certa iconografia dos Anjos bons?
Eles nos são mostrados como seres eminentemente bem-intencionados, felizes e sinceros. Tudo isso está em conformidade com a santidade, bem-aventurança e pureza que eles possuem no mais alto grau.
Mas, essas representações são excessivas. Ao tentar acentuar, por um lado, a bondade e pureza dos Anjos fiéis e, por outro, sem saber expressar sua inteligência, sua força e sua admirável majestade, essas representações retratam, ao invés, seres insípidos e sem valor.
Mas, consideremos a face deste Príncipe: não parece ele completamente carente daquela força, daquela inteligência, daquela intensidade e daquela sutileza própria da natureza angélica e com a qual Satanás sempre é representado? Prestemos atenção ao corpo atribuído ao Anjo bom: uma atitude suave, fluida e pouco inteligente. Comparemos com a figura esbelta e ágil e a fisionomia altamente expressiva de Mefistófeles: pode haver maior diferença?
Em tudo isso surge uma séria desvantagem. Representando insistentemente o Demônio como inteligente, vivo e capaz, e sempre representando os Anjos bons como seres suaves, inexpressivos e quase tolos – como faz certa iconografia açucarada – que impressão isso causa na alma das pessoas? A impressão de que a virtude produz seres rasos e de aparência estúpida e, ao contrário, o vício forma espíritos inteligentes e viris.
Nisto encontramos outro aspecto daquela doçura sentimental que o romantismo exerceu tão profundamente, e ainda continua a exercer, em muitos meios religiosos.
"Catolicismo" n. 41 - maio de 1954
Postado em 4 de abril de 2022
Postado em 4 de abril de 2022
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