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Questões Socio-políticas
Liberalismo, Socialismo, Feudalismo - IV
O Princípio da Subsidiariedade
Plinio Corrêa de Oliveira
Terminamos nosso último artigo perguntando como a Igreja Católica responderia ao dilema moderno do Liberalismo e do Socialismo.
A doutrina católica tem um princípio que foi frequentemente empregado na Idade Média obtendo os melhores resultados. Gradualmente, porém, sua prática foi sendo abandonada. É o princípio da subsidiariedade.
A raiz da palavra subsidiariedade é o latim subsiduum, a mesma raiz para subsídio, que é uma ajuda prestada a quem precisa. Por exemplo, uma cidade dá um subsídio à Santa Casa de Misericórdia para ajudá-la a construir uma nova ala em seu hospital, para que possa continuar a realizar o bom trabalho que faz pelos enfermos e pelos pobres. Oferece ajuda ou assistência financeira.
No passado, era comum que os filhos adultos permanecessem em casa |
O princípio da subsidiariedade pode ser denominado princípio da assistência. Baseia-se no fato de que cada homem deve fazer tudo o que puder por si mesmo, ou seja, deve prover seu sustento e sua família. Mas há coisas que um indivíduo não pode fazer sozinho. Nessas questões ele deve ser auxiliado, ele deve ser subsidiado – se assim posso chamá-lo – pela instituição social ou política acima dele, a família, associação, universidade, cidade, etc.
Para melhor entendimento, vamos a alguns exemplos.
Uma família tem muitos filhos que crescem e que ainda moram na casa dos pais até o casamento, embora sejam maiores de idade e tenham empregos. Eles fazem isso para economizar seus salários e ter algum capital. Posteriormente, eles podem usá-lo para formar uma família, abrir um negócio ou investir no negócio do pai, que é, suponhamos, criar cavalos em seu rancho.
Em vez de todos os filhos ficarem dispersos, cada um morando sozinho, pagando aluguel, comida, etc. eles continuam morando com seus pais. Os pais estão ajudando-os a formar um primeiro capital, que de outra forma talvez não conseguissem. Os pais estão aplicando o princípio da subsidiariedade com seus filhos.
O que acontece no nível de uma família normalmente ocorre também em uma escala maior: várias famílias vivem em torno de uma igreja, por exemplo. Cada família tem o dever de cuidar de sua propriedade. Mas à medida que outras famílias se juntam ao grupo e aquela minúscula célula urbana cresce, eles precisam eleger um prefeito que cuidará das vias públicas, calçadas, iluminação, abastecimento de água para casas sem poço, etc.
Os aldeões têm uma esfera de ação limitada, acima da qual precisam de um superior para ajudar |
Para a realização dessas obras, deve ser cobrado um imposto de cada família. Isso é para prover o bem comum daquela aldeia nascente, para serviços que nenhuma família poderia fazer sozinha e que o município consegue fornecer. Este é o princípio da subsidiariedade.
Por sua vez, a cidade conta com outra instituição de nível superior. Digamos que vários municípios de uma área se reúnam e decidam formar um Estado ou Província para atender aos interesses comuns que dizem respeito a todos. Eles precisam de uma estrada bem mantida para ligar suas aldeias e permitir que os produtos cheguem aos outros mercados; precisam estabelecer um serviço postal eficiente para facilitar a comunicação; se essas aldeias estão perto de uma rota de água, eles precisam comprar navios para exportar suas mercadorias para outros lugares.
Mais acima desta escala, esse princípio se aplica também ao país. Vários estados têm necessidades específicas que não podem atender individualmente. Então eles se unem para constituir uma Federação. Por isso nosso país se chamava Estados Unidos do Brasil, os Estados Unidos se chamam Estados Unidos da América, etc. O país garante aos estados benefícios que eles não podem ter por si próprios, como um poderoso Exército, Marinha e Força Aérea, relações exteriores eficientes com outros países, etc. A Federação visa auxiliar cada estado nas coisas que ele não pode fazer sozinho.
A partir daqui, pegamos elementos para nos ajudar a definir o princípio da subsidiariedade:
- O Estado não é um bloco homogêneo compacto, mas é constituído de membros vivos;
- Normalmente falando, esses membros devem ser autossuficientes em seu sustento;
- Essa autossuficiência tem certos limites;
- Isso leva à constituição de uma sociedade em forma de pirâmide, na qual há um equilíbrio cuidadoso entre liberdade e autoridade. Cada membro deve fazer tudo o que puder por si mesmo; e quando ele não puder fazer algo, ele poderá contar com o próximo degrau mais alto da pirâmide, que deve vir em seu auxílio.
Portanto, o princípio é ter tanta liberdade quanto possível na base e tanta autoridade quanto necessário para subir na escala. Desta forma, liberdade e autoridade são harmonizadas.
Este princípio é diferente do liberalismo? Segundo a noção básica do liberalismo, a autoridade é instituída principalmente para prevenir o crime, como vimos no primeiro artigo desta série. Somente em um segundo desenvolvimento o liberalismo admite autoridade para manter um governo, relações exteriores, um exército, etc. Ele não é criado com o objetivo principal de ajudar a vida social ou econômica dos corpos inferiores da sociedade. O princípio da subsidiariedade, pelo contrário, está essencialmente voltado para esse fim.
Proprietários de vinhedos querem oferecer suas safras a outros mercados |
Em que a subsidiariedade difere do socialismo? No regime socialista, todos dependem do Estado para tudo. Pelo contrário, de acordo com o princípio da subsidiariedade, cada um é o mais livre possível, ao mesmo tempo que dá a obediência que deve aos seus superiores. É uma posição perfeitamente equilibrada.
Este é o princípio da subsidiariedade, que não conduz ao liberalismo nem ao socialismo.
Esta posição é tão equilibrada que não podemos entender como alguém pode ser contra ela. É por isso que os revolucionários não falam sobre isso. Os socialistas e os liberais discutem soluções para os problemas sociais entre si como se esse princípio não existisse.
Nas encíclicas dos Papas é ensinado, sendo Pio XII o seu mais forte defensor. Alguns bons sociólogos católicos também estudam esse princípio. Mas, na prática, é quase universalmente ignorado, embora pudesse resolver a maioria dos problemas sociais que afligem o homem contemporâneo.
Se a subsidiariedade fosse aplicada, ela corrigiria os erros do liberalismo e do socialismo. Não leva à liberdade total nem à igualdade total pregada pela Revolução Francesa, porque esse princípio supõe uma hierarquia, uma escala. Também impõe limites naturais ao uso da autoridade. Ao domar assim tanto a liberdade quanto a autoridade, a subsidiariedade ultrapassa ambos os regimes.
É curioso que não haja mais interesse nisso. Observei que, quando pessoas instruídas discutem regimes sociais e políticos, fingem não ouvir se alguém levanta o princípio da subsidiariedade como solução. É assim que a Revolução tenta banir esse princípio.
O princípio da subsidiariedade, entretanto, foi amplamente aplicado na Idade Média e rendeu bons frutos. Trataremos desse tópico em nosso próximo artigo.
Continua
Postado em 27 de dezembro de 2021
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