Em todo o Evangelho existe uma triste realidade: a maneira terrena como os homens encararam a mensagem divina que nos foi dada por nosso Salvador. Aos incrédulos de todos os tempos, aplicam-se as seguintes palavras do Filho de Deus a Nicodemos: “Se vos tenho falado das coisas terrenas, e não me acreditais, como me acreditareis, se vos falar das celestes? (Jo 3:12).
Em nossa época, muitos são os que tentam dessacralizar e desmitificar a Igreja, colocando a vida eterna entre parênteses para buscar principalmente o desenvolvimento socioeconômico. Fazendo isso, eles esquecem a lição dos Evangelhos sobre as coisas terrenas; ao mesmo tempo, fazem um abismo entre si e as coisas celestiais, que representa o próprio cerne da mensagem que Nosso Senhor Jesus Cristo transmitiu ao mundo.
Nosso Senhor abençoou os pobres de espírito, não apenas a pobreza como condição social - Sermão da Montanha de Fra Angélico |
O tema por excelência que preocupa os Católicos progressistas é a chamada reforma das estruturas, por meio da qual desejam implantar o igualitarismo social e econômico. Não se preocupam em difundir as virtudes, mas ocupam-se com as coisas deste mundo para chegar a um sistema de propriedade e serviços comunais. Para implantar um Estado socialista ou comunista, uma de suas medidas mais urgentes é destruir o regime capitalista, que se baseia na desigualdade econômica entre os homens, na propriedade privada, nas diferentes classes, salários e lucros, bem como na livre disposição dos bens e sua transmissão por herança.
Nestes artigos queremos mostrar que o Progressismo, o Socialismo e o Comunismo vão contra não apenas os pressupostos do regime capitalista, mas qualquer ordem social e econômica baseada no Direito Natural.
Lembre-se da fábula de La Fontaine sobre o urso e as moscas. O urso faz amizade com um velho. Enquanto o velho dorme, o urso afasta as moscas, caso elas o incomodem. Ele acaba matando seu protegido ao acertar uma mosca particularmente incômoda do nariz do velho com uma pedra. Vemos que a pretexto de espantar as moscas - os abusos do Capitalismo – O Progressismo usa o Socialismo como o urso usou a pedra para esmagar a cabeça dos pobres a quem pretende ajudar.
Desapego dos bens terrenos
Vamos primeiro mostrar como Nosso Senhor pregou o desapego dos bens terrenos. Ele nos ensinou:
- “Não acumuleis para vós tesouros da terra” (Mt 6: 19);
- “Não vos preocupeis, nem com a vossa vida, acerca do que haveis de comer, nem com o vosso corpo, acerca do que haveis de vestir.” (Mt 6: 25);
- “Buscai pois, em primeiro lugar, o reino de Deus e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão dadas por acréscimo” (Mt 6: 33).
O Socialismo finge cuidar dos pobres, mas na verdade é outra forma da velha Gnose |
Ele nos ensinou que não devemos nos preocupar excessivamente com nossa comida, bebida ou roupa, que é característica dos pagãos e das pessoas do mundo (Lc 12: 29-30). Contra os que entregam o coração à busca dos bens terrenos ou os utilizam de maneira que desagrada a Deus, Ele lançou as seguintes maldições: “Mas ai de vós, ó ricos! porque tendes a vossa consolação. Ai de vós os que estais saciados! porque vireis a ter fome. Ai de vós o que agora rides! porque gemereis e chorareis” (Lc 6, 24-25).
Comentando o episódio do jovem rico que não o seguiu por causa dos seus muitos bens, Nosso Senhor disse aos seus discípulos: “Meus filhos, quanto é difícil é entrarem no reino de Deus os que confiam nas riquezas! Mais fácil é passar um camelo pelo orifício de uma agulha, do que um rico entrar no reino de Deus” (Mc 10, 24-25).
Na verdade, é uma tendência geral colocar a confiança na riqueza: quem a tem, quer mais; e aqueles que não tem, querem ter. Essa “confiança nas riquezas” é o mal a que Nosso Senhor alude no Sermão da Montanha quando louva os pobres de espírito.
A avareza é filha desta falta de confiança em Deus: “Guardai-vos e acautelai-vos de toda a avareza, porque a vida de cada um, ainda que esteja na abundância, não depende dos bens que possui.” (Lc 12,15). Nosso Senhor disse ao homem rico que construiu celeiros maiores para armazenar mais alimentos: “Néscio, esta noite te virão demandar a tua alma; e as coisas que juntaste, para quem serão? Assim é o que entesoura para si e não é rico para Deus” (Lc 12, 20-21).
É bom sublinhar que no Sermão da Montanha Nosso Senhor não diz simplesmente “Bem-aventurados os pobres,” mas “Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus” (Mt 5, 3). Essa pobreza de espírito se refere ao desapego e indiferença que devemos ter e exercer em relação aos bens terrenos. Todos os nossos bens terrenos e espirituais devem ser encaminhados a Deus e usados como instrumentos para alcançar a salvação eterna.
Quando a Gnose entra em cena?
Diferente dessa atitude equilibrada diante dos bens deste mundo é a terrível heresia da Gnose, que surgiu nos primeiros dias da Igreja. Em vez de condenar o uso desenfreado das riquezas, como a Igreja sempre fez ao interpretar infalivelmente os Evangelhos, os Gnósticos censuram a propriedade dos bens em si. Além disso, apresentam a pobreza não como um conselho evangélico a ser seguido por alguns, mas como uma condição a ser imposta a toda a humanidade.
Símbolos igualitários ocultos são encontrados nas diferentes Gnoses |
Uma consequência inevitável desta posição é que a Gnose - em todas as suas representações ao longo da História desde os tempos apostólicos até os nossos dias - foi sempre uma adepta do Socialismo e do Comunismo, tanto na sua forma aberta como disfarçada. Assim, desde os primeiros seguidores de Basilides e Carinthus até os Cristãos-Socialistas atuais, vemos a Gnose passando por todas as formas de perversões coletivistas.
As condenações que estão sendo feitas ao atual regime capitalista por Bispos e padres progressistas devem ser estudadas, portanto, à luz da história da Gnose, que está atingindo sua fase culminante com o Progressismo.
Já que os progressistas apresentam essa luta como uma exigência dos Evangelhos, vejamos o que a Nova Aliança nos ensina sobre os fundamentos da vida econômica.
Nosso Senhor diz claramente que Ele não veio para destruir a Lei e os Profetas, mas para cumpri-la, sem eliminar nem mesmo “um jota ou um ápice” deles (Mt 5: 17-18). Em vez disso, os Gnósticos não aceitam a Lei Natural nem os Dez Mandamentos que a codificaram. Eles professam um pessimismo manifesto para com toda a criação material, atribuindo à matéria todos os males do mundo. Por isso rejeitam a natureza humana de Jesus Cristo, isto é, recusam adorar a Sagrada Humanidade do Verbo Encarnado.
Fazemos essa distinção para ajudar nossos leitores, alertando-os para não aceitarem a pobreza contrabandeada do Vaticano II de que os progressistas estão tentando nos vender como se fosse verdadeiramente evangélico. Tenha o cuidado de dar à palavra pobreza seu significado correto, e não um significado ilusório e oculto que corresponda aos ideais do Gnosticismo.
Continua
Postado em 14 de outubro de 2020 Traduzido do Catolicismo, junho de 1971
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