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Série sobre Pureza – Parte V

O homem material vs. o homem espiritual

Plinio Corrêa de Oliveira

Alguém poderia levantar esta objeção: o senhor afirmou que todo povo que se entrega à imoralidade se deteriora do ponto de vista intelectual [ver Parte IV]. Isso se aplica também à Inglaterra? O senhor está nos dizendo que o país que produziu Shakespeare, o cerimonial da Corte Real, a Torre de Londres e o edifício do Parlamento não possui dons espirituais?

The Beatles

Pregando uma liberdade anárquica para as paixões, os Beatles tornaram-se ídolos de uma geração inteira
A resposta não é difícil. A partir do momento em que a Inglaterra se tornou protestante, uma torrente de imoralidade começou a fluir para ela. Primeiro, foi o divórcio; depois, abriu a porta para inúmeros outros tipos de imoralidade. Dado que a Inglaterra tinha muitos valores tradicionais fortes nascidos na Civilização Católica – a Monarquia Inglesa, cerimoniais solenes, grandes universidades e muitas outras instituições com longa história – a vida espiritual da Inglaterra continuou, alimentada por esses fatores. Mas a energia e a força do país foram corroídas por uma imoralidade crescente e incessante.

Hoje a Inglaterra é expressada muito mais por um jovem como os Beatles do que por um velho aristocrata ligado à Coroa. Este jovem tipo Beatles encontra seu paraíso na Inglaterra. É uma pessoa estúpida, suja, irracional, que vive de impulsos e dominada pela matéria. Ele é escravo dos próprios nervos, escravo da matéria. Isto se traduz como um homem cujo corpo impõe uma tirania sobre sua alma.

Isso explica a gigantesca explosão do fenômeno Beatles, que está tomando conta da geração nova e não deixará pedra sobre pedra na Inglaterra. Acredito que penetrou ainda mais na mentalidade inglesa do que na americana.

A impureza, portanto, diminui a influência do espírito no homem, tornando-o lento para agir, e dá prioridade à matéria. As Escrituras chamam esse tipo de homem de, animalis homo, um homem-animal. Ele age mais como um animal do que como um homem; ele perdeu inteiramente o sentido das coisas de Deus.

A slothful student

O estudante desinteressado inclina-se para a impureza
Numa sala de aula, o aluno impuro não presta atenção à palestra. Ele pega uma mosca e começa a brincar com ela: coloca-a no tinteiro e faz-a andar sobre uma folha de papel em branco. Ele faz maços de papel para jogar nos outros alunos, para provocá-los ou incomodá-los.

Lembro-me de quando era criança, o comportamento moral dos melhores alunos da turma era bom. Os piores eram aqueles que eram impuros. Eram os que permaneciam sentados no final da classe, que comiam ou bebiam quando o professor não os observava, que não tinham interesse pela matéria ensinada. O único momento em que esses alunos se interessaram era no recreio, quando acontecia o futebol. Muitos deles eram bons no futebol. Eles eram ótimos em brincar com os pés, mas ruins em usar a cabeça…

Estas são, infelizmente, as devastações da impureza. É por isso que quando a impureza domina, as civilizações sucumbem.

A força do homem espiritual

O oposto acontece com a pureza. Dá uma força de alma que faz o homem amar o que é espiritual e a sua própria dignidade. O espírito tem uma dignidade imensamente superior à da matéria. Nossa semelhança com os anjos vem através do espírito; estamos relacionados com os animais através da matéria. Isto explica porque o espírito é muito mais elevado que a matéria.

O homem espiritual gosta de pensar; sua vontade deleita-se em tomar decisões; tanto sua inteligência quanto sua vontade de lutar e dominar a matéria. Estas atitudes caracterizam o homem espiritual. Como gosta de dominar a matéria e mantê-la dentro de seus limites adequados, gosta de evitar que as fortes ondas de impureza o dominem.

Virgins in Paradise - Fra Angelico

Fra Angélico pinta as virgens do Paraíso com uma luz que vem de dentro
Disto vem a força do homem espiritual. Ele não despreza a matéria, porque a matéria é boa e foi criada por Deus. Portanto, ele sabe cuidar da saúde e obter o devido descanso e alimentação necessários ao “irmão corpo” – como costumava chamá-lo São Francisco de Assis. Ele sente um prazer razoável nas coisas.

Mas tal prazer tem limite, pois ele sabe que foi concebido no pecado original e que o corpo está sempre querendo coisas que não deveria ter. Às vezes tem vontade de comer demais, outras vezes de beber demais, outras ainda, de dormir mais do que o necessário, de ouvir música sem parar, de sentir muito prazer com perfumes, e assim por diante. A todo momento o corpo pede o que está além da devida medida. O homem espiritual sabe como manter seu corpo dentro dos limites legítimos.

Para atingir esse objetivo, sua luta principal é feita contra o mais baixo dos sentidos. Não me entenda mal, por favor, não estou censurando o sentido do tato per se. Estou dizendo que é preciso lutar contra os transtornos que ocorrem nesse sentido.

A melhor maneira de um homem vencer esta luta é manter o estado de perfeita castidade. Se um homem permanecer inteiramente casto, recusando qualquer ocasião de ceder à impureza – nunca consentindo com um mau pensamento ou uma má aparência – ele está em excelentes condições para fazer seu espírito triunfar sobre a matéria. Fazendo isso, ele merece glória, a glória de um homem que brilha com nobreza de espírito.

É por isso que a Igreja Católica dá grande importância à virgindade. Quando alguém diz: “Essa senhora é virgem,” o que ele está elogiando nela? Ele está elogiando como ela ordenou seu espírito e admirando como ela domesticou e dominou suas tendências desenfreadas. Ela se tornou um espírito, por assim dizer, leve e transparente.

Em seus quadros, Fra Angélico pintou as virgens brilhando com uma clareza que vem de dentro e ilumina o exterior. Por que? Porque o espírito é luminoso, enquanto a matéria é opaca. Ele quer representar esta translucidez radiante do espírito.

Continua
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Blason de Charlemagne
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Esta palestra para jovens proferida em 1967 foi traduzida da
transcrição de uma fita e adaptada para esta série de artigos de A. S. Guimarães

Postado em 23 de outubro de 2023

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